Os astronautas Reid Wiseman (EUA, NASA) e Alexander Gerst (Alemanha, ESA) realizaram a primeira actividade extraveícular norte-americana no ano no dia 7 de Outubro de 2014, quando se aventuraram no exterior da estação espacial internacional para executarem trabalhos de manutenção, limpeza e substituição. A EUA AEV-27 teve início às 1230UTC quando ambos se deslocaram para o exterior do módulo Quest.
Este passeio espacial estava originalmente prevista para o dia 27 de Agosto, mas foi adiada devido às preocupações com as baterias nas unidades de mobilidade extraveícular EMU (Extravehicular Mobility Unit), isto é, os fatos extraveículares, que necessitou de um adiamento enquanto que as novas LLB (Long Life Batteries) eram lançadas para a estação espacial abordo do veículo de carga Dragon CRS-4 e da Soyuz TMA-14M, e sua subsequente instalação nos fatos.
Para a EUA AEV-27, o astronauta norte-americano Reid Wiseman foi designado EV-1 e envergou um fato com listas vermelhas, enquanto que o astronauta alemão Alexander Gerst foi designado EV-2 e envergou um fato totalmente branco sem qualquer listas. Neste passeio espacial foram utilizadas as unidades EMU 3003 e EMU 3010. Tanto Wiseman como Gerst realizaram o seu primeiro passeio espacial. O braço robot utilizado nas actividades foi operado pelo astronauta Barry Wilmore.
Reid Wiseman foi o primeiro a deixar a segurança relativa do módulo Quest e após o usual período de climatização inicial e de colocação dos cabos de segurança, os dois homens dirigiram-se para localizações distintas para iniciar os preparativos para a primeira e maior tarefa deste passeio espacial. Esta envolveu a recolocação de um módulo PM (Pump Module) que ainda se encontrava no seu local de armazenamento temporário após a sua remoção da ISS em Dezembro de 2013.
Durante as agora pouco famosas AEV do Natal, o PM – que é responsável por bombear o refrigerante amoníaco através das condutas de arrefecimento da ISS – foi removido da estação e substituído por uma nova unidade após a falha de uma válvula Flow Control Valve (FCV) situada na Pump & Control Valve Package (PCVP) dentro do PM, o que significou que o sistema de arrefecimento A da ISS não podia manter uma temperatura estável. Três actividades extraveículares foram planeadas para remover a velha unidade e armazená-la de forma temporária, instalar e ligar a nova unidade e então armazenar de forma permanente a velha unidade.
Porém, a remoção e substituição da velha unidade foi inesperadamente finalizada em somente dois passeios espaciais, e dada a proximidade do período das festas natalícias, havia pouco desejo de realizar uma terceira AEV somente para armazenar o PM avariado. Assim, a unidade permaneceu no Payload ORU Accommodation (POA) – essencialmente uma unidade de fixação ligada ao Mobile Base System (MBS) que é utilizado para fixar estes itens enquanto mantém o braço livre – durante nove meses, aguardando a sua vez de ser armazenada de forma definitiva.
A localização de armazenamento para o PM avariado é denominada Flight Support Equipment (FSE), que é essencialmente um mecanismo compatível Flight Releasable Attachment Mechanism (FRAM) no qual o PM será aparafusado, e rodeado por uma ‘tenda’ Multi Layer Insulation (MLI) que o irá proteger de detritos. O FSE ficou vago pelo PM que foi utilizado para substituir a unidade avariada em Dezembro de 2013, mas porém nessa altura o FSE estava localizado no External Stowage Platform-3 (ESP-3) no lado estibordo da ISS. Desde então, o FSE foi roboticamente recolocado para o ESP-2 mesmo ao lado do Quest para facilitar a tarefa de armazenamento. O ESP-2 já albergou um PM anteriormente, mas essa unidade foi trazida de volta para a Terra a bordo do último voo do vaivém espacial em 2011 para que fosse estudada a sua falha.
Para levar a cabo as tarefas de armazenamento do PM, Wiseman começou por abrir a ‘tenda’ MLI no PM FSE, enquanto que Gerst instalava o dispositivo de fixação Articulating Portable Foot Restraint (APFR) na extremidade do Space Station Remote Manipulator System (SSRMS). De seguida, Gerst colocou-se no APFR e foi deslocado na extremidade do braço até ao MBS POA, onde estava localizado o PM avariado. Uma vez segurado o PM por parte de Gerst, este foi roboticamente libertado do POA e de seguida Gerts foi deslocado de novo para o ESP-2 onde estava localizado o PM FSE. Nesta altura, o Adjustable Grapple Bar (AGB) – que é um dispositivo de fixação ao qual se podem fixar várias unidades Orbital Replacement Units (ORUs) de forma a que possam depois ser seguras tanto pelo SSRMS ou pelo POA – foi removido e instalado na sua localização de armazenamento regular numa Flex Hose Rotary Coupler (FHRC) ORU na parte inferior do ESP-2. O PM avariado foi então feito deslizar ao longo de carris para o seu lugar na placa base do FSE, sendo depois aparafusado, com três conectores eléctricos a serem fixados para fornecerem energia e dados ao dispositivo avariado.
Apesar de tecnicamente o PM ter avariado, a unidade não é completamente inútil, dado que somente falhou uma única válvula no seu interior funcional. Assim, se uma válvula externa for ligada, a unidade pode ainda ser útil como uma suplente viável, e assim a unidade será retida para uma potencial utilização futura.
Com o módulo PM seguramente instalado no seu FSE e a ‘tenda’ MLI fechada, os dois homens deslocaram-se para a sua próxima tarefa – a substituição de um sistema de iluminação avariado numa câmara no módulo laboratorial norte-americano Destiny.
A External Television Camera Group (ETVCG) localizado no Camera Point 13 (CP-13), que é composto por um conjunto de instrumentos denominado Camera/Light PTU [Pan/Tilt Unit] Assembly (CLPA), necessitava de uma substituição do seu sistema de iluminação. A luz emitida é utilizada durante a noite orbital para iluminar o exterior da estação espacial para a câmara controlada de forma remota. Este foi um procedimento muito simples, envolvendo a desconexão de uma única ligação eléctrica e a remoção de um único parafuso para remoção a lâmpada avariada, e posteriormente executar o procedimento inverso para instalar a nova lâmpada. Assim, o astronauta alemão realizou esta tarefa sozinho.
Entretanto, Wiseman finalizou a tarefa de instalar o Mobile Transporter Relay Assembly (MTRA) no Mobile Base System (MBS). O MTRA é essencialmente uma caixa de fusíveis que irá fornecer ao MT uma fonte de energia redundante na eventualidade da fonte primária não estar disponível. O MT é um ‘carro sobre carris’ operado de forma remota que pode viajar ao longo do exterior da ISS. Ligado ao MT está o MBS que possuí pontos de fixação para o braço robot da ISS, significando assim que o braço pode «apanhar boleia» de uma ponta a outra da estação para assim facilitar o acesso a diferentes pontos da ISS.
Porém, e em determinados cenários onde a energia eléctrica é perdida – por exemplo, a perda de dois dos oito canais de energia da ISS – então isto pode levar a uma perda de energia para o MT, fazendo que o braço não seja capaz de atingir as áreas onde seria necessário para apoiar as actividades extraveículares para substituir componentes falhados para restabelecer o fornecimento de energia. O MTRA irá assim fornecer uma fonte de energia secundária para adicionar alguma redundância na eventualidade deste cenário ocorrer no futuro.
A caixa MRTA foi deslizada num Camera Port (CP) não utilizado sobre o MBA, com um único parafuso para segurar o MTRA. Vários disjuntores eléctricos foram então ligados para fornecer as ligações eléctricas entre o MTRA e o MT. Uma vez terminadas as tarefas de Gerts na substituição do sistema de iluminação, o alemão auxiliou Wiseman na ligação manual dos cabos. Uma vez esta tarefa finalizada, os dois homens procederam à limpeza e arrumação das suas ferramentas e dirigiram-se para o interior do Quest para finalizar esta actividade extraveícular.
Antes de terminar esta actividade extraveícular, e havendo tempo disponível, estariam previstas a execução de algumas actividades de antecipação de próximos passeios espaciais. Após alguma discussão, os controladores decidiram inicialmente que os dois homens poderiam proceder à recolha de dois sacos de ferramentas. Porém, foi decidido terminar esta saída no exterior da ISS sem proceder à realização de tarefas extra.
Os dois homens regressaram ao interior do módulo Quest às 1827UTC (Alexander Gerst) e às 1830TC (Reid Wiseman). Posteriormente procedeu-se ao encerramento da escotilha e à repressurização do módulo Quest, terminando assim um passeio espacial com uma duração de 6 horas e 13 minutos (1843UTC).
Esta foi a 182ª actividade extraveícular destinada à construção ou manutenção da estação espacial internacional desde 1998, tendo-se acumulado um total de 1.142 horas e 15 minutos de trabalhos no exterior da ISS.
Adaptado do artigo original “EVA-27: Astronaut duo conducts US spacewalk outside ISS“, por Peter Harding. Traduzido com autorização.