Se lançar o primeiro satélite artificial da Terra e colocar em órbita o primeiro cosmonauta pareceram feitos extraordinariamente difíceis e complicados, o mesmo pode ser dito de colocar um homem na Lua. Tal como os Estados Unidos, Serguei Korolev havia adoptado o perfil do encontro em órbita lunar para o programa lunar tripulado soviético. Este plano foi sempre refinado ao longo da década de 60 tendo em conta a segurança dos cosmonautas. No entanto em 1967 o plano de voo das missões N1-L3 havia-se transformado num plano complicado que via múltiplos lançamentos com a utilização de diferentes lançadores e vários veículos tripulados.
Um pormenor que preocupava os engenheiros soviéticos (nesta altura já sobre a direcção de Vasili Mishin), era as condições que o veículo lunar iria encontrar na alunagem e em particular se ocorresse qualquer problema que o danificasse. Será que o solitário herói soviético teria alguma forma de saber disto antes de sair do veículo LK? Para eliminar a hipótese de alguma saída prematura, os engenheiros soviéticos decidiram criar um pequeno veículo lunar para inspeccionar o exterior do LK antes da saída do cosmonauta para o exterior. No entanto outra questão se colocava – e se de facto o LK estivesse danificado e não tivesse possibilidade de deixar a superfície lunar? Os engenheiros soviéticos propuseram então o envio de um veículo lunar suplente que teria como função alunar perto do LK original danificado proporcionando assim um meio para o cosmonauta deixar a Lua. Obviamente que outras questões surgiriam: e se o segundo LK alunasse demasiado longo do primeiro veículo impedindo que o cosmonauta o atingisse a pé? O cosmonauta teria de viajar pela superfície lunar utilizando o pequeno rover.
Todas estas considerações a ter em conta na superfície lunar requeriam a capacidade de se levar a cabo alunagens precisas na superfície do nosso satélite natural. Foi decidido introduzir dois veículos não tripulados que teriam como função obter mapas detalhados da superfície da Lua, havendo por outro lado satélites de comunicações em órbita lunar que actuariam como repetidores durante as operações de alunagem e na superfície. Todos estes sistemas seriam necessários devido aos limites de peso que impediam haver sistemas redundantes no interior do módulo lunar tripulado LK.
Um plano lunar tripulado deste tipo implicava uma ligação forte com o programa de exploração lunar não tripulado.
Luna-1
O desenvolvimento das sondas lunares soviéticas é autorizado a 20 de Março de 1958 através de um decreto governamental que autoriza também o desenvolvimento de um foguetão lançador de três estágios, o 8K72, para sua propulsão. O programa de criação, desenvolvimento e construção prossegue a bom ritmo com o primeiro lançamento a ser planeado para Agosto. No entanto em meados deste mês o lançamento é adiado após o fracasso do lançamento da sonda Pioneer a 17 de Agosto pelo foguetão Thor Able-1 (127) – Esta foi a primeira tentativa dos Estados Unidos para atingir a órbita lunar com o lançamento a ter lugar às 1218UTC do dia 17 de Agosto de 1958 a partir do Complexo LC17A do Cabo Canaveral e com foguetão a explodir 77 segundos após o lançamento a uma altitude de 16 km. Por esta altura havia-se verificado a incapacidade de se finalizar os testes finais dos novos motores do lançador, além de se registar vários casos de maus funcionamento dos sistemas durante as operações de preparação do lançamento.
A 2 de Setembro é autorizado o primeiro lançamento de uma sonda lunar soviética que ocorre a 23 de Setembro, pelas 0703:23UTC. No logo após o foguetão 8K72 Vostok-L (B1-3) deixar a plataforma de lançamento começaram a verificar-se os primeiros problemas nos propulsores laterais com o registo de ressonâncias longitudinais. O foguetão acabou por se destruir aos 92 segundos destruindo também a sonda E-1 n.º 1. O problema que se abatera sobre o lançador E1-8 teria já sido registado nos ensaios e a destruição deste lançador daria início a um longo debate entre Serguei Korolev e Valentin Glushko sobre a culpa e resolução do problema.
Um problema semelhante viria a vitimar o segundo lançamento deste programa que foi registado a 11 de Outubro de 1958. Lançado às 2141:58UTC, o foguetão Vostok-L (B1-4) transportava a sonda E-1 n.º 2 e devido a problemas de ressonância longitudinal nos seus propulsores laterais seria destruído aos 104 segundos de voo. Porém, os problemas não se ficariam por aqui e a 4 de Dezembro (pelas 1818:44UTC) o foguetão 8K72 Vostok-L (B1-5) transportando a sonda E-1 n.º 3 seria destruído aos 245 segundos de voo quando os motores do segundo estágio se desactivaram devido há falta de lubrificação na bomba de peróxido de hidrogénio.
O sucesso chegaria com o primeiro lançamento orbital de 1959. Ás 1641:24,1UTC do dia 2 de Janeiro o foguetão 8K72 Vostok-L (B1-6) era lançado desde o Complexo LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur colocando a sonda Luna-1 (E-1 n.º 4) numa trajectória translunar. Também conhecida pela designação Mechta(‘Sonho’ em Russo), a sonda tinha uma massa de 361,3 kg e o seu principal objectivo era o de atingir a superfície lunar. Porém, um problema no sistema de controlo do foguetão lançador 8K72 Vostok-L fez com que a Luna-1 passasse a 5.995 km da superfície lunar e entrasse numa órbita solar entre a Terra e Marte.
A Luna-1 foi o primeiro objecto fabricado pelo Homem a atingir a denominada segunda velocidade cósmica e abandonar a órbita terrestre. Após atingir a velocidade de escape a Luna-1 separou-se do último estágio do lançador. Equipado com um motor RD-0105, o terceiro estágio tinha um peso de 1.472 kg, um comprimento de 5,2 metros e um diâmetro de 2,4 metros. Após a separação da Luna-1 este estágio seguiu a mesma trajectória da sonda.
Quando a Luna-1 atingiu uma distância de 113.000 km da Terra no dia 3 de Janeiro, libertou uma nuvem de sódio com um diâmetro de 1.000 metros. A sua cor alaranjada era facilmente visível – atingindo uma sexta magnitude – a partir do Oceano Índico o que permitiu aos astrónomos seguirem a trajectória da sonda lunar soviética. Esta experiência permitiu também estudar o comportamento dos gases no espaço exterior.
Após uma viagem de 34 horas a Luna-1 passava perto da Lua a 4 de Janeiro. As medições obtidas por esta pequena sonda esférica proporcionaram novos dados sobre a cintura de radiação terrestre e sobre o espaço exterior, incluindo a descoberta do facto de que a Lua não possuía um campo magnético e de que um vento solar de plasma ionizado atravessava o espaço interplanetário.
A sonda Luna-1 consistia em duas concavidades esféricas hermeticamente seguras por uma cinta de borracha especial. Localizada numa das concavidades encontravam-se quatro bastões das antenas do transmissor de rádio que operava a uma frequência de 183,6 MHz. As antenas encontravam-se ligadas ao corpo da sonda de uma forma simétrica em relação a uma cavidade de alumínio no fim da qual se encontrava um instrumento para medição do campo magnético terrestre e para detecção do campo magnético lunar caso este existisse. A quando da separação da ogiva cónica de protecção do lançador as antenas são colocadas em posição e seguras por um sistema magnético. Localizadas na mesma concavidade esférica situavam-se duas sondas para detectar protões para determinar a composição gasosa da matéria interplanetária, além de dois sistemas piezoeléctricos para estudar as partículas meteóricas. As esferas côncavas eram fabricadas numa liga especial de alumínio e magnésio. A esfera concava inferior possuía uma secção com instrumentos fabricada em liga de magnésio e que continha equipamento para controlo de rádio da trajectória do lançador (um transmissor que operava em 183,6 MHz e um bloco de receptores), um transmissor de rádio que operava numa frequência de 19.993 MHz, uma unidade de telemetria desenhada para transmitir via rádio para a Terra os dados obtidos sobre a pressão e temperatura da sonda, e instrumentos para o estudo dos gases na matéria interplanetária e a radiação corpuscular do Sol, além de equipamento para medir o campo magnético da Terra e detectar um possível campo magnético da Lua, instrumentos para estudar as partículas meteóricas, instrumentos para registar os núcleos pesados na radiação cósmica primária e equipamento para registar a intensidade dos raios cósmicos e a sua variação de intensidade, além de registar fotões na radiação cósmica.
O equipamento a bordo da Luna-1 obtinha a sua electricidade a partir de baterias de prata-zinco e óxido de mercúrio colocadas na secção de instrumentos do veículo.
O interior da sonda encontrava-se pressurizado com gás a 1,3 atm. O seu desenho garantia a sua alta pressurização e a temperatura do gás no interior era mantida dentro de limites estabelecidos (20ºC) devido aos coeficientes de reflexão e radiação conseguidos através do tratamento especial da sua superfície. Por outro lado, encontrava-se instalado no veículo um sistema que garantia a circulação do gás que por sua vez retirava o calor dos instrumentos transferindo-o para a fuselagem da sonda que servia assim de sistema radiador.
A separação da Luna-1 do último estágio do lançador teve lugar no final da ignição do motor deste. Esta separação era necessário para que a sonda pudesse manter o seu regime térmico, pois os instrumentos no seu interior geravam muito calor.
Dois símbolos comemorativos foram transportados pela Luna-1. O primeiro era uma fina faixa metálica com a inscrição “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” num dos lados juntamente com o brasão de armas da URSS, enquanto a inscrição “Janeiro 1959 Janeiro” adornava o outro lado. As inscrições foram feitas utilizando-se um método fotoquímico que garante assim a sua longa preservação. O segundo símbolo tinha uma forma especial simbolizando o planeta artificial Luna-1. A sua superfície estava coberta com elementos pentagonais de aço inoxidável especial. Cada elemento possuía de um lado a inscrição “URSS, Janeiro 1959” e no outro lado o brasão de armas da União Soviética juntamente com a inscrição “URSS”.
Luna-2
Apesar de não atingir a superfície lunar, a missão da Luna-1 torna-se mais um grandioso sucesso para a União Soviética e mais um motivo de propaganda política. Uma nova tentativa de lançar de lançamento de uma sonda lunar surge a 18 de Junho de 1959. Um foguetão 8K72 Vostok-L (I1-1) é lançado às 0808:00UTC desde o Cosmódromo NIIP-5 Baikonur (LC1) transportando a sonda Ee-1A n.º 5. Aos 153 segundos de voo dá-se uma falha no sistema de navegação inercial do foguetão lançador o que leva a que os controladores do voo transmitam os comandos que levam á sua destruição.
A sonda Luna-2 (E-1A n.º 6) é lançada às 0639:41,85UTC do dia 12 de Setembro por um foguetão 8K72 Vostok-L (I1-7B) a partir do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. O desenho da Luna-2 era similar ao da Luna-1 apesar da sua massa (390,2 km) ser ligeiramente superior (os instrumentos transportados a bordo eram similares). Tal como a Luna-1, a Luna-2 seguiu uma trajectória directa para a Lua com uma viagem que demorava 36 horas. Isto devia-se ao facto que o sistema gravitacional Terra – Lua força a sonda a seguir uma trajectória curva e o seu lançamento teria de ocorrer do lado da Terra oposto á Lua. O seu tempo de viagem teria de ser de 12 horas, 36 horas ou de 60 horas. Uma viagem de 12 horas era impossível pois o foguetão lançador não teria a capacidade para acelerar o veículo a uma velocidade tão grande. Por outro lado, um tempo de viagem de 60 horas também não era possível devido ao facto de as baterias a bordo da sonda não aguentarem tanto tempo. A opção de uma viagem de 36 horas era a escolhida.
Após atingir a velocidade de escape e após a queima do terceiro estágio do lançador, a Luna-2 separou-se deste que a precedeu em direcção à superfície lunar. A 13 de Setembro, e a uma distância de 113.000 km, a sonda libertava uma nuvem de sódio alaranjada que permitia seguir a sua trajectória e estudar o comportamento do gás no espaço interplanetário. A nuvem de sódio espalhou-se a uma velocidade de 1 km/s atingindo um diâmetro de 400 km antes de se tornar tão ténue que a sua observação já não era possível. Após uma viagem de pouco mais de 33 horas, a Luna-2 impactava na superfície lunar no Palus Putredinis a Este do Mar da Serenidade e perto das crateras Aristides, Arquimedes e Autolycus, num ponto situado a 29,10º N latitude – 0.00 longitude. O impacto dava-se ás 2102:24UTC do dia 13 de Dezembro. Ao impactar na superfície lunar a sonda espalhou uma grande quantidade de emblemas soviéticos e esferas comemorativas cobertas com símbolos da União Soviética. Aproximadamente 30 minutos após o impacto da Luna-2 o terceiro estágio do foguetão lançador 8K72 Vostok-L atingia também a superfície lunar.
A Luna-2 confirmou que a Lua não possuía um campo magnético apreciável e que não existiam quaisquer cinturas de radiação em torno do nosso satélite natural.
Luna-3
Companheira misteriosa dos poetas, a Lua via os seus segredos serem revelados pouco a pouco. O passo seguinte na exploração lunar pela União Soviética seria a observação do seu lado oculto. A sonda E-2A n.º 1 foi transportada para o Cosmódromo NIIP-5 Baikonur em Agosto de 1959. Nesta fase a sonda ainda não se encontrava pronta para o lançamento e muito trabalho para a sua preparação foi levado a cabo no cosmódromo com os testes finais a serem aí realizados. Finalmente, a 25 de Setembro o próximo passo na exploração lunar estava pronto para o lançamento que ocorre às 0043:39,7UTC do dia 4 de Outubro. Dois anos após o lançamento do Sputnik-1 um foguetão 8K72 Vostok-L (I1-8) colocava a sonda Luna-3 numa órbita terrestre com um apogeu de 468.300 km de altitude, um perigeu de 48.280 km de altitude e uma inclinação orbital de 55º em relação ao equador terrestre. Durante a sua fantástica missão, que terminaria a 29 de Abril de 1960 com a sua reentrada na atmosfera terrestre, a Luna-3 levaria a cabo o mais espectacular feito espacial até então ao fotografar o lado oculto da Lua.
Após o lançamento da Luna-3, Serguei Korolev queria que o comunicado da agência de notícias oficial TASS referisse o objectivo da missão, porém tal não aconteceu. A fase inicial da missão decorreu sem problemas, mas tudo isso iria mudar nas primeiras horas de 6 de Outubro. Korolev telefonara a Boris Chertok dizendo-lhe que seria necessário viajarem até ao posto de controlo na Crimeia para assistirem à próxima sessão de comunicações com a Luna-3. A última sessão de comunicações tinha-se revelado problemática com os dados provenientes da sonda a serem recebidos de forma errática e com os comandos a não serem bem recebidos pelo veículo. O voo para a Crimeia foi realizado num dos mais modernos aviões disponíveis então, um Tupolev Tu-104. Após aterrarem embarcaram num helicóptero que não pode aterrar no local previsto devido à neve e a condições de visibilidade nula, tendo o voo sido desviado para outro local a partir do qual seguiram de automóvel para o centro de controlo.
Após falar com alguns coordenadores presentes Korolev concluiu que o trabalho levado a cabo estava a ser coordenado de forma inadequada e ordenou que somente Yevgeniy Boguslavskiy (chefe executivo do Instituto de Pesquisa Científica de Instrumentação Rádio NII-885 estabelecido em 1938 e que desenhou o sistema de rádio da Luna-3) coordenasse as sessões de comunicação com a Luna-3. Ás 1600UTC são recebidos sinais de telemetria da Luna-3 e para surpresa de todos tudo parecia estar em ordem com a sonda. Durante esta sessão de comunicações a Luna-3 leva a cabo a sua maior aproximação à Lua às 1416UTC e a uma distância de 7.884 km de distância. Ao passar pelo lado oculto da Lua, a Luna-3 obteve 29 imagens da sua superfície entre as 0330UTC e as 0410UTC do dia 7 de Outubro quando se encontrava a uma distância de entre os 65.567 km e os 68.785 km.
Imagem do lado oculto da Lua transmitida pela sonda Luna-3. Das características visíveis destacam-se o Mar de Moscovo e o Mar dos Sonhos. Na página seguinte uma imagem enviada pela Luna-3.
O filme das fotografias foi revelado, fixado e seco a bordo da Luna-3, podendo agora ser «observado» com um sistema de 1.000 linhas por imagem e ser posteriormente transmitido para a Terra. As imagens foram recebidas na Terra a 7 de Outubro e após a sua recepção eram impressas em papel térmico.
As imagens transmitidas pela Luna-3 não eram perfeitas e a sua interpretação foi extremamente difícil. Imagens mais detalhadas poderiam ter sido obtidas quando a Luna-3 estivesse mais perto da Terra, porém essas imagens nunca foram recebidas. O sistema fotográfico da sonda utilizava duas lentes com distâncias focais de 200 mm e 500 mm. A distância focal mais curta era capaz de focar uma imagem da Lua numa única frame de filme de 35 mm.
Após a sua missão a Luna-3 continuou na sua longa órbita em torno da Terra até á sua reentrada atmosférica que se registou a 29 de Março de 1960.
Uma característica sobre a Luna-3 que somente foi revelada 45 anos mais tarde pela revista Novosti Kosmonautiki foi o facto de que filme proveniente dos balões espiões americanos Genetrix teria sido utilizado pelo sistema de observação Yenisey da sonda. Por esta altura a União Soviética não possuía a capacidade de desenvolver filme fotográfico capaz de suportar as condições que seriam encontradas pela Luna-3. Porém, na segunda metade dos anos 50 os Estados Unidos utilizavam balões para levar a cabo missões de reconhecimento fotográfico não tripuladas sobre o território da União Soviética tirando partido das condições das correntes de ar existentes. Os balões equipados com equipamento fotográfico especial eram lançados desde países europeus e, sendo arrastados pelas correntes de ar, surgiam sobre o território soviético, fotografando as zonas que surgiam por debaixo das suas trajectórias. Alguns balões foram capturados pelos soviéticos que após o analisarem constataram cumprir os parâmetros para serem utilizados no sistema Yenisey.
Luna-4
Em Abril de 1960 a União Soviética iria assistir ao lançamento falhado de duas sondas lunares. O primeiro ocorre ás 1506:44UTC do dia 15 de Abril quando um foguetão 8K72 Vostok-L (L1-9) é lançado desde o Complexo LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. O terceiro estágio do foguetão, transportando a sonda E-3 n.º 1 não consegue desenvolver a força suficiente (ou desactivando-se prematuramente) durante o voo atingindo uma altitude de 200.000 km antes de, sobre a influência do campo gravítico terrestre, reentrar na atmosfera. No dia 16 de Abril dá-se uma nova tentativa de lançar uma sonda lunar. A ignição dos motores do foguetão 8K72 Vostok-L (L1-9A) ocorre ás 1607:42,6UTC mas o propulsor Block-B somente atinge 75% da força prevista. Imediatamente após abandonar a plataforma de lançamento separa-se do Block A originando a explosão do foguetão sobre a plataforma de lançamento, perdendo-se assim a sonda E-3 n.º 2.
Passariam quase dois anos até a União Soviética tentar atingir de novo o espaço lunar e desta vez tentando pela primeira vez uma alunagem suave. A segunda geração de sondas lunares teria a sua génese a 10 de Dezembro de 1959 quando é autorizado pelo decreto ministerial 1386-618 para a criação de estações automáticas para a exploração lunar e para voos a Vénus e Marte. A 4 de Janeiro de 1963 é lançada a sonda E-6 n.º 2 por um foguetão 8K78 Molniya (T103-09). O lançamento tem lugar às 0848:57,6UTC e é levado a cabo desde o Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A missão da E-6 n.º 1 é a de colocar pela primeira vez na superfície lunar um módulo capaz de enviar fotografias após a sua alunagem e informações acerca das características mecânicas do solo, além de avaliar os perigos devido á presença de crateras, rochas e outras obstruções na superfície lunar. A sonda deveria também analisar os níveis de radiação na Lua. Ao contrário de utilizar um lançamento directo para a Lua, o foguetão 8K78 Molniya coloca a sonda E-6 n.º 2 e o estágio BOZ numa órbita terrestre com um apogeu a 189 km de altitude, um perigeu a 165 km de altitude, com uma inclinação orbital de 64,6º em relação ao equador terrestre e um período orbital de 88 minutos. O estágio BOZ deveria entrar em ignição ás 0955UTC colocando a sonda numa trajectória translunar. Porém, devido a uma falha eléctrica no sistema de propulsão e sonda juntamente com o estágio permanecem em órbita terrestre e acabam por receber a designação Sputnik-23 (00522 1963-001A). O Sputnik-23 acabaria por reentrar na atmosfera terrestre no dia 5 de Janeiro.
As sondas E-6 forem desenvolvidas pelo bureau OKB-1 a partir de 26 de Março de 1960. A sonda consistia de três secções principais: um módulo KTDU contendo um motor de correcção de trajectória e de travagem; um sistema constituído por dois pares de almofadas de ar para proteger o módulo de alunagem que seria ejectado da secção principal da sonda momentos antes da alunagem; e a estação lunar automática ALS de forma esférica. As pétalas da fuselagem exterior da cápsula ALS abriam tal como uma flor, colocando a plataforma fotográfica acima da superfície lunar e estabilizando-a. A cápsula era constituída por um compartimento hermético contendo equipamento de rádio, um dispositivo temporizador, sistema de controlo de temperatura, aparelhagem científica, fontes de energia e um sistema de televisão. Após a abertura e estabilização do módulo na superfície lunar, eram colocadas em posição quatro antenas com o auxílio de molas e um sistema televisivo espelhado rotativo que proporcionava uma vista panorâmica do local de alunagem.
No voo para a Lua a sonda era orientada pelo sistema de astronavegação SAV do módulo KTDU. Este sistema utilizava cinco sensores (dois sensores terrestres, dois sensores lunares e um sensor solar) para determinar a orientação da sonda em relação a estes três corpos celestes. A uma distância de 8.300 km da Lua o SAV era utilizado para determinar a vertical em relação à Lua e em seguida eram activados giroscópios e a posição da sonda era registada. A ignição do módulo KTDU tinha lugar a 75 km da superfície e a 25 km de altitude as almofadas de ar eram activadas. Nesta fase o motor principal era desligado. A separação entre a cápsula ALS e o corpo principal da sonda ocorria mesmo antes do impacto com o solo após comandos enviados por um sensor e o dispositivo atingia a superfície lunar a uma velocidade de 15 m/s.
Uma segunda tentativa para lançar uma sonda E-6 ocorre a 3 de Fevereiro (0929:14,06UTC) quando o foguetão 8K78 Molniya (T103-10) é lançado desde o Complexo LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. Transportando a sonda E-6 n.º 3 o lançador é destruído às 0934:09UTC em resultado da instabilidade num circuito sensor de torque e devido a problemas num dispositivos giroscópicos. Os estágios superiores do lançador juntamente com a sonda reentram na atmosfera sobre o Oceano Pacífico.
Ás 0816:38UTC do dia 2 de Abril é lançado desde NIIP-5 Baikonur (LC1) o foguetão 8K78 Molniya (T103-11) que transporta a sonda E-6 n.º 4 que receberá a designação Luna-4 (00563 1963-008A), em mais uma tentativa para colocar um veículo na superfície lunar. A sonda atinge uma órbita terrestre com um apogeu a 182 km de altitude, um perigeu a 167 km de altitude e inclinação de 64,7º. Às 0934UTC a Luna-4 é colocada numa trajectória translunar após a ignição do estágio BOZ. A 3 de Abril estava prevista uma correcção de trajectória mas algo corre mal e esta não tem lugar o que faz com que a Luna-4 passe a 8.336 km da Lua a 6 de Abril. Apesar de não atingir a Lua a Luna-4 envia dados para a Terra durante alguns dias até à exaustão das suas baterias químicas. A sonda entra numa órbita baricentrica entre os 89.250 km e os 694.000 km.
Um novo lançamento para a Lua só terá lugar a 21 de Março de 1964 (0815:36UTC) quando o foguetão 8K78M Molniya-M (T15000-20) é lançado desde o Complexo LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. Porém, problemas no terceiro estágio do lançador impedem a colocação em órbita terrestre da sonda E-6 n.º 6 acabando por se destruir na reentrada atmosférica. Um novo fracasso é registado a 20 de Abril. Ás 0808:28UTC é lançado o foguetão 8K78M Molniya-M (T15000-21) a partir do Complexo LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur transportando a sonda E-6 n.º 5. Porém, e mais uma vez devido a problemas com o estágio superior do lançador que se desactiva às 0813:40UTC, a sonda não consegue atingir a órbita terrestre desintegrando-se na atmosfera.
Muitos dos problemas registados no decorrer das missões lunares do programa Luna deveram-se ao mau funcionamento dos lançadores utilizados e nomeadamente devido aos seus últimos estágios. Após a missão de Abril de 1964 os responsáveis soviéticos levaram a cabo diversos trabalhos para melhorar o desempenho destes lançadores, no entanto alguns problemas persistiram como foi verificado com o lançamento da sonda E-6 n.º 9 a 12 de Março de 1965. O lançamento decorre sem problemas ás 0925:31UTC levado a cabo pelo foguetão 8K78L Molniya-L (G15000-24), com a sonda a ser colocada numa órbita terrestre preliminar com um apogeu a 248 km de altitude, um perigeu a 195 km de altitude, uma inclinação orbital de 64,7º e um período orbital de 88,9 minutos. Na altura em que o motor do estágio Block-L deveria entrar em ignição nada acontece devido a um problema com um transformador do fornecimento de energia ao sistema de controlo. A sonda permanece em órbita terrestre acoplada ao estágio e recebe a designação Cosmos 60 (01246 1965-018A) que encobre a sua verdadeira natureza. O Cosmos 60 acabaria por reentrar na atmosfera terrestre a 17 de Maio. Uma nova tentativa para colocar uma sonda na superfície lunar ocorre a 10 de Abril às 0839:01UTC. O foguetão 8K78L Molniya-L (U10322/U15000-22) é lançado desde o Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur transportando a sonda lunar E-6 n.º 8. Desta vez um problema de despressurização da conduta de nitrogénio do sistema de pressurização do tanque de LOX, leva a uma falha do motor 8D715K do terceiro estágio Block-I que causa uma falha estrutural do lançador e a sua destruição.
Luna-5
A terceira tentativa em 1965 para colocar uma sonda na Lua ocorre a 9 de Maio com o lançamento ás 0749:37UTC de um foguetão 8K78M Molniya-M (U10324/U15000-24) a partir do Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur, transportando a sonda E-6 n.º 10 que receberá a designação Luna-5 (01366 1965-036A). Ás 0856UTC a sonda é colocada numa trajectória translunar. A trajectória da Luna-5 é corrigida a 10 de Maio mas os problemas com a sonda surgem no dia 12 de Maio quando o motor de travagem que deveria abrandar a sonda para uma alunagem suave deixa de funcionar fazendo com que o veículo se despenhe na superfície lunar num ponto localizado a 31º S – 8º O. O impacto na superfície lunar provoca uma nuvem de pó com uma altura de 220 km e uma largura de 80 km que é observada por astrónomos alemães. A alunagem da Luna-5 estava planeada para ter lugar ás 1915UTC.
Um aspecto das sondas lunares soviéticas Ye-6. Na parte superior da sonda (ao lado direito) encontra-se o módulo ALS de forma esférica que se separava do corpo central do veículo imediatamente antes deste tocar na superfície lunar.
Luna-6
Tirando partido de uma nova janela de lançamento lunar é lançada a 8 de Junho (0740U:23TC) a sonda E-6 n.º 7 que receberá a designação Luna-6 (01393 1965-044A). O lançamento é levado a cabo pelo foguetão 8K78M Molniya-M (U10333А) a partir do Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A Luna-6 é colocada numa órbita terrestre com um apogeu a 250 km de altitude e um perigeu a 170 km de altitude, tendo uma inclinação de 64,8º. Às 0847UTC dá-se a ignição do último estágio do foguetão lançador que coloca a sonda numa trajectória translunar. No dia seguinte tem lunar uma correcção de trajectória para preparar a chegada á Lua mas algo corre mal e o motor de manobra não termina a queima até que todo o combustível seja consumido, levando a que a Luna-6 permaneça numa trajectória que a leva a falhar a Lua por 159.612,8 km ás 1700UTC do dia 11 de Junho.
Luna-7 e Luna-8
O lançamento da seguinte missão lunar estava agendado para o dia 4 de Setembro mas acabou por ser adiado devido a problemas de funcionamento do sistema de controlo de separação entre os estágios iniciais do foguetão lançador. O lançamento da Luna-7 (01610 1965-077A), E-6 n.º 11, acaba por ter lugar ás 0736:48UTC do dia 4 de Outubro e é levado a cabo por um foguetão 8K78M Molniya-M (U10354/U15000-54) a partir do Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A sonda é colocada numa órbita terrestre preliminar com um apogeu de 286 km, um perigeu de 129 km e uma inclinação orbital de 64,8º. Ás 0903UTC a sonda é colocada numa trajectória translunar que é corrigida no dia seguinte. Ás 2208UTC dá-se a ignição prematura do motor de travagem da Luna-7 que faz com que a sonda ganhe velocidade acabando por se despenhar na Lua a 9º N – 40º O no Oceanus Procellarum. A série de fracassos não termina com a Luna-7 e a Luna-8 (01810 1965-099A), E-6 n.º 12, lançada a 3 de Dezembro terá destino semelhante. O lançamento é levado a cabo ás 1046:14UTC por um foguetão 8K78M Molniya-M (U10348/U15000-48) a partir do Complexo de Lançamentos LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur e a sonda é colocada numa órbita preliminar em torno da Terra com um apogeu a 250 km de altitude, um perigeu a 170 km de altitude e uma inclinação orbital de 51,8º. Pelas 1153UTC a LUna-8 é colocada uma trajectória translunar que é corrigida a 4 de Dezembro. As manobras para a alunagem suave são iniciadas sem problemas mas a retrotravagem ocorre mais tarde do que o previsto ás 2151UTC fazendo com que a sonda se despenha na superfície da Lua num ponto a 9,1º N – 63,3º O no Oceanus Procellarum. No entanto a missão da Luna-8 conseguiu levar a cabo o desenvolvimento experimental de um sistema de orientação estelar e de métodos de controlo a partir da Terra do equipamento de rádio, do equipamento de medição da trajectória de voo e de outra instrumentação.
Luna-9
Apesar de o sucesso alcançado nas missões ser relativo, o cenário estava prestes a mudar e mais um feito espacial espectacular seria atingido pela União Soviética com a sonda Luna-9 (01954 1966-006A). Lançada a 31 de Janeiro de 1966 ás 1141:37,0UTC a sonda E-6M n.º 13 foi colocada numa órbita preliminar em torno da Terra com um apogeu a 219 km de altitude, um perigeu a 167 km de altitude e uma inclinação orbital de 51,8º. O lançamento foi levado a cabo pelo foguetão 8K78M Molniya-M/L (U716-49/U15000-49) a partir do Complexo de Lançamentos LC31 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. Ás 1248UTC o último estágio do lançador coloca a Luna-9 numa trajectória translunar e ás 1929UTC do dia 1 de Fevereiro o motor de manobra da sonda inicia uma correcção de trajectória durante 48 segundos. A alunagem na superfície lunar ocorre sem problemas ás 1844:52UTC do dia 3 de Fevereiro num ponto localizado a 7,08º N – 295,63º E no Oceanus Procellarum. A primeira de três séries de imagens televisivas são transmitidas ás 0150UTC do dia 4 de Fevereiro ao longo de um período de 107 minutos que depois de combinadas proporcionam uma vista panorâmica do local de alunagem. Uma segunda série de imagens começa a ser transmitida às 1400UTC e ao longo de um período de 174 minutos. Estas imagens fornecem também uma vista panorâmica do local de alunagem e mostram que a cápsula alterou ligeiramente a sua posição permitindo assim uma vista estereoscópica do local.
A terceira série de imagens começa a ser transmitida ás 2037UTC do dia 5 de Fevereiro e tem uma duração de 138 minutos. A última transmissão proveniente da Luna-9 que se inicia ás 2255UTC cessa abruptamente quando as suas baterias químicas se exaustam. O contacto rádio total com a Terra teve uma duração de 8 horas e 5 minutos, enviando um total de 27 imagens da superfície lunar que revelavam pormenores perto da sonda e do horizonte a 1,4 km de distância.
Em toda a sua dimensão a Luna-9 representou um fantástico sucesso para a União Soviética e para o seu programa de exploração lunar não tripulada numa altura em que a corrida para a Lua ganhava momento. A alunagem suave da Luna-9 e as suas informações fotográficas por ela transmitidas representaram um grande avanço tecnológico e serviriam posteriormente como um estandarte de propaganda do regime.
Imagens: Arquivo fotográfico do autor