Com voo tripulado previsto para 2021, NASA assegura primeira missão da Orion para 2023

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A cápsula espacial Orion, da NASA, passou um marco muito importante, permitindo à agência espacial Norte-americana assumir um compromisso ao nível técnico, de custo e de calendarização.

Ultrapassado o denominado processo Key Decision Point -C (KDP-C), e enquanto que a primeira missão tripulada da Orion permanece prevista para 2021, a NASA optou por definir uma data ‘nunca mais tarde do que’ 2023, permitindo assim uma contingência caso surjam problemas orçamentais ou de natureza técnica.

O caminho da Orion para o seu voo

Z513O caminho da Orion já foi longo. Baseado no potencial do primeiro voo tripulado ter lugar em 2023, o veículo espacial terá um custo de cerca de 15 mil milhões de Euros. Vários mil milhões de Euros referem-se ao papel da Orion como Crew Exploration Vehicle (CEV), um veículo que teve uma infância problemática através de uma série de alterações ao longo da sua vida inicial como parte do Constellation Program (CxP). Enquanto que as alterações foram parte da evolução natural de qualquer novo veículo, os principais desafios foram associados com o foguetão lançador com o qual deveria ser colocada em órbita, o Ares-I. Tendo ‘reservas de massa’ como um bónus, as falhas na performance do Ares-I levaram a que a cápsula Orion tivesse de perder peso numa série de exercícios, levando quase de forma imediata a que o CEV visse o seu diâmetro reduzido em 0,5 metros. Logo de seguida, o seu módulo de serviço teve de perder quase 50% da sua massa inicial.

Recebendo o nome ‘Orion’, aos engenheiros da Lockheed Martin – o principal fabricante – foi dito para reduzirem ainda mais a massa da cápsula espacial, resultando num abate na quantidade de prepolente que o veículo iria transportar nas missões para a estação espacial internacional – o papel inicial da Orion (e até mesmo nos nossos dias, tal como foi citado numa conferência de imprensa da NASA, como uma potencial opção). No que pareceu uma interminável série de requisitos, a Orion perdeu a sua capacidade de utilizar um sistema de «air bags» para descer Z7131em terra firme, optando-se então por um sistema de amaragens tal como era utilizado pelas missões Apollo. Outros sistemas avançados – parte do ideal “Apollo com esteróides” para criar uma super cápsula espacial mais capaz do que a sua predecessora – foram também removidos do veículo.

Com as frustrações a crescerem com o Ares-I – que também estava a ser afectado com alterações no seu desenho – e com a Orion, os gestores do projecto realizaram um encontro em 2007 e decidiram que iriam reduzir a Orion a um veículos de ‘requisitos mínimos’, permitindo assim ao Ares-I algum espaço para respirar tendo agora algumas centenas de quilos de reservas. Conhecido como Zero Base Vehicle (ZBV), a cápsula Orion sofre um processo de redução de massa para a reduzir ao peso mínimo, antes da reaplicação de alguma da capacidade removida, elemento por elemento. O projecto estava a utilizar a denominada Block 2 “Lunar Orion” e muitos dos resultados iriam ser aplicados na denominada Block 1 “ISS Orion”.

Z67Com o programa CxP a mostrar sinais de que teria de dividir a sua calendarização, um novo encontro dos directores do programa em 2007 referenciou a necessidade de “trabalho de equipa e química,” com o então gestor do programa Ares, Steve Cook a avisar que “as falhas são uma opção durante o desenvolvimento,” enquanto que um encontro do denominado System Definition Review (SDR) Board a notar a existência de riscos ‘vermelhos’ ao controlar o peso da Orion para atingir a performance do Ares-I.

Em 2008, o  Orion Vehicle Engineering Integration Working Group (OVEIWG) começou a reinstalar alguma da ‘capacidade crítica’ no veículo, sem romper os estritos requisitos de massa. Alguns engenheiros que se juntaram ao grupo de trabalho estavam a fazer uma função semelhante à que o astronauta Kenneth Mattingly fez durante a missão Apollo-13 ao ter de ‘jogar’ com a quantidade limitada de energia a bordo da cápsula espacial através de um simulador. Ironicamente, foi o Director de Voo da Apollo-13, Gene Kranz, que criou um discurso emitido através de um vídeo interno à equipa de trabalho do programa Constellation nesse Z79ano, fazendo notar como a equipa de trabalho da Apollo “teve de aprender a deixar os seus egos na porta e tornar-se uma equipa, e assim nos tornamos numa.”

Em meados de 2008, um novo Design Analysis Cycle (DAC) foi convocado – em conjunto com um esforço para resolver problemas de Thrust Oscillation (TO) do foguetão Ares-I – resultando num considerável adiamento do Preliminary Design Review (PDR) da Orion para 2009. Melhor conhecido como a “Augustine Commission“, o encontro sublinhou os problemas críticos do CxP, eventualmente resultando no seu cancelamento pela Administração Obama através da proposta de orçamento para o ano fiscal de 2011.

A segunda vida da Orion

A cápsula Orion foi salva do abate – no entanto por fases, nas quais se incluía um papel sem sentido como salva vida na ISS – antes do denominado Authorization Act voltar a colocar o foco da Orion em missão para lá da órbita terrestre (BEO – Beyond Earth Orbit). O primeiro sinal físico da nova vida da Orion foi visto nas instalações da Michoud (MAF – Michoud Assembly Facility), à medida que se procedia à soldagem dos primeiros painéis do veículo Exploration Flight Test (EFT-1). Com a NASA a representar o início da construção como o “primeiro novo veículo 2015-06-20-144149-350x234espacial da NASA desde que o vaivém espacial Endeavour deixou as suas instalações de fabrico em 1991,” o EFT-1 Orion passou por uma fase de construção em Nova Orleães antes de se dirigir para o Centro Espacial Kennedy para a sua preparação para a missão. Esta foi um sucesso, lançada no topo de um foguetão Delta-IV Heavy numa missão que teve um papel importante na revisão KDP-C.

Realizando o KDP-C depois da missão EFT-1 permitiu a acumulação de dados adicionais para a revisão da Orion à medida que esta se dirige para a fase Critical Design Review (CDR). Este processo está a ser levado a cabo enquanto que a próxima Orion se dirige para a produção inicial nas instalações MAF. O KDP-C também forneceu aos gestores uma revisão do estado dos custos e calendarização, sendo classificada como uma revisão rigorosa ao nível técnico e programático, confirmando o suporte continuado do programa e estabelecendo o comprometimento da NASA ao programa a nível técnico, de custos e de calendarização. A decisão compromete a agência espacial a um custo base de cerca de 6 mil milhões de Euros desde Outubro de 2015 até à primeira missão tripulada, a Exploration Mission-2 (EM-2) – e um comprometimento para estar pronta para um lançamento com astronautas a bordo nunca depois de 2023. A missão EM-2 permanece agendada para 2015-06-20-030440-350x247Agosto de 2021, seguindo as pisadas da missão não tripulada EM-1 em 2018, lançada pela primeira vez pelo Space Launch System (SLS). A EM-2 não vai envolver a missão a um asteróide, que deverá agora ocorrer em meados ou na segunda metade da próxima década. Em seu lugar, a EM-2 será uma versão tripulada da EM-1. A data de 2023 tem por base os aspectos ‘desconhecidos’ ao nível técnico e de financiamento que podem atrasar os progressos entre 2015 e a EM-2.

Adaptado de “Orion passes KDP-C with cautious 2023 crew debut,” por Chris Bergin. Traduzido e publicado com autorização.