As outras missões Voskhod

As missões Voskhod seguiram os seis voos iniciais do programa Vostok que colocaram em órbita o primeiro seres humanos. Numa altura em que a Corrida Espacial era um factor de prestígio e propaganda política numa luta sem tréguas em dois blocos, as missões Voskhod iniciais marcaram duas novas vitórias para o campo Soviético com a primeira tripulação e a primeira actividade extraveícular, vulgo passeio espacial.

No entanto, o programa seria cancelado após duas missões por necessidade de se mover os recursos humanos para a preparação do Programa Soyuz.

No Verão de 1965 o plano de voos Voskhod previa o lançamento de cinco veículo entre Novembro de 1965 e Março de 1966, nomeadamente o veículo 3KV n.º 5 seria lançado num voo de 20 dias transportando dois cães, seguindo-se o 3KV n.º 6 para uma missão de 15 dias, tripulado por dois cosmonautas (comandante e médico) com o objectivo de testar a abertura de um cabo que seria utilizado em missões posteriores para a realização de experiências de gravidade artificial envolvendo o veículo Voskhod e o estágio superior do foguetão lançador.

O veículo 3KV n.º 7 seria uma missão de 15 dias, tripulada por dois cosmonautas (de novo um comandante e um médico), que era considerada como uma simulação de uma missão lunar com uma experiência de gravidade artificial para simular a gravidade lunar e que também iria transportar um cão num pequeno contentor e dois coelhos (em contentores separados que facilitaria a realização de cirurgias nos animais em órbita).

O veículo 3KV n.º 8 seria uma missão tripuladas por dois cosmonautas para a realização de um máximo de três actividades extraveículares utilizando uma unidade individual de manobra que permitiria ao cosmonauta afastar-se entre 50 a 100 metros do veículo espacial. A missão com o veículo 3KV n.º 9 seria uma repetição da missão anterior.

Estas duas últimas missões iriam realizar a manobra de saída orbital para o regresso à Terra com o motor de retro-travagem de combustível sólido suplente. Nesta fase estava a ser estudada a possibilidade de utilizar nestas missões um novo perfil de regresso e aterragem envolvendo uma cápsula de descida mais leve e autónoma sem fazer regressar o veículo de órbita. Este perfil de regresso seria primeiro testado durante as missões de alguns satélites de reconhecimento Zenit. O teste deste sistema permitiria que as tripulações se movessem autonomamente no espaço e, em caso de acidente a bordo do veículo, pudessem regressar à Terra de forma independente.

Nesta fase também estava a ser considerada a possibilidade de aterrar as cápsulas Voskhod próximo da plataforma de lançamento, o que poderia levar a uma recomendação de construir uma pista de aterragem no cosmódromo, estabelecendo-se assim uma possível relação com o Programa Spiral.

Vários documentos referem a influência do Programa Gemini na planificação das missões Voskhod, mostrando o receio de que a evolução do programa Norte-americano mostrassem «um atraso» do programa espacial Soviético.

Em finais de Outubro de 1965, Sergei Korolev enviou uma proposta para a remoção da experiência de gravidade artificial da missão do veículo 3KV n.º 6 e cancelou os planos para as actividades extraveículares para os 3KV 8 e 9, pois estas actividades já estavam previstas para as missões Soyuz. Assim, a missão do veículo n.º 8 iria repetir a experiência de gravidade artificial do veículo n.º 7 e o 3KV n.º 9 seria utilizada para experiências militares.

Em princípios de 1966 dois veículos Voskhod (3KV n.º 5 e 3KV n.º 6) estavam em avançado estado de preparação e as suas missões nesse eram perfeitamente realistas. Nesta fase, era de facto politicamente importante dar uma resposta à missão Gemini-VII que havia recentemente estabelecido um recorde de permanência de duas semanas. Este problema seria «resolvido» pela missão Voskhod-3 para a qual a missão Cosmos 110 (Voskhod-3KV n.º 5), lançada a 22 de Fevereiro de 1966, serviu de preparação.

Nesta mesma altura a produção de veículos Voskhod (3KV e 3KD) entrava em conflito com o projecto de produção dos veículos 7K Soyuz. Sergei Korolev referia existir uma redundância de dois projectos paralelos, mas várias vezes fazia notar a necessidade de transferir os programas tripulados para as missões Soyuz. Após a sua morte em Janeiro de 1966, Vasili Mishin obtém a permissão para terminar os trabalhos no Programa Voskhod e concentrar a sua força de trabalho no Programa Soyuz.

Aquela que seria a última missão Voskhod, o voo do Cosmos-110, foi um prólogo para o futuro desenvolvimento da conquista espacial Soviética. O voo de Veterok e Ugolyok confirmou a possibilidade da permanência prolongada em órbita, uma missão que seria «replicada» em Junho de 1970 na primeira missão humana de «longa duração» da União Soviética, durante o voo da Soyuz-9 tripulada por Andriyan Nikolayev and Vitaly Sevastyanov.

Os diários de Kamanin referem que o 3KV n.º 6 (que seria a Voskhod-3) esteve muito próximo de ser lançado em Maio de 1966. O veículo estava pronto, mas na altura havia sérios problemas de fiabilidade do foguetão lançador após o lançamento falhado do foguetão 8K78 Molniya (U15000-40) a 27 de Maio de 1966 e da ocorrência de vibrações «pogo» num lançador 11A511 Soyuz. Porém, os documentos disponíveis mostram que os planos para a Voskhod-3 não foram abandonados nos meses subsequentes.

Em finais de Julho de 1966, Mishin não autoriza a modificação dos veículos 6 e 7 para a realização de actividades extraveículares e em início de Outubro desse ano, propõem adiar a Voskhod-3 para 1967, pois estaria a remover parte da força de trabalho para a preparação das cápsulas Soyuz e do estágio superior Blok-D.

Kamanin refere a Voskhod-3 pela última vez nos seus diários em finais de Novembro de 1966 ao descrever um plano de obscurecer a missão Apollo-1 ao seguir a primeira missão de acoplagem Soyuz não tripulada com um voo Voskhod em Janeiro de 1967 e outra acoplagem Soyuz em Fevereiro.

Eventualmente, as missões Koskhod acabariam por não acontecer e o programa iria desaparecer à medida que o Programa Soyuz tomava o lugar principal no palco da conquista espacial Soviética. Infelizmente, o primeiro voo tripulado deste novo veículo iria terminar em tragédia com a morte de Vladimir Komarov em Abril de 1967.

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Imagem: Roscosmos