Às 0256UTC do dia 21 de Julho de 1969, Neil Armstrong dava um pequeno passo com o qual atingia a recta final da corrida para a Lua. Este foi um momento de vitória na aventura espacial com o qual se resume todos os esforços levados a cabo desde 1961 para cumprir o desígnio de John F. Kennedy de se colocar um homem na superfície lunar antes do final da década.
Proferido semanas após o voo de Yuri Gagarin, o desafio de Kennedy levou à mobilização da industria espacial norte-americana numa guerra de propaganda com a União Soviética que na altura somava feitos espectaculares contra a tecnologia capitalista. O rumo da História iria tomar então outra direcção…
A épica viagem da Apollo-11 (VII)
O primeiro passo
Para Armstrong, sendo um piloto de teste, o acontecimento mais significativo da missão tinha sido o acto de descer na Lua. Mas para o público em geral, a alunagem tinha sido o prelúdio de um homem fazer a marca da sua bota na superfície da Lua.
“Estou no final da escada,” anunciou Armstrong. Estando na base do trem de descida do LM, segurando a escada com a sua mão direita e ligeiramente inclinado para a frente para balançar o peso da sua PLSS, Armstrong estava na sombra do Eagle mas a luz solar reflectida pela superfície iluminava este lado do veículo permitindo-lhe assim ver de forma razoável. “As bases do LM estão apenas enterradas na superfície 2 ou 4 cm, apesar da superfície parecer constituída por grãos muito, muito finos; à medida que nos aproximamos é quase como um pó.” Em casa, a sua esposa havia-lhe dito para “ser descritivo”. Joan Aldrin batia as suas mãos maravilhada, “Eu não posso acreditar nisto”.
Na casa de Collins, alguém comentava em espanto, “Isto é ficção-científica!” Apesar de a imagem proveniente da câmara ter um aspecto “fantasmagórico”, era notável (e, estranhamente, nunca imaginada pela ficção-científica) que as pessoas na Terra eram capazes de ver os seus representantes a darem o primeiro passo na superfície lunar ‘ao vivo’ na televisão. A sala do Mission Operations Control Room estava totalmente em silêncio. No centro de imprensa, os jornalistas estavam a ver num ecrã Eidophor cinematográfico. Ironicamente, na cidade de Carnarvon, que albergava uma das antenas da Manned Space Flight Network, não tinha televisores. Porém, a Australian Broadcast Corporation, havia contratado a Overseas Telecommunications Commision para transmitir o passeio lunar via satélite. No cinema local os habitantes haviam instalado um ecrã de 36,5 cm para que todos pudessem ver os primeiros passos na Lua. As pessoas no fundo da sala estavam a assistir ao evento utilizando binóculos!
Tendo descrito o suporte e a superfície adjacente, Armstrong anunciou “Vou agora sair do LM.” Durante a viagem entre a Terra e a Lua, Aldrin havia perguntado a Armstrong se já se havia decidido sobre o que iria dizer quando desse o primeiro passo. Armstrong respondeu-lhe que ainda estava a pensar nisso. Tendo rejeitado citações de Shakespeare e da Bíblia, e outras coisas que lhe pareciam ser demasiado pretensiosas, apercebeu-se que, quando se encontrava no final da escada, de facto só havia uma coisa para dizer! Segurando-se na escada com a sua mão direita, colocou o seu pé esquerdo firmemente da superfície ao lado do suporte do LM. “É um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a Humanidade.” (No original “That’s one small step for a man, one giant leap for mankind”). Devido ao sotaque característico de Armstrong, durante a frase pareceu que havia juntado (no original) o ‘a’ com o ‘for’, saindo ‘for-a’, dando assim a impressão que ter dito mal as palavras e dizendo algo sem sentido! (Em Houston eram 21h56 de Domingo, 20 de Julho de 1969). Tendo dito as primeiras históricas palavras, a sala do Mission Operations Control Room irrompeu em aplausos. Dave Scott, que havia voado na Gemini-8 com Armstrong, diria mais tarde que era típico do homem que havia durante tanto tempo pensado no que dizer, e depois expressar tanto em tão poucas palavras.
Armstrong largou a escada e saiu por completo da base do LM. Walter Cronkite dizia orgulhosamente à sua audiência na CBS que um americano de 38 anos estava a agora na superfície da Lua. Quando Armstrong arrastou o seu pé pela superfície, notou que o material semelhante a pó cobria a sua bota. “A superfície é fina e poeirenta. Eu posso levantá-la sem esforço. Adere em finas camadas como carvão poeirento às solas e aos lados das minhas botas.” Apesar das suas botas apenas fazerem ligeiras depressões na superfície, o material preservava muito bem as pegadas das suas botas. “Somente penetro uma fracção de centímetro, mas consigo ver as marcas das minhas botas e os passos nas partículas finas e arenosas.”
Envergando a sua unidade de mobilidade extraveícular de 82 kg, a massa de Armstrong era de cerca de 154 kg, mas no fraco campo gravítico lunar somente pesava um sexto deste valor e era leva nos seus pés. Ele não sentia o peso da unidade, dado que a sua pressão interna fazia com que o fato se suportasse a si mesmo. Segurando a escada com ambas as mãos, ele levou a cabo várias flexões de joelhos e depois deu alguns passos, afastando-se da base do módulo lunar deixando por breves momentos o campo de visão da câmara de televisão. Alguns membros da comunidade médica haviam expressado a sua preocupação de que os astronautas pudessem ter dificuldades em se adaptar rapidamente à gravidade lunar, e haviam pedido que algum tempo fosse reservado para uma aclimatização, sendo imediatamente chamados de volta para o módulo lunar se esta aclimatização fosse difícil. Porém, este pedido esquecia o facto de que os astronautas já haviam estado expostos à gravidade lunar no interior do módulo lunar durante várias horas antes de saírem para a superfície, e durante este tempo eles estavam a aclimatizar-se – se, de facto, fosse necessário um período de aclimatização. Outros haviam expressado as suas preocupações no caso de um astronauta cair de costas na superfície lunar poder ter dificuldade em se levantar. Caso Armstrong tivesse escorregado, isto poderia ter sido razão para um regresso antecipado ao interior do veículo. Ele estava determinado em aliviar estas preocupações. “Parece não haver dificuldades em me movimentar, tal como suspeitávamos,” continuando “É talvez mais fácil do que nas simulações a um sexto de gravidade. Não tenho qualquer problema em me deslocar.”
Tendo regressado para junto do LM para observar a sua parte inferior, Armstrong disse, “O motor de descida não deixou uma cratera de qualquer tamanho. Tem cerca de 30 cm de distância do chão. Estamos essencialmente num plano nivelado. Consigo ver algumas evidências de raios que emanam do motor de descida, mas um número insignificante.” Neste ponto, desprendeu o LEC da sua unidade, mas continuou a segurá-lo. “Buzz, estamos prontos para descer a câmara?” “Eu estou pronto,” respondeu Aldrin.
Após as sessões de treino terem sugerido que seria difícil transportar a carga de rochas no interior das caixas ao longo das escadas para o interior do LM no final do passeio lunar, foi projectado o LEC, baptizado de “Brooklyn clothes line”.Foi então decidido utilizar este dispositivo para transferir para o exterior a câmara Hasselblad. Armstrong deveria usar o LEC de mão para mão para fazer baixar o saco de transferência de equipamento. Agora que se havia afastado do LM, o terreno iluminado arruinava a sua adaptação visual à zona mais escura. Armstrong disse, “Está mesmo escuro aqui na sombra, e é um pouco difícil verificar que eu tenho um bom apoio.” “Vou-me deslocar para a luz sem olhar directamente para o Sol.” Ele não queria entrar por completo na zona iluminada pelo Sol porque ainda não desejava baixar o seu visor de protecção com uma camada de ouro. À medida que se movia para o extremo Sul da sombra, Aldrin elevada a Maurer, e o horizonte no Oeste aparecia no campo de visão. Nesta altura, a câmara terminava os 8 minutos de filme que havia restado e que Aldrin havia colocado a filmar. Também nesta altura, tendo por breves momentos trocado o sinal de televisão de volta para Goldstone, depois para Honeysuckle Creek e depois de novo para Goldstone, Houston foi informado de que a antena de 64 metros de Parkes havia finalmente adquirido o sinal, e que estava a fornecer o sinal às redes de televisão comerciais durante o resto do passeio lunar.
O corpo da máquina fotográfica Hasselblad 500EL Data Camera era altamente reflectivo para o controlo térmico na superfície lunar, e possuía uma lente f/5,6 com um comprimento focal de 60 mm. A velocidade do obturador e a focagem eram todas manuais; somente o sistema de avanço do filme era eléctrico. Os sistemas de ajuste foram todos aumentados no seu tamanho para permitir que os astronautas os pudessem operar com as luvas calçadas. Os dois homens haviam memorizado os tempos de exposição para diferentes ângulos solares. Para facilitar uma medição precisa ao longo de uma imagem para a ‘obtenção de dados’, foi colocada uma placa de vidro com uma grelha de 25 cruzes imediatamente à frente do plano focal. Originalmente pretendia-se que a câmara fosse segura pelas mãos dos astronautas enquanto obtinha as fotogr5afias, mas durante as sessões de treino Armstrong havia sugerido que fosse colocado um suporte na zona peitoral do fato lunar tornando assim a operação da câmara mais facilitada sem a fixação das mãos. Como o capacete iria impedir a utilização do localizador no topo da máquina fotográfica, o espelho rotativo e o localizador foram eliminados, e os astronautas aprenderam a apontar a câmara por tentativa e erro. Possuíam duas câmaras fotográficas, mas somente uma tinha as modificações para ser usada no exterior.
Após retirar a Hasselblad do interior do saco de transferência de equipamento, Armstrong colocou-a no seu suporte. De seguida colocou o LEC ao lado do suporte dianteiro do LM. Notando que a Maurer havia parado, Aldrin prestou-lhe atenção. Para além de trocar o filme, colocou a câmara num suporte localizado numa barra que percorria horizontalmente a sua janela, colocou a exposição para terreno iluminado, e apontou a câmara para Noroeste para assim documentar a maior parte das actividades externas. Enquanto Armstrong se preparava para obter imagens para um panorama parcial do local de alunagem, McCandless alertou-o para recolher a amostra de contingência. Esta amostra tinha prioridade na lista de tarefas na parte inicial da excursão porque, se um problema numa unidade PLSS o viesse a obrigar a um regresso antes da recolha de rochas ou se se viesse a verificar ser impossível transferir as caixas de rochas para a cabina, eles poderiam ter de regressar à Terra com somente esta pequena amostra. Armstrong disse que recolheria a amostra após ter obtido as imagens. Tirou nove fotografias, rodando ligeiramente a cada vez para documentar o horizonte desde o lado Sul, passando pelo Oeste e em direcção a Norte. Feito isto, deslocou-se para Norte cerca de 3,5 metros, saindo da sombra do Eagle e passando para a luz do Sol para assim lhe permitir ver o solo quando obtivesse a amostra e sabendo que esta posição estaria no campo de visão da Maurer. Como ainda não tinha baixado o seu visor coberto de ouro, permaneceu com as suas costas voltadas para o Sol, retirou uma pá de um bolso na sua perna esquerda e endireitou a vara de fixação multi-segmentada mesmo na altura em que Aldrin iniciava a operação da Maurer. À medida que Armstrong arrastava a pá ao longo da superfície, descobriu que apesar de que o material à superfície estar solto, este consolidava-se em profundidade e impedia a pá de penetrar mais do que uns meros centímetros. Porém, ao arrastar a ferramenta ao longo do solo várias vezes foi capaz de encher o saco.
“Parece-me bem daqui, Neil,” referiu Aldrin acerca da amostra.
Armstrong, presumindo que o comentário de Aldrin se referia à paisagem lunar respondeu, “Tem uma beleza austera muito própria. É muito como os desertos dos Estados Unidos. É diferente, mas é muito bonito cá fora.” Então disse dirigindo-se a Houston, “Tenham em atenção que muitas rochas têm o que parecem ser vesículas nas suas superfícies . Também, estou a olhar para uma agora que parece ter uma espécie de fenocristais.” Após separar o saco de amostras transparente da pá ele inseriu a pega da pá vários centímetros no solo. Ao inspeccionar o conteúdo do saco, notou que apesar de forma geral a superfície parecer castanho amarelada, a amostra era preta. Após selar o saco, ele amassou a amostra com os seus dedos, observando que apesar da maior parte do material ser finamente granulado também existiam fragmentos de rocha. A sua tarefa seguinte foi colocar o saco no seu curto bolso, mas a sua visão periférica através do visor era tão limitada que ele não conseguia ver a sua pala. “O bolso está aberto, Buzz?”
“Sim, está. Mas não está totalmente aberto até ao fato. Ajusta a parte de trás uma vez mais. Mais em direcção ao interior. Ok. Assim está bem.”
“Está no bolso?”
“Sim. Empurra-a para baixo. Ainda não está todo dentro. Empurra-o. Ora aí está.”
“A amostra de contingência está no bolso,” Armstrong informava Houston para alívio dos cientistas. De facto, eles teriam preferido que a amostra fosse obtida bem longe do Eagle pois os gases do motor de descida haviam deslocado o material na imediata vizinhança do veículo e potencialmente contaminado o que havia restado. Além do mais, a pressão do oxidante havia sido aliviada logo após a alunagem, e algum tetróxido de nitrogénio poderia ter contaminado a superfície. Mas Armstrong havia sido aconselhado a permanecer perto do veículo.
Segundo homem na superfície
Após Armstrong ter permanecido na superfície cerca de 15 minutos, Aldrin perguntou, “Estás pronto para que eu saia?”
“Espera um segundo. Vou mover isto ao longo do varão,” respondeu Armstrong. Ele ajustou a posição do LEC no suporte para garantir que não iria impedir a saída de Aldrin, e depois colocou-se a Sudoeste para documentar a sua saída. Quando Fred Haise alertou Joan para o iminente aparecimento de Aldrin, ela, sendo uma antiga actriz, observou, “É como uma entrada em palco.”
Antes de Aldrin sair, fez uma inspecção final à câmara Maurer. A 27 de Fevereiro de 1969 Maxime A. Faget, Director de Engenharia e Desenvolvimento no Manned Spaceflight Center, escreveu a Owen E. Marynard, chefe do ramo das operações de missão. Sabendo que a cobertura televisiva do passeio lunar não seria de alta qualidade, Faget tinha muitas esperanças acerca da sua gravação em filme. Mas ao descobrir o que se pretendia levar a cabo, ele ficou desanimado. “Do ponto de vista da informação pública e da documentação histórica,” escreveu, “estou terrivelmente desapontado ao descobrir que apesar de 170 metros de filme terem sido reservados para serem utilizados na superfície lunar, nenhum será utilizado com o intuito de proporcionar uma apreciação de primeira classe das actividades dos astronautas na Lua durante este evento histórico. As impressões desta ocasião serão distorcidas pelo facto de que a maior velocidade de filmagem (em modo automático) é de 12 imagens por segundo. É discutível o facto de que a movimentação apropriada (apesar de um pouco espasmódica) pode ser criada utilizando ‘double-framing’. Porém, é quase inacreditável que a culminação de um programa de duzentos mil milhões de dólares seja gravada de uma forma de tão fraca qualidade.” A situação era de facto pior do que Faget havia sido levado a acreditar, dado que com a câmara a filma à sua velocidade mais baixa de uma imagem por segundo um carretel de 43 metros de filme era suficiente para apenas 93 minutos, e devido ao facto de não haver ninguém disponível para substituir o filme não seria possível documentar a totalidade do passeio lunar.
“Tudo pronto,” disse Armstrong. “Tu viste as dificuldades que estava a ter. Irei tentar observar a tua PLSS a partir daqui.” Á medida que os pés de Aldrin apareceram na escotilha, Armstrong dava pistas para assistir à saída de costa através do patamar.
Garantindo que não se ‘fechavam no exterior’, Aldrin referiu “Garantindo que não a fecho durante a saída” fechou parcialmente a escotilha para assim proteger a cabina do áspero ambiente térmico.
“Uma muito boa ideia,” concordou Armstrong.
“Esta é a nossa casa no próximo par de horas, e queremos tratá-la bem,” adicionou Aldrin. “Ok, estou no degrau superior.” À medida que começava a sua descida pela escada foi dando comentários pois um dos seus assistentes deveria avaliar a forma como um homem operava no ambiente lunar. “É uma maneira muito simples de saltar de um degrau para o seguinte.” À medida que o seu marido aparecia na televisão, Joan gritava de contentamento, inclinando-se para trás e levantando as suas pernas no ar, depois sentou-se de novo e atirou beijos para o seu marido.
“Tens mais três degraus e depois um mais comprido,” avisava Armstrong.
Aldrin continuava os seus comentários enquanto se preparava para saltar para o suporte de apoio do LM, “Vou deixar um pé aqui em cima, e ambas as mãos em baixo perto do quarto degrau.”
“Ora aí está,” disse Armstrong enquanto Aldrin saltava.
Seguindo o que fora feito por Armstrong, Aldrin testou a forma de saltar de volta para a escada, mas neste caso ambos os seus pés não acertaram no degrau inferior e acabou por cair de novo na plataforma.
“Só mais uns centímetros,” notou Armstrong.
Aldrin saltou de novo e desta vez com sucesso. Foi somente necessário recalibrar os seus músculos para um sexto da gravidade terrestre. “Esse foi um bom salto,” fez notar.
“Cerca de um metro,” disse Armstrong.
“Linda vista!” disse Aldrin quando olhava para a esquerda e para a direita enquanto se mantinha na base de apoio do módulo lunar.
“Sem dúvida que sim!” concordou Armstrong. “É uma visão magnífica aqui fora.”
Impressionado pelo contraste entre as sombras austeras e a esterilidade da superfície iluminada, Aldrin disse, “Desolação magnificente.” Mantendo ambas as mãos a segurar a escada, deslocou-se de costas para fora da plataforma e depois largou a sua mão esquerda voltando-se para Norte. Ficou impressionado com o pequeno tamanho da Lua. Para um homem na superfície, o horizonte encontrava-se a menos de 4 km de distância, sendo evidente que se encontrava numa esfera com a superfície a cair em todas as direcções. Isto não era tão evidente quando se observava a partir das janelas do módulo lunar dado que, estando mais alto e com o horizonte mais distanciado, era possível observar até uma distância razoável. Encontrando-se de pé, notou que era necessário se inclinar 10º para a frente para contrabalançar a massa da sua mochila. No entanto, esta posição ajudava-o a olhar para baixo, e fez notar que apesar de a superfície ser composta por grãos de poeira muito finos e de que existiam algumas pedras, existiam outros objectos que pareciam torrões de terra. O material solto era diferente do solo terrestre que, para além de fragmentos de rocha, contém produtos de origem química e húmus orgânico – o material lunar é melhor descrito como ‘regolitos’, sendo este o termo utilizado para descrever material composto somente de fragmentos de rocha de vários tamanhos. Como uma ‘brecha’ é o resultado da consolidação de fragmentos de rocha juntos numa matriz de material mais fino, os geologistas iriam posteriormente introduzir o termo ‘regolitos brechas’ para os pedaços compactos de regolitos que, apesar de se parecerem como rochas, rapidamente se desfaziam quando pressionados.
“Esta plataforma garantidamente não penetrou muito,” observou Aldrin.
“Não, não penetrou,” concordou Armstrong.
Tal como Armstrong, Aldrin espreitou para debaixo do Eagle, “Não existe absolutamente nenhuma cratera feita pelo motor.” Apesar dos gases terem dispersado a poeira radialmente, não havia escavado a superfície. Porém, existia uma marca imediatamente por debaixo do motor onde a sonda da perna esquerda de descida havia tocado a superfície.
Armstrong também observou que enquanto a sonda do suporto esquerdo estava dobrada em baixo do veículo, a sonda no suporto direito estava dobrada para fora. “Eu penso que é uma boa representação da nossa velocidade lateral na descida.”
Seguindo a sua lista de tarefas, Aldrin continuou com a sua familiarização, mas como não havia colocado o seu controlo de voz para a sua transmissão no volume máximo, a sua voz estava a ser constantemente cortada e muito do que dizia era incompreensível.
Entretanto, Armstrong havia inclinado a MESA para baixo e retirado um cobertor térmico de isolamento para assim expor o aparelho que se encontrava armazenado. “Houston, retirou o isolamento da MESA e esta parece estar em boa forma.” Voltando a sua atenção para a câmara de televisão, ele anunciou, “Vou mudar a lente.” Quando instalada, a câmara tinha uma lente que proporcionava um campo de visão de 80º. Armstrong pegou numa lente com um campo de visão de 35º a partir da MESA e colocou-a na câmara, arrumando a lente original. “Digam-me se estão a receber uma nova imagem.”
“Afirmativo,” respondeu McCandless. “Estamos a receber uma nova imagem. Podemos dizer que é uma lente com um comprimento focal mais longo. E para vossa informação, todos os sistemas do LM estão operacionais.”
“Apreciamos isso,” respondeu Aldrin. “Obrigado.”
A placa comemorativa
Apesar de cada homem ter a sua lista de tarefas pessoal colocada na sua luva esquerda, vários itens não se encontravam listados. O descerramento de uma placa comemorativa no suporte frontal foi uma tarefa que foi adicionada mais tarde na preparação da missão e com o qual somente Armstrong estava familiarizado. Com ambos os homens colocados ao lado da escada e no campo de visão da câmara, Armstrong descrevia a placa, “Primeiro, existem dois hemisférios, cada um mostrando um hemisfério da Terra. Por debaixo diz ‘Aqui os homens do planeta Terra pisaram a Lua pela primeira vez, Julho 1969 AD. Viemos em paz para toda a humanidade’. Tem as assinaturas dos membros da tripulação e a assinatura do Presidente dos Estados Unidos.” Medindo 22,8 cm por 19,4 cm com uma espessura de 0,01 cm, era feita em aço inoxidável #304. O mapa e as assinaturas eram feitos em epoxy negro e de inscrições gravadas. Era uma placa curva conforme o raio de 10,2 cm do suporte radial, mas não estando em contacto directo com ele, estando fixada à escada por quatro clipes de mola, dois no terceiro degrau e dois no quarto degrau. Armstrong retirou a deslocou a folha de aço inoxidável que havia protegido a placa, deixando-a assim exposta.
Segundo o Administrador da NASA Thomas O. Paine, a decisão de se fabricar a placa foi um assunto de última hora no qual ele e Wallis H. Shapley, um Administrador Executivo Associado. Fizeram um rascunho, chamaram um artista para o desenhar devidamente e enviaram o resultado para a Casa Branca para ser aprovado. Porém, o relato de Paine é contrariado por Jack A. Kinzler, um engenheiro no Manned Spacecraft Center. Este relato refere que quando Robert R. Gilruth telefonou a perguntar por ideias sobre como celebrar a alunagem, Kinzler sugeriu que uma placa fosse deixada no estágio de descida. Kinzler e o seu colega David L. McCraw fizerem um protótipo que tinha uma bandeira dos Estados Unidos em vermelho, branco e azul gravada no aço inoxidável, junto com as assinaturas da tripulação e o nome do local de descida – na assumpção de que este seria baptizado. Gilruth substituiu a bandeira pelos dois hemisférios com os traçados dos continentes e sem as fronteiras políticas, para identificar o planeta de origem. Kinzler disse que, “Uma vez que o conceito da placa foi aprovado, a direcção da NASA tomou conta do assunto.” Quando foi enviado para a Casa Branca, Nixon alterou o tempo verbal da frase para o pretérito perfeito, e sugeriu que a sua assinatura fosse adicionada. Julian Scheer, chefe das relações públicas da agência espacial, acrescenta um pormenor à história dizendo que a NASA recusou a sugestão de Nixon para que as palavras ‘under God’ fossem inseridas após a palavra ‘peace’. O desenho da placa foi tornado público antes do lançamento. Os astronautas não estiveram envolvidos no projecto, mas sentiram que foi feito de bom gosto.
“Estás pronto para a câmara?” perguntou Armstrong.
Apear de Aldrin dever usar a Hasselblad de seguida, decidiu não pegar nela por enquanto. “Não. Pego nela mais tarde.” Ele estava a seguir a lista de tarefas atentamente e a próxima tarefa era a recolocação da câmara de televisão, “Pega na televisão agora.”
Tendo puxado um cabo na MEA para libertar o tripé no qual iria montar a câmara de televisão, Armstrong notou, “Será que podes puxar o meu cabo por mim, Buzz?”
“Como está a temperatura aí?” perguntou Aldrin á medida que puxava do cabo da MESA. Um dispositivo sensível á temperatura na câmara de televisão foi elaborado para escurecer com o aumento da temperatura; ainda estava branco, indicando que a câmara não havia sobreaquecido enquanto havia sido testada antes da colocação da MESA.
“A temperatura da câmara mostra ‘frio’,” referia Armstrong. Ele transferiu a câmara da MESA para o tripé e começou a deslocar-se com ela para Noroeste, arrastando o cabo à medida que caminhava. No caminho, alguma coisa brilhante despertou a sua atenção no fundo de uma pequena cratera. Mais tarde concluiu-se que era um pedaço de vidro, formado pelo calor de um impacto a alta velocidade que derreteu o regolito. De facto, existem dois tipos de crateras, ‘primárias’ e ‘secundárias’, sendo as primárias produzidas pelo impacto de um objecto proveniente do espaço a velocidades cósmicas, e as secundárias são produzidas pela queda do material ejectado a quando do impacto primário. Como o material que é ejectado a uma velocidade superior a 0,0007 km/s irá escapar da Lua, a velocidade do impacto secundário é necessariamente uma ordem de magnitude inferior à velocidade do impacto primário, e como a energia cinética é proporcional ao quadrado da velocidade, a energia do impacto primário para uma massa específico excede grandemente a energia do impacto secundário, sendo suficiente para derreter e fundir o regolito.
Vendo que Armstrong havia parado, Aldrin notou que havia mais cabo. “Não, continua. Temos muito mais, apesar de estar a ser mais difícil de o puxar agora.”
“A que distância devo estar, Buzz?”
“Oh, 12, 15 metros.” Então Aldrin sugeriu que Armstrong desse à audiência uma vista panorâmica. “Porque é que não dás a volta e os deixas ver o cenário a partir daí, e vê como é que é o campo de visão?”
“Muito bem,” concordou Armstrong.
“Estás a ir contra o cabo,” avisou Aldrin ao ver que Armstrong estava em risco de se emaranhar no cabo. “Roda para a tua direita; assim será melhor.”
“Não me quero virar para o Sol se o posso evitar,” notou Armstrong. Agora que estava na luz solar, ele estava a ter cuidado para não apontar a câmara para o Sol dado que a intensa luz solar iria de certo danificá-la. Armstrong colocou o tripé a 17 metros a Noroeste do Eagle. “Vou deixá-la assim, e caminhar à sua volta.” Uma vez em posição, ele inspeccionou as linhas inscritas no topo do corpo da câmara para indicar o campo de visão angular da lente. “Houston. Como está esse campo de visão?”
“Gostaríamos que a apontasses um pouco mais para a direita,” instruiu McCandless. Armstrong ajustou a câmara. “Foi um pouco demais para a direita! Será que podes retroceder cerca de 5 graus?”
“Pensas que deveria estar um pouco mais afastado ou mais perto?” perguntou Armstrong uma vez alinhado com o Eagle, mostrando Aldrin, que, tendo avançado para a sua próxima tarefa na sua lista, estava a configurar a MESA para as actividades de recolha de amostras.
“Não te podes afastar muito mais,” referiu Aldrin, tendo retirado todo o cabo.
Panorama televisivo
Armstrong dedicava-se agora a orientar a câmara para dar à sua audiência uma série de imagens ao longo do horizonte. A imagem tornou-se desfocada enquanto a câmara se deslocava e ficava mais nítida quando estava parada. “Esta é a primeira imagem no panorama,” anunciou Armstrong. “É obtida em direcção a Nor-nordeste. Digam-me se têm a imagem, Houston.”
“Temos uma linda imagem, Neil,” confirmou McCandless.
Armstrong deslocou então a câmara ao longo do horizonte. “Ok. Aqui está outra boa imagem.” O horizonte não tinha quaisquer características, mas existiam muitos detalhes em primeiro plano. “Agora esta é em direcção ao Sol, para Oeste, e gostava de saber se conseguem ver uma pedra angular em primeiro plano a sair do solo.”
“Vemos uma grande pedra angular em primeiro plano,” confirmou McCandless, “e parece que há uma pedra muito mais pequena um par de centímetros à sua esquerda.”
“E cerca de 3 metros atrás dessa existe uma rocha ainda maior que é muito arredondada,” disse Armstrong. “A rocha mais próxima está a sair do solo em cerca de 0,3 metros; tem cerca de 45 cm de comprimento e cerca de 15 cm de espessura, mas está de lado.” Armstrong estava a gastar muito tempo neste panorama porque acreditava que na primeira alunagem os geologistas iriam gostar de ter uma vista mais detalhada do local.
McCandless notou então, “Já vimos esta paisagem, Neil.”
Armstrong moveu a câmara de novo, “Esta é em direcção a Sul.”
“Roger,” respondeu McCandless. “E vemos a sombra do LM.”
“A pequena colina mesmo atrás da sombra do LM é um par de crateras alongadas.” Existiam duas crateras alinhadas numa direcção de Este para Oeste a Sudoeste do veículo. “Provavelmente o par em conjunto é cerca de 12 metros de comprimento e 6 metros de largura, e são provavelmente com uma profundidade de 1,8 metros. Provavelmente teremos mais trabalho aí mais tarde.”
Armstrong deslocou a câmara para ver o Eagle onde Aldrin ainda se encontrava a trabalhar na MESA. Ele tinha colocado no bordo da MESA um saco de teflon no qual iriam colocar as amostras antes de as armazenar numa caixa de rochas, e tinha elevado uma mesa na qual seria colocada uma caixa; na sua posição de armazenamento as caixas eram colocadas na palete da MESA. Após alguns ajustamentos na orientação da câmara, Armstrong deixou-a a filmar o Eagle e a área imediatamente à sua frente. Existia uma antena de banda S com um disco de 2,5 metros de diâmetro e tripé próprio num compartimento do quadrante frontal esquerdo do estágio de descida, mas como a sua colocação demorava cerca de 20 minutos, só seria utilizada se Houston achasse que a qualidade da transmissão utilizando o pequena disco da antena de alto ganho no Eagle fosse insatisfatória, o que não era o caso.
Tendo retirado o Solar Wind Collector (SWC) da MESA, Aldrin deslocou-se para o colocar a uma curta distância a Norte do Eagle. A experiência era composta por uma folha de alumínio excepcionalmente limpo fixo numa vara que seria colocado virado para o Sol para aprisionar partículas do vento solar, particularmente iões de hélio, néon e árgon (todos elementos nobres não reactivos da tabela periódica dos elementos). Após Aldrin extrair a vara de alumínio, ele puxou e fixou o dispositivo no seu topo, então fez deslocar para baixo a folha de alumínio com um comprimento de 140 cm e uma largura de 30 cm, fixando-a na parte inferior da vara. Aldrin teve dificuldade em colocar a vara no solo lunar porque (tal como Armstrong havia notado anteriormente enquanto recolhia a amostra de contingência) a fina poeira lunar que compõe a superfície tornava-se mais consolidada a uma profundidade de 10 a 12 cm. A folha de alumínio deveria ser recolhida no final do passeio lunar e trazida de volta para a Terra. Devido ao facto de ser analisada por um laboratório na Suíça, a experiência era também conhecida pela ‘Bandeira Suíça’. No seu regresso desde a câmara de televisão, Armstrong obteve algumas fotografias de Aldrin com a Hasselblad enquanto trabalhava neste experiência.
Aldrin observou que apesar das marcas que as suas botas deixavam na superfície tinham somente algumas fracções de centímetros de profundidade, as suas botas penetravam vários centímetros nos locais onde o material estava mais acumulado nos bordos das pequenas crateras, perguntando-se se existia alguma correlação entre a consistência do material e a alteração do declive. Também notou que quando a ponta da sua bota penetrava no material mais solto num ângulo raso, havia a tendência de deslocar um pedaço de material caso fosse sólido, o que, por certo, não era. Um efeito similar foi observado enquanto de empurrava o material na superfície utilizando o braço robótico de uma sonda Surveyor. Armstrong adicionou uma observação sua sobre esta questão, dizendo “Eu noto nos locais mais suaves onde deixamos as pegadas de cerca de 2,5 cm de profundidade, o solo é muito coeso, e irá reter uma inclinação de provavelmente 70 graus ao longo do lado das pegadas.” Estas observações acerca da mecânica do solo eram bem vindas por parte dos geologistas.
A cerimónia da bandeira
A 31 de Janeiro de 1969 o Director do Programa Apollo Samuel C. Phillips perguntou a Robert R. Gilruth do Manned Spacecraft Center, a Werner von Braun do Centro de Voo Espacial Marshall e a Kurt H. Debus do Centro Espacial Kennedy, sugestões sobre actividades simbólicas que pudessem ser levadas a cabo na primeira alunagem tripulada e que pudessem ilustrar os acordos internacionais em relação à exploração da Lua. O Tratado sobre os Princípios que Governam as Actividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Exterior que foi assinado pelos Estados Unidos e pela União Soviética a 27 de Janeiro de 1967 (e, incidentalmente, testemunhado por alguns astronautas entre os quais Neil Armstrong) referia, em parte, que as potências espaciais acordavam em não fazer reclamações territoriais em corpos celestes. Quando a NASA propôs que a bandeira das Nações Unidas fosse colocada na superfície lunar, esta proposta foi rejeitada pelo Congresso que referiu que a bandeira dos Estados Unidos fosse transportada para a Lua. Phillips propôs que os astronautas colocassem a bandeira das Nações Unidas ao lado da bandeira norte-americana, colocassem pequenas bandeiras das nações pertencentes às Nações Unidas no estágio de descida, ou somente depositassem uma cápsula informativa na superfície. Porém, o Congresso ordenou que somente a bandeira dos Estados Unidos fosse colocada na superfície. Por forma a impedir que algum fabricante de bandeiras reclamasse para si o privilégio de ter a sua bandeira norte-americana na Lua, George M. Low ordenou que fosse comprada uma bandeira com um comprimento de 1,5 metros e uma largura de 0,9 metros (ao preço médio de USD$3.00) a cada um dos fornecedores oficiais. Ordenou que as suas etiquetas fossem removidas e que uma secretária seleccionasse uma bandeira à sua escolha; as outras bandeiras não seriam desperdiçadas, porque se existia uma missão que os levasse a acenar com a bandeira norte-americana, esta seria a missão.
Tendo retornado ao Eagle, Armstrong e Aldrin recolheram o dispositivo com a bandeira que se encontrava armazenada numa mortalha térmica no corrimão esquerdo da escada. Os dois deslocaram-se então para Noroeste na direcção da câmara de televisão, com Aldrin a transportar a parte inferior da vara de alumínio e Armstrong a parte superior da vara com uma outra vara ligada no seu topo por um dispositivo de fixação que incorporava a própria bandeira. Uma vez em posição, Armstrong rodou a vara superior para a sua posição e os dois homens juntaram os lados opostos da vara telescópica para a trazer para fora, tendo-se no entanto bloqueado quase no final não ficando com a sua extensão total.
Nesta altura o Columbia apareceu sobre o limbo lunar. “Que tal está a correr?” perguntou Collins. Joan Aldrin simpatizava com ele, “Ele não sabe o que se está a passar, pobre Mike!”
“A AEV está a progredir de forma maravilhosa,” respondeu McCandless. “Creio que estão a preparar a bandeira agora.”
“Óptimo!” disse Collins.
“Acho que és a única pessoa que não tem uma cobertura de TV do que se está a passar,” consolou McCandless.
“Não há problema,” insistiu Collins. “Não me importo nem um pouco. Como está a qualidade da televisão?”
“Oh, é lindo, Mike. É realmente lindo,” garantiu McCandless.
“Oh, isso é óptimo!” disse Collins. “A iluminação é decente?”
“É sim,” confirmou McCandless.
Vendo que a vara não se abriria mais, Armstrong prosseguiu na colocação da parte inferior no solo. Tal como ocorrera com a SWC, o solo resistiu à penetração da vara. De forma frustrante, o material da superfície deu pouco suporte lateral para segurar a vara em posição. Ao colocar o resto da bandeira, Aldrin recuou para a saudar e a equipa de controlo jubilou e aplaudiu.
“Eles acabaram de colocar a bandeira agora,” informava McCandless a Collins, “e pode-se ver a bandeira na superfície lunar!”
“Lindo,” respondei Collins.
Enquanto Armstrong segurava a vara de suporte, Aldrin segurou a parte superior e inferior da bandeira e tentou endireitá-la, mas em vão. Eles deixaram a bandeira com uma ondulação permanente o que, em retrospectiva, lhe proporcionou uma aparência mais natural do que se tivessem sido capazes de a colocar totalmente plana. Para finalizar, Armstrong obteve duas fotografias de Aldrin junto da bandeira.
Passando à próxima tarefa, Aldrin procedeu à avaliação dos modos de mobilidade. De forma a permitir aos engenheiros a monitorização do seu progresso, ele deveria levar a cabo este exercício em frente da câmara de televisão. Quando questionado, McCandless verificou que ele se encontrava no campo de visão. Ele testou (1) o denominado ‘loping gait’ no qual alternou os seus pés; (2) o ‘skipping stride’ que era dirigido sempre com o mesmo pé; e (3) o ‘kangaroo hop’ no qual os dois pés agem em conjunto. O porte convencional de caminhada mostrou ser o mais efectivo. Na Terra poderia facilmente interromper o seu deslocamento com um único passo, mas na Lua eram necessários vários passos para abrandar dado que a taxa massa / peso havia sido alterada por um factor de 6. De forma similar, mudar de direcção enquanto em movimento tinha de ser feito em várias fases, forçando a perna exterior para dar a curva. À medida que Aldrin se deslocava em frente da câmara de televisão, a sua esposa ria-se de tal forma que os seus olhos lacrimejavam. Pat Collins, observando com barbara Gordon e Sue Bean, estava entretida pelo seu aparente comportamento disparatado. Jan Armstrong, que estava a assinalar os itens na sua lista de tarefas semelhante à dos astronautas na Lua, duvidava que eles conseguissem levar a cabo todas as tarefas dentro do tempo disponível.
Entretanto, Armstrong havia desmontado a Hasselblad e colocou-a na MESA para se preparar o equipamento com o qual deveria recolher o que os geologistas de campo denominavam de ‘amostras volumosas’ do solo lunar contendo fragmentos rochosos.
Uma chamada telefónica de longa distância
“Base da Tranquilidade, aqui Houston,” chamou McCandless num modo mais formal. “Será que se podem chegar à câmara num minuto, por favor.”
“Pode repetir, Houston,” disse Armstrong.
Após repetir o seu pedido, McCandless adicionou, “Neil e Buzz, o Presidente dos Estados Unidos está no seu escritório e gostaria de vos dizer algumas palavras.”
“Isso seria uma honra,” diz Armstrong.
Richard Nixon estava a ver os dois astronautas na televisão juntamente com Frank Borman no seu escritório privado na Casa Branca. Após terem içado a bandeira, Nixon passou para a Sala Ovas para fazer uma chamada telefónica para a superfície lunar. Com uma câmara preparada na Sala Oval, os canais de televisão apresentaram esta histórica chamada num ecrã dividido em duas imagens. Deke Slayton havia alertado Armstrong de que a certa altura durante o passeio lunar (sendo o momento óbvio após a colocação da bandeira) eles poderiam receber uma ‘comunicação especial’, o que significava a chamada de Nixon. Porém, isto foi uma surpresa completa para Aldrin.
“Pode prosseguir, Sr. Presidente,” disse McCandless.
“Neil e Buzz,” começou Nixon, “Estou a ligar-vos por telefone desde a Sala Oval na Casa Branca, e esta é certamente a chamada telefónica mais importante alguma vez feita. Vocês não podem imaginar o quão orgulhosos estamos pelo que fizeram. Para todos os americanos, este tem de ser o dia mais importante das nossas vidas. E para as pessoas de todo o mundo. Tenho a certeza de que eles, também, se juntam aos americanos no reconhecimento deste imenso feito. Devido ao que fizeram, os céus tornaram-se parte do mundo do homem. E à medida que falam connosco desde o Mar da Tranquilidade, inspiram-nos a redobrar os nossos esforços para trazer a paz e a tranquilidade á Terra. Por um momento e em toda a história da humanidade, todas as pessoas nesta Terra são realmente um só povo; um só no seu orgulho naquilo que vocês fizeram, e um só nas orações para que regressem em segurança à Terra.”
“Obrigado, Sr. Presidente,” agradeceu Armstrong. “É uma grande honra e privilégio para nós estar aqui a representar não só os Estados Unidos mas também os homens de paz de todas as nações, e com interesse e curiosidade e visão para o futuro. É uma honra para nós participarmos neste dia.”
“E muito obrigado,” acrescentou Nixon, “e espero – todos nós esperamos – ver-vos no Hornet na Quinta-feira.”
“Espero por isso, Sr.,” respondeu Armstrong, terminando a conversa.
Ambos os astronautas permaneceram nos seus lugares durante a comunicação de Nixon. Aldrin permaneceu silencioso e deixou as respostas para o seu comandante.
Na casa de Collins, Rusty Schweickart comentou que deveria haver muitos cientistas em todo o mundo a desejarem que os astronautas prosseguissem na recolha de rochas. De facto, Nixon foi mais tarde criticado por parte da comunidade científica por ter ‘desperdiçado’ o tempo limitado disponível aos astronautas. Aldrin, seguindo a sua lista de tarefas, deslocou-se, no final da comunicação, pela superfície lunar chutando-a com os seus pés para observar a forma como o material se dispersava. Quando a areia numa praia terrestre é movida e atirada ao ar, ela dispersa-se em arco com alguns grãos de areia a viajarem mais longe do que outros. Na Lua, e na ausência de atrito pelo ar, todos os grãos caíam na mesma distância radial, que dependia do impulso inicial e da fraca gravidade lunar. Como este fenómeno marcou uma acentuada diferença entre o treino e a realidade, pareceu fascinante a Aldrin. Ao regressar ao Eagle, Aldrin ficou impressionado pelo contraste da sombra do veículo, Estando na zona iluminada pelo Sol e projectando o seu braço na sombra, este parecia desaparecer. Além do mais, e tal como referiu mais tarde, “A luz era algo de aborrecido, porque quando atingia os nossos capacetes em ângulo lateral penetrava na zona transparente e produzia um encandeamento que se reflectia no interior. Quando entravamos na sombra ficávamos com uma reflexão do nosso próprio rosto, que obscurecia tudo. Quando o rosto entrava na sombra demorava uns 20 segundos antes das pupilas se dilatarem e assim se sermos capazes de ver os detalhes.”
(Continua)