Depois da exploração lunar, era então tempo de voltar para o interior do módulo lunar.
Este é o último capítulo da saga lunar da Apollo-11 que nos contou os momentos épicos vividos em Julho de 1969 por Neil Armstrong e Edwin Aldrin.
A épica viagem da Apollo-11 (IX)
De volta ao interior
Logo após Aldrin ter orientado Armstrong a entrar no módulo lunar através da escotilha, ele relatou, “A escotilha está fechada e segura.”
As botas dos astronautas, parte inferior das pernas e luvas estavam cobertas com a negra poeira lunar, e como o LEC tinha ficado coberto com este material como resultado de ter sido arrastado pela superfície, a poeira havia entrado na cabina enquanto se elevavam as caixas de rochas. Alguns cientistas haviam sugerido que o material rico em ferro na superfície lunar poderia ter sido modificado pela sua longa exposição às partículas carregadas do vento solar que iriam entrar em combustão ao contacto com o oxigénio, e tinham expressado a sua preocupação de que o último que seria escutado do Eagle seria um recital da lista de verificação até à repressurização da cabina! De facto, durante vários minutos à medida que a pressão no interior aumentava até aos 4,8 psi de oxigénio, a tripulação não respondeu às chamadas – mas não tinham sido consumidos pelas chamas, eles estavam a trocar os seus cabos umbilicais da PLSS para o sistema de comunicações do Eagle. Ao subir os seus capacetes, eles notaram um odor que Armstrong comparou ao cheiro das “cinzas húmidas numa lareira” e Aldrin a “pólvora usada”.
À medida que Armstrong e Aldrin percorriam a lista de verificação pós-ingresso, o Columbia reaparecia na revolução 19. McCandless actualizou então Collins, “A tripulação da Base da Tranquilidade está de volta ao interior da sua base, repressurizada, e estão no processo de retirar as PLSS. Tudo correu lindamente.”
“Aleluia,” respondeu Collins.
Para tornar o estágio de ascensão mais leve, todos os itens que já não eram necessários seriam descartados. A Hasselblad extraveícular havia sido deixada na MESA. A versão para uso interno seria descartada, mas primeiro os astronautas usaram o seu filme para documentar as paisagens das suas janelas mostrando as evidências das suas actividades. Eles estavam espantados pelo número de pegadas. Para finalizar, tiraram algumas fotografias interiores, obtendo-se assim uma excelente fotografia de Armstrong perecendo muito contente.
Apesar da escotilha ter estado aberta durante 2 horas 31 minutos 41 segundos, eles haviam passado mais tempo nos sistemas das PLSS devido à necessidade de mudar para os sistemas portáteis antes da abertura da escotilha, e permaneceram nos sistemas durante algum tempo após o seu encerramento. Como a taxa a que os astronautas iriam gastar a água de arrefecimento não era precisamente previsível e eles necessitavam de uma margem em caso de dificuldade em retornar ao sistema de fornecimento da cabina, a duração nominal da excursão na superfície havia sido estabelecida muito mais curta do que a potencial duração das mochilas. Para avaliar o sistema de arrefecimento da PLSS, a restante água nos seus tanques foi transferida e pesada. Pensava-se que Armstrong (estando no exterior por mais tempo) iria usar cerca de 2,45 kg de refrigerante e Aldrin 2,31 kg. De facto, Armstrong usou uns meros 1,31 kg; porém, Aldrin usou 1,99 kg, devido à sua performance para o arrefecimento intermédio. Reflectindo mais tarde, “Eu tinha os níveis de arrefecimento mais frios estabelecidos na válvula de fluído porque me pareceu reconfortante dessa forma. Em retrospectiva, parece que isto leva a um maior consumo de água. Não estava completamente ciente de que quando eu estava num fluxo mais elevado eu estaria a bombear mais água para fora. Não era claro para mim antes do voo de que teria tal efeito no meu consumo de água. Certamente que poderia ter operado com significativamente menos água sem sobreaquecer.” No entanto, ambos os homens consumiram menos água do que era esperado, e poderiam ter permanecido no exterior por um período mais longo.
Enquanto se iam limpando, Aldrin descobriu que havia arrancado um disjuntor no painel no seu lado da cabina, e que um outro disjuntor havia sido premido; evidentemente, enquanto envergava a PLSS ele tinha batido no painel. Os disjuntores eram os normais disjuntores que tinham de ser premidos e que são usados nos aviões. Quando o disjuntor foi premido para abrir o circuito expôs uma banda branca, e quando foi premido para fechar o circuito escondia a banda como uma pista visual. Apesar de ter sido possível fechar o circuito ao se inserir a ponta de uma esferográfica para o ajustar, não haveria maneira de o abrir de novo. Como o disjuntor danificado seria usado para fornecer energia ao estágio de ascensão, a prioridade era a de determinar o seu estado actual. Houston disse que a telemetria indicava que estava aberto. Foi decidido esperar até o circuito ser necessário, depois usar uma esferográfica para o empurrar para dentro; se falhasse a fixar, os técnicos tinham uma opção manual para fornecer energia ao motor.
À medida que os astronautas terminavam a sua refeição pós-passeio lunar composta por um cocktail de salsichas e bebida de fruta, Deke Slayton comunicou para os congratular, “Eu quero que vocês saibam que como vocês estão uma hora e meia para lá do previsto e como vamos tirar um dia de folga amanhã, nós vamos deixar-vos. Vemo-nos mais tarde.”
“Não te culpo nem um pouco,” respondeu Armstrong.
“Foi um grande dia, rapazes. Gostei mesmo,” disse Slayton.
“Obrigado,” disse Armstrong. “Não podes ter gostado tanto como nós.”
“Foi muito bom,” adicionou Aldrin.
“Desejamos que se despachem e que tirem o lixo daí,” incitou Slayton.
“Vamos mesmo começar a fazê-lo,” garantiu Armstrong.
Para despressurizara cabina os dois homens colocaram os seus capacetes e luvas e verificaram os seus cabos umbilicais nos sistemas de suporte de vida da cabina. Tendo em conta o tempo que eles tinham demorado a despressurizar a cabina da primeira vez, foi sugerido desta vez que abrissem também a válvula na escotilha superior. Isto reduziu o tempo de despressurização para uns meros 90 segundos. Não houveram comunicações enquanto a escotilha esteve aberta. Armstrong atirou primeiro uma das PLSS e depois a outra com força suficiente para passar o extremo mais afastado do patamar. Seguiram-se as protecções das botas e o sistema de alargamento dos capacetes, juntamente com os descansos dos braços da cabina, o corpo da Hasselblad, um filtro de dióxido de carbono saturado do sistema da cabina, sacos de urina e pacotes de comida. O OPS foi mantido no interior caso fosse necessário proceder a uma transferência externa para o Columbia.
Entretanto, o Columbia reaparecia uma vez mais e McCandless chamava, “Suponho que te desejaremos uma boa noite e te deixamos dormir um pouco, Mike.”
“Parece-me bem,” concordou Collins.
Tendo voado numa missão Gemini-10 muito ‘atarefada’, Collins apreciaria o dia que passaria só no Columbia. “Desejei muito um tempo para descansar e olhar pela janela – para ter alguma perspectiva do que tudo significava.” Ele gozou os 48 minutos por órbita durante os quais se encontrava no lado longínquo da Lua. Mais tarde iria escrever, como que num diário, “Estou agora só, verdadeiramente só, e absolutamente isolado de qualquer forma de vida conhecida. Eu sou a vida. Se fosse feita uma contagem, o resultado seria três mil milhões mais dois no outro lado da Lua, e um mais Deus-sabe-lá-o-quê neste lado. Sinto isto intensamente – não com medo, ou solidão – mas como consciência, antecipação, satisfação, confiança, quase exultação. Gosto do sentimento.”
“Repressurização completa,” anunciou Armstrong, terminando o período de silêncio.
“Observamos o vosso equipamento a ser descartado pela TV,” disse McCandless, “e a experiência sísmica passiva detectou os impactos quando cada PLSS atingiu a superfície.”
“Não podemos escapar com nada, pois não?” riu-se Armstrong tendo em conta o lixo que fizeram.
“De facto, não,” concordou McCandless.
Vários minutos mais tarde, McCandless estava de regresso, “Gostaríamos de dizer, em nome de todos aqui em Houston – e realmente em nome de todos em todos os países em todo o mundo – pensamos que fizeram um trabalho magnificente aí em cima hoje.”
“Muito obrigado, “ respondeu Armstrong.
“Tem sido um longo dia,” notou Aldrin.
“De facto,” concordou McCandless. “Tenham algum descanso aí e vemo-nos amanhã.”
“Já chega de televisão por hoje?” perguntou Aldrin.
“Sim, tem sido uma fantástica apresentação.”
“Muito bem. Desligando. Vemo-nos de novo amanhã.” Aldrin premiu o disjuntor para terminar a transmissão de televisão. A hora em Houston era quase 3 da manhã, e a maior parte das pessoas já tinham ido embora.
Quando McCandless terminou o seu turno, ele transferiu as comunicações para Owen Garriott da Maroon Team, que colocou um número de questões sobre vários aspectos da fase de superfície da missão. Após aceitar um deferimento de uma descrição detalhada da geologia da área, Garriott terminou com uma questão destinada a ajudar na identificação da localização do módulo lunar, “Comentaste, Neil, de que na vossa aproximação ao local de alunagem que passaram sobre uma cratera do tamanho de um campo de futebol contendo blocos de rocha com 3 a 4,5 metros de tamanho. Podes estimar a distância da tua localização actual?”
“Pensava que estávamos suficientemente perto para que quando fosse ao exterior fosse possível ver o seu bordo, mas não o consegui fazer. Mas não penso que estejamos a mais de 900 metros para lá dela – isto é, 900 metros a Este,” respondeu Armstrong.
“Então estimarias a tua posição como sendo a menos de 900 metros, aproximadamente, a Oeste dessa grande cratera,” perguntou Garriott.
“Correcto,” concordou Armstrong.
Com isto, Garriott desejou à tripulação do Eagle uma boa noite.
Armstrong e Aldrin tinham um período de descanso de 7 horas previsto para antes do início das preparações para o lançamento. Como medida que precaução em relação à poeira em suspensão no interior do módulo lunar, eles voltaram a colocar os capacetes e a calçar as suas luvas. Aldrin colocou-se no chão ao longo da cabina, com as suas pernas dobradas pois a cabina não era suficientemente larga para as esticar por completo. Armstrong reclinou-se sobre a cobertura circular do motor de ascensão, encostando-se contra a parede posterior e com os seus pés suspensos sobre Aldrin numa fisga ou estilingue improvisado ao se suspender um dos cabos do peito de dispositivo instalado no LEC. Com as sombras das janelas corridas e o veículo desactivado, a temperatura desceu. “A coisa que realmente nos impedia de dormir, era a temperatura,” lembra Aldrin. “Era muito frio ali. Após 3 horas tornou-se insuportável. Claro que tínhamos o sistema de arrefecimento líquido em operação nos nossos fatos, e tentamos ficar confortáveis ao colocar a circulação de água no mínimo; mas não ajudou muito. Ligamos a temperatura dos nossos sistemas de oxigénio ao máximo; também não ajudou muito. Poderíamos ter subido as sombras das janelas e deixar a luz para nos aquecer um pouco, mas fazer isso iria destruir qualquer restante possibilidade de dormir.” O sistema de telemetria ajudou a monitorizar somente um conjunto de sensores biomédicos. Isto indicava que apesar de Armstrong não ser capaz de adormecer, o período de inactividade permitiu-lhe relaxar após o maior dos dias.
Entretanto no Mar das Crises
Enquanto Armstrong e Aldrin estavam a atentar dormir, a sonda não tripulada Luna-15 da União Soviética tentava descer e acabaria por se despenhar, Sir Bernard Lovell, tendo seguido a sonda usando o radiotelescópio de 76 metros localizado em Jodrell Bank, estimara que a sonda cairia no Mar das Crises a cerca de 805 km a Este da Base da Tranquilidade. A agência de notícias soviética TSS anunciou, “O programa de pesquisa no espaço perto da Lua, e de verificação dos seus novos sistemas da estação automática Luna-15, foi finalizado. Às 18h47 hora de Moscovo a 21 de Julho, um retrofoguetão foi activado e a estação deixou a órbita lunar e atingiu a superfície lunar numa área predeterminada.” Se a Luna-15 tivesse sido capaz de descer na Lua e recolher algum material, teria sido capaz de, em virtude de não ter de parar na órbita lunar, regressar à Terra um dia antes da Apollo-11. Gerry Carr referiu que a presença de um piloto humano tinha sem dúvida salvo o Eagle de um desastre similar. “O seu computador estava a dirigir-se para uma cratera rochosa, e o Neil apenas interveio e deslocou-o um pouco.” Apesar de a televisão Soviética não ter exibido o passeio lunar em directo, um curto vídeo foi incluído nas notícias do dia seguinte. A república popular da China, porém, não fez qualquer menção da missão.