Lembro-me de ser uma Terça-feira e de estar junto do n.º 666 da Avenida da Liberdade, em Braga, quando me falaram pela primeira vez de que na televisão «…haviam dito…» que tinha acontecido um acidente com um vaivém espacial. "Parece que explodiu", foi o que me disseram. Já naquela altura era fascinado pelas ‘…coisas do espaço.’ O lançamento do Columbia em Abril de 1981 estava tão fresco na minha memória como se tivesse ocorrido no dia anterior.
Naquele dia de 28 de Janeiro de 1986, no final da tarde, desatei a correr para casa. Era quase hora do jantar e pedi à minha mãs para levar o prato para a sala onde estava a televisão… quase um sacrilégio naquele tempo… comer na sala, mas isso tem algum jeito?
O telejornal abriu com aquela notícia. As imagens do vaivém espacial a deixar a plataforma de lançamento e pouco mais de um minutos depois as imagens que pensavamos nunca ver um dia. Perante os meus olhos de quase 15 anos, caía-me em cima de forma brutal uma realidade que nem nos meus piores pesadelos poderia existir.
O vaivém espacial Challenger desaparecia nos céus da Flórida levando consigo os sete astronautas que iam a bordo: Frank Richard ‘Dick’ Scobee; Michael J. Smith; Judith Arlene Resnick; Ellison Shoji Onizuka; Ronald Erwin McNair; Sharon Christa McAuliffe; Gregory B. Jarvis. Foram nomes que nunca mais esqueci.
Para lá das causas físicas da destruição do Challenger, a verdadeira razão para o desastre esteve na incapacidade da agência espacial norte-americana em notar os sinais de que o sistema possuía falhas que mais cedo ou mais tarde seriam catastróficas. Num ano no qual estavam previstos 15 lançamentos do vaivém, os engenheiros da NASA foram acometidos da chamada "go fever!", ignorando vários avisos sobre a possibilidade de uma ocorrência catastrófica relacionada com os anéis isolantes dos propulsores laterais de combustível sólido. Querendo manter o calendário a todo o custo, esses sinais foram sistemáticamente ignorados num padrão que mais tarde seria novamente repetido e que levaria à perda do vaivém espacial Columbia.