No início dos anos 70, o estudo da relação entre a Terra e o Sol, e a correlação entre fenómenos físicos isolados que ocorriam no espaço próximo do nosso planeta, tornou-se um aspecto importante para a Ciência Espacial Soviética.
O estudo de tais fenómenos requereram o desenvolvimento de um novo tipo de satélite, tendo sido seleccionadas duas versões de uma denominada “estação orbital universal automática”: a AUOS-Z, orientada para a Terra, e a AUOS-OM, orientada para o Sol.
Equipados com a respectiva instrumentação de bordo, estas plataformas tornaram-se na base de diferentes satélites dedicados a missões específicas, tais como investigação espacial e investigação física da actividade solar, fenómenos geofísicos, e a relação entre estes fenómenos e a actividade solar. Estas investigações foram realizadas no âmbito de um programa de cooperação internacional.
Os satélites AUOS-Z foram também utilizados em experiências para o benefício da economia nacional da União Soviética. Para ser utilizado noutras aplicações, os satélites não necessitavam de grande alterações de desenho ou alterações à configuração do equipamento.
AUOS-Z-T-IK
Com uma massa de 950 kg e uma vida activa de seis meses, o satélite AUOS-Z-T-IK foi lançado às 1600UTC do dia 19 de Junho de 1975 pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (53731276) a partir do Complexo de Lançamento LC132/1 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk, Arkhangelsk, tendo recebido a designação Intercosmos-15.
Durante a missão, o satélite recebeu dados que permitiram concluir a fase experimental e de que um sistema internacional unificado de telemetria poderia ser utilizado para realizar experiências científicas ao abrigo do programa Intercosmos.
AUOS-Z-R-O
O satélite AUOS-Z-R-O tinha uma massa de 1.056 kg e um tempo de vida útil de 6 meses. Os instrumentos a bordo foram utilizados para levar a cabo o estudo de partículas, para estudar os diferentes níveis de energia e analisar o plasma ionosférico na região abaixo da formação das auroras, a formação das mesmas e a região polar em tempos de calma geomagnética, tempestades magnéticas e explosões solares.
Financiado pela Academia de Ciências da União Soviética, o satélite AUOZ-Z-R-O Oval teve a designação Cosmos-900 e o seu lançamento teve lugar às 2302UTC do dia 29 de Março de 1977. O lançamento foi levado a cabo pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (53749168) a partir do Complexo de Lançamento LC132/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk. Após atingir a órbita terrestre o satélite recebeu a Designação Internacional 1977-023A e o número de catálogo orbital 09898. O Cosmos-900 ficou colocado numa órbita com um perigeu a 460 km, apogeu a 523 km, inclinação orbital de 83.º e período orbital de 94,40 minutos.
O Cosmos-900 transportava equipamentos fornecidos pela Checoslováquia, República Democrática Alemã e União Soviética, entre os quais um analisador plano de potencial, uma sonda de medição de temperatura de electrões de alta-energia, um colector de iões esférico, uma sonda electrostática cilíndrica, um espectrómetro de energia, um espectrómetro electrostáctico panorâmico, um medidor de protões e electrões, e um fotómetro de auroras.
O Cosmos-900 reentraria na atmosfera terrestre a 11 de Outubro de 1979.
AUOS-Z-R-E-IK
O satélite AUOS-Z-R-E-IK, foi lançado como Intercosmos-17 ‘Ellipse’ às 1630UTC do dia 24 de Setembro de 1977 pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (53731278) a partir do Complexo de Lançamento LC132/1 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk. O satélite tinha uma massa de 1.020 kg e um tempo de vida útil de 6 meses.
Os dados experimentais obtidos durante a missão forneceram novas informações sobre o Sol e os raios cósmicos galácticos, permitindo também estudar as fontes de raios cósmicos na Via Láctea e para lá dos seus limites, o estudo dos mecanismos da aceleração de partículas para altas energias, o estudo das principais características do ambiente galáctico e meta-galáctico onde se propagam os raios cósmicos.
O satélite completou as suas operações a 16 de Janeiro de 1979.
AUOS-Z-M-IK
Lançado com a designação Intercosmos-18, o AUOS-Z-M-IK (ou AUOS-Z Mag-IK) tinha uma massa de 990 kg. O seu lançamento foi realizado pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (65055106) às 1900UTC do dia 24 de Outubro de 1978 a partir do Complexo de Lançamento LC132/1 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk. No lançamento o Intercosmos-18 foi acompanhado pelo satélite Magion-1.
Durante a sua missão ajudou a obter dados que forneceram uma explicação mais detalhada sobre a interacção entre a ionosfera e a magnetosfera, além de estudar a propagação das ondas de rádio na magnetosfera. O Intercosmos-18 realizou também estudos de espectroscopia de massa da alta atmosfera.
AUOS-Z-I-IK
O satélite Intercosmos-19 (AUOS-Z-I-IK ou AUOS-Z Ionozond-IK) foi lançado às 1700UTC do dia 27 de Fevereiro de 1979 pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (47155107) a partir do Complexo de Lançamento LC132/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk.
As experiências realizadas pelo Intercosmos-19 permitiram estudos mais detalhados da natureza da relação do emparelhamento electromagnético entre a magnetosfera- ionosfera e a transferência de energia entre o Sol e a Terra.
O programa da missão incluiu observações simultâneas feitas a partir do solo em estações ionosféricas e solares tanto na União Soviética como nos países participantes.
A plataforma tinha uma massa de 1.042 kg e um tempo de vida útil de 6 meses.
AUOS-Z-R-P-IK
Foram lançados dois satélites baseados na plataforma AUOS-Z-R-P-IK que tinha uma massa de 995 kg.
O primeiro dos dois satélites foi lançado às 0805UTC do dia 1 de Novembro de 1979, tendo recebido a designação Intercosmos-20. O lançamento foi realizado pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (53755105) a partir do Complexo de Lançamento LC132/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk. O Intercosmos-21 seria lançado às 0800UTC do dia 6 de Fevereiro de 1981 pelo foguetão 11K65M Kosmos-3M (53793478) a partir do Complexo de Lançamento LC132/1 (imagem em baixo).
Ambos os satélites transportaram instrumentação científica para testar métodos para estudar os oceanos e a superfície terrestre e testaram a obtenção de dados científicos a partir de estações terrestres e marítimas experimentais.
Esta foi uma missão conjunta com a Checoslováquia, Alemanha Democrática, Hungria e Roménia.
AUOS-Z-M-A-IK
O AUOS-Z-M-A-IK permitiu a descoberta de novos tipos de radiação de baixa frequência pura, detectando também de forma não linear intensas ondas de rádio no leque de comprimentos de onda curtos. Estudou pela primeira vez os fenómenos de plasma na ionosfera causados por explosões de média potência no solo.
O satélite, com uma massa de 1.030 kg, foi lançado com a designação Aureole-3 às 1312UTC do dia 21 de Setembro de 1981 por um foguetão 11K68 Tsyklon-3 a partir do Complexo de Lançamento LC31/1 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk.
Esta foi uma missão conjunta entre a União Soviética e a França fazendo parte do programa Intercosmos.
A porção central do satélite era um cilindro pressurizado com um diâmetro de 1,6 metros e um comprimento de 2,7 metros. Prolongando-se do corpo central do satélite e colocadas em posição após a entrada em órbita terrestre, existiam várias antenas de telemetria e comando, painéis solares e seis braços mecânicos fixos após a abertura na extremidade dos quais estavam posicionados vários sensores. Para se conseguir uma estabilização nos três eixos espaciais foi utilizado torque magnético e gradiente de gravida. O eixo de coordenadas Z estava orientado para o centro da Terra, o eixo X estava orientado na direcção do vector de velocidade do veículo. Para controlar a temperatura do satélite foram utilizados sistemas de controlo passivos e activos. O satélite estava equipado com oito painéis solares e baterias de 28 V fornecendo um máximo de energia de 250 W e uma média de 50 W.
O satélite transportou um total de 12 experiências (4 da URSS, 7 da França e 1 realizada em conjunto por ambos os países): espectómetro de partículas suaves Kukusha, espectómetro de partículas Pietstchanka, espectómetros de partículas suaves TBE, espectómetro de partículas suaves ROBE, espectómetro energético (Ion), espectómetro de massa iónica (Dyction), Isosonda (Sonda de Rádio-Frequência), ISO-F (Sonda de Campo Eléctrico), ISO-M (Sonda de Campo Magnético), TRAC (Magnetómetro de porta de fluxo), ALTAIR (fotometria de auroras) e detector de partículas energéticas FON.
A missão tinha como objectivos gerais fornecer algumas respostas às numerosas questões relacionadas com o emparelhamento magnetosfera-ionosfera a altas latitudes. Os fenómenos de interesse incluíam as auroras, subtempestades magnetosféricas, origem e transformação dos plasmas, energias associadas, correntes eléctricas e campos eléctricos. as experiências projectadas para cumprir estes objectivos, incluindo a medição do ambiente da densidade de electrões, temperatura dos electrões e velocidade do plasma; medição das partículas carregadas de 0,1 eV a 255 keV, mais os electrões com energias acima dos 40 keV e protões com energias acima dos 500 keV de campo eléctrico dc e campos magnéticos (0 a 10 Hz); de ondas ELF e VLF entre 0,01 a 16 kHz; dos campos eléctricos com frequências entre 0,1 a 16 MHz; e de fotometria de auroras a 4278 Å, 4861 Å e 6300 Å.
Os comandos para o satélite eram executados em tempo real ou armazenados semanalmente. Dois instrumentos eram utilizados para processamento a bordo dos dados experimentais. O correlometro fornecia a correlação cruzada e os dados de autocorelação para a medição tanto dos quatro detectores Kukushka, ou dos dois detectores Kukushka e dois detectores Pietstchanka. O instrumento ONTCH-2ME fornecia processamento a bordo dos dados das experiências ISO-F e ISO-M. Dois sistemas de telemetria eram utilizados, um sistema de leitura directa utilizado sobre as estações de telemetria francesas ou um sistema de leitura com atraso que utilizada gravação física e posterior leitura sobre as estações soviéticas.
AUOS-Z-I-E
A 18 de Dezembro de 1986, a União Soviética colocava em órbita o satélite Cosmos 1809, também designado AUOS-Z-I-E ou AUOS-Z 501 Ionozond-E. O lançamento seria levado a cabo por um foguetão 11K68 Tsyklon-3 a partir do Complexo de Lançamento LC31/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk, às 0809UTC.
Com uma massa de 1.024 kg e um tempo de vida útil de 6 meses, o AUOS-Z-I-E conseguiu obter uma grande quantidade de dados científicos por detecção remota da ionosfera e por medição das características locais do plasma ionosférico e das suas propriedades de onda. Durante a missão foram também descobertos vários fenómenos durante o período de baixa actividade solar que ainda não haviam sido referenciados.
AUOS-Z-AV-IK
Designado como Intercosmos-24, o satélite AUOS-Z-AV-IK – também designado Aktivny-IK – tinha uma massa de 1.400 kg e foi colocado em órbita por um foguetão 11K68 Tsyklon-3 às 0005UTC do dia 28 de Setembro de 1989 a partir do Complexo de Lançamento LC31/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk. No lançamento foi também transportado o satélite Magion-2.
A missão operou durante a fase mais intensa do ciclo solar, ajudando a obter importantes dados científicos sobre o plasma magnetosférico/ionosférico.
A missão (composta pelos satélites Intercosmos-24 e Magion-2) teve como principais objectivos compreender melhor as propriedades da radiação das antenas circulares num ambiente de plasma, o estudo da estrutura dos campos electrmagnéticos na zona próxima do satélite, os efeitos não lineares na zona próxima do satélite, a propagação e os efeitos não lineares dos modos de silbado de rádio, a precipitação de partículas e ondas actuantes, e a detecção de transmissões VLF a partir do solo.
AUOS-Z-AP-IK
O satélite Intercosmos-25 (AUOS-Z n.º 301 (APEKS-IK)) foi lançado às 0354UTC do dia 18 de Dezembro de 1991 por um foguetão 11K68 Tsyklon-3 às 0005UTC do dia 28 de Setembro de 1989 a partir do Complexo de Lançamento LC32/2 do Cosmódromo NIIP-53 Plesetsk.
A missão era parte do programa APEX (Active Plasma Experiment) com o objectivo de estudar as correntes de electrões e feixes de plasma na ionosfera e na magnetosfera. Tratava-se de um veículo de forma cilindrica, com um comprimento de 1,8 metros e um diâmetro de 1,5 metros. Estava equipado com oito painéis solares que se estendiam em forma de pétala a partir de uma extremidade do veículo. A sua massa era de 1.300 kg e o seu tempo de vido útil era de seis meses.
O Intercosmos-25 foi lançado em conjunto com o satélite Magion-3 da Checoslováquia que se separou do satélite principal a 28 de Dezembro.
AUOS-SM
A plataforma base AUOS-SM foi projectada para realizar estudos do Sol em benefício da ciência e da economia nacional.
Três satélites foram desenvolvidos tendo por base esta plataforma: o AUOS-SM-KI, o AUOS-SM-KF e o AUOS-SM-F.
O satélite AUOS-SM-KI tinha uma massa de 2.295 kg e um tempo de vida útil de 1 ano. Foi lançado às 0325UTC do dia 2 de Março de 1994 por um foguetão 11K68 Tsyklon-3 a partir do Complexo de Lançamento LC32/1 do Cosmódromo GNIIP Plesetsk. Após o lançamento o satélite recebeu a designação Koronas-1 / Intercosmos-26.
Esta missão russo-ucraniana transportou instrumentos ultravioletas e de raios-X destinados ao estudo e mapeamento do Sol, além de sistemas de monitorização de plasma para estudar a ionosfera e a magnetosfera.
Foram obtidas mais de 2.000 imagens do Sol em mono-comprimentos de onda, realizando-se uma observação do disco solar completo em raios-X e de formações individuais.
O satélite AUOS-SM-KF foi colocado em órbita com a designação Koronas-F. O seu lançamento teve lugar às 0759:58,499UTC do dia 31 de Julho de 2001 e foi realizado pelo foguetão 11K68 Tsyklon-3 (51025802) a partir do Complexo de Lançamento LC32/2 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk. O satélite tinha uma massa de 2.340 kg.
A missão enviou por dia cerca de 100 Mb de dados científicos e imagens do Sol em diferentes comprimentos de onda no espectro raios-X. Estas foram utilizadas para criar imagens tridimensionais do Sol e da dinâmica da coroa solar. A missão ajudou à descoberta de estruturas de plasma dinâmicas, com temperaturas cerca de dez vezes superiores às registadas na coroa solar.
Os instrumentos a bordo do Koronas-F foram: DIFOS, para monitorizar as flutuações na intensidade de luz em seis bandas ópticas com uma precisão de uma parte por milhão; SORS, para monitorizar as explosões de rádio solares nos tipos II, III e IV; ZENIT, um coronógrafo para monitorizar a coroa solar até uma distância de seis raios solares nas bandas 750-850 nm; SUFR, um radiómetro de ultravioleta para captar as emissões de disco completo do Sol; VUSS, para monitorizar a intensidade do disco solar na linha Lyman-Alpha; DIAGENESS, para analisar as regiões activas do Sol e explosões com uma resolução de segundos de arco; RESIK, um espectómetro de raio-X; IRIS, para monitorizar as explosões de raios-X com energias 2,0-200 keV e uma resolução temporal de 0,01-2,5 segundos; HELIKON, para capturar raios-X de alta energia e raios gama entre 10 keV-8 MeV, com dois detectores, sendo um apontado para o Sol e outro na direcção contrária; SKL, para medir os raios gama solares, o fluxo de neutrões e protões, e para determinar a composição química do Sol; RES-K, um espectóheliógrafo de raios-X para fornecer imagens de alta resolução do disco solar; RPS, espectómetro de raios-X para cobrir as bandas 3-30 keV; SPR-N, um polalímetro de raios-X.
O satélite AUOS-SM-F destinado a estudos solares, seria transferido para o Instituto de Investigação Científica e Electromecânica da Federação Russa.
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