A épica viagem da Apollo-11 (VI)

Apollo-11 11

Após descerem na superfície lunar, Armstrong e Aldrin iniciaram os preparativos para a primeira exploração humana do nosso satélite natural.

O Boletim Em Órbita tem apresentado uma série de relatos que nos levam até àquele memorável dia de 21 de Julho de 1969 no qual Neil Armstrong se tornou no primeiro ser humano a pisar a superfície da Lua.

A épica viagem da Apollo-11 (V)

Preparativos para a AEV

A lista de procedimentos para os dois astronautas vestirem os fatos extraveículares e a lista de itens necessários para a saída para a superfície lunar, era longa e excruciantemente comprida. Primeiro, cada astronauta retirou a sua unidade PLSS da sua localização na parede lateral e colocou-a no chão junto da escotilha frontal, depois os sacos contendo as luvas extraveículares e os sistemas adicionais para os capacetes foram retirados do local de armazenamento e colocados junto das unidades PLSS. De seguida, Armstrong retirou os conjuntos OPS do compartimento de armazenamento na parede lateral. Em caso de falha do sistema principal de fornecimento de oxigénio durante o passeio lunar, o OPS – que seria colocado sobre a mochila PLSS – continha a quantidade suficiente de oxigénio para permitir um regresso de emergência e uma ligação ao sistema de fornecimento da cabina do LM. Finalmente, Armstrong retirou as unidades de controlo remoto contendo os painéis que mostrariam o estado da PLSS e o sistema de rádio que seria utilizado no peito, além da protecção de borracha que serviria para firmar a tracção na fraca gravidade lunar. Aldrin transferiu a sua unidade PLSS para a cobertura circular do motor principal do estágio de ascensão, adicionou a sua OPS, colocou-se de costas e deslizou sobre a mochila. Armstrong ajudou-o a apertar os fechos e presilhas do peito e dos ombros, que se fixavam a anéis no fato, a fixar a unidade do peito às presilhas dos ombros e a colocar os tubos umbilicais da PLSS às suas ligações na parte frontal do fato. Depois foi a vez de Aldrin ajudar Armstrong a repetir o processo. O passo seguinte era a realização da verificação das comunicações com os rádios portáteis. Aldrin desligou o seu sistema umbilical de comunicações e ligou a ficha do sistema de comunicações do seu PLSS, com Armstrong a fazer o mesmo de seguida. Como as mochilas se projectavam 25 cm para trás, reduziam a facilidade de movimentos na apertada cabine. Na Terra o peso das mochilas era de 54,g kg, mas na Lua o seu peso era somente de 9 kg. Porém, retinham a sua inércia e se batessem contra as estruturas ultraleves do LM originavam um impacto significativo.

Houston,” chamava Collins, “será que podem activar a transmissão em banda S do Eagle para o Columbia, para assim poder escutar o que se está a passar?

Não se está a passar muito de momento,” notou McCandless, “Mas vou ver o que pode ser feito em relação a essa ligação.

Como parte das verificações das PLSS, a tripulação ligou a comunicação VOX, e apesar de isto permitir às pessoas escutar tudo o que se dizia, as conversações não eram particularmente compreensíveis para quem escutava sem a presença de uma lista. McCandless participava nas comunicações só quando era solicitado.

À medida que a hora 108 se aproximava, o oficial de relações públicas Jack Riley anunciava, “Neste altura não temos uma estimativa da hora a que a AEV irá começar.” Os astronautas estavam 30 minutos atrasados em relação ao previsto e cada vez se atrasavam mais. Jan Armstrong, sentada no chão em frente do televisor, ria-se da situação. “Estão a demorar tanto tempo porque o Neil está a tentar escolher as palavras que irá dizer quando caminhar na Lua.” Na casa de Collins havia mais impaciência do que tensão. Pat Collins sentara-se com um prato de lasanha na companhia de Claire Schweickart, Barbara Gordon e Mary Engle. Rusty Schweickart estava a tentar seguir os preparativos escutando a coluna sonora, mas os comentários dos astronautas não eram particularmente informativos. Notando que o seu marido havia pedido uma ligação entre o Eagle e o Columbia para que pudesse escutar o que se passava enquanto se encontrava no lado próximo da Lua, Pat suspeitou que ele iria estar no lado oculto quando se iniciasse o passeio lunar. Joan Aldrin estava relaxadamente a ouvir as gravações de Duke Ellington. Na altura disse a Audrey Moon, “Por vezes pensei, e terei mesmo dito ao Buzz, que ele estava tão mergulhado na mecânica do que estava a fazer, que de facto não se tinha apercebido do significado do que estava a fazer; nas agora penso que ele de facto se apercebeu!” Calmamente sentou-se ingerindo um prato de aperitivos e aguardou o desenrolar dos acontecimentos.

Avançando nos preparativos, Aldrin inseriu o fusível para o circuito de televisão. “Houston, estão a receber um sinal na televisão?” perguntava. O compartimento MESA ainda estava na posição de armazenamento, não permitindo a iluminação da câmara no interior, mas o sistema estava a transmitir.

Os dados que estamos a receber parecem bons,” disse McCandless, “e estamos a receber os pulsos de sincronização e uma imagem negra.”

Com o Sol baixo a Este, o veículo com 7 metros de altura estava a projectar uma longa sombra, e a escada na perna de suporte frontal estava virada para Oeste. “Irás encontrar a sombra e a escada numa sombra escura,” indicou Armstrong, “e assim teremos um problema com a televisão, mas tenho a certeza que poderão ver o horizonte iluminado.

Pedimos que abram o fusível do circuito de televisão,” disse McCandless. “Estará ligado daqui a cerca de 15 minutos, com o MESA fechado.” Houston queria o circuito fechado para evitar a possibilidade de a câmara sobreaquecer no interior do compartimento isolado. Aldrin deveria ter retirado o fusível logo após o teste, mas esqueceu-se de um passo na lista de verificação.

Temos luz verde para a despressurização da cabine?” perguntou Armstrong.

Não havendo resposta, Aldrin comentou sobre o facto do VOX deixar Houston escutar a conversa. “Eles ouviram tudo menos isto!” De seguida fez a mesma pergunta caso houvesse algum problema com o sistema de rádio de Armstrong. “Houston, aqui Tranquilidade. Aguardamos a luz verde para a despressurização da cabine.” De facto, o atraso deveu-se porque Charlesworth estava a consultar os seus controladores de voo. McCandless teria respondido a Armstrong com um “Aguardem”.

Finalmente, McCandless respondia, “Podem prosseguir com a despressurização da cabine.”

Os astronautas estavam 23 minutos atrasados em relação às 108:00 horas, e acabavam de receber a luz verde para procederem à fase final dos preparativos; passariam mais trinta minutos antes de estarem prontos para iniciarem a despressurização da cabine. Com o passeio lunar eminente, a tripulação principal e a tripulação suplente da Apollo-12 (Pete Conrad, Al Bean, Dave Scott e Jim Irwin) juntaram-se a McCandless. Gene Kranz regressara e sentou-se junto de Charlsworth para ver a transmissão num dos ecrãs de parede.

Tendo verificado que a cabine estava pronta para o vácuo, Armstrong e Aldrin acabaram de se preparar. Uma vez verificado o sistema de arrefecimento, o tubo umbilical da água foi ligado do PLSS ao fato para fazer circular a água através do fato interior de arrefecimento líquido. O tubo umbilical do oxigénio da cabine foi removido e o tubo umbilical do OPS foi ligado. Após ter aplicado um agente anti-embaciamento à parte interior do capacete de Aldrin, Armstrong fê-lo deslizar sobre a cabeça do seu companheiro e fixou-o na sua posição. De seguida prosseguiu com o escudo de policarbonato incorporando o conjunto do visor e proporcionando assim um visor interior e exterior. O visor exterior tinha uma cobertura em ouro para reflectir o forte brilho solar que, na ausência de uma atmosfera, era muito brilhante e contendo todo o espectro. Depois, Aldrin repetiu o processo com Armstrong. Finalmente, envergaram as suas luvas extraveículares, que tinham coberturas de fibra de aço e as pontas dos dedos em borracha para permitir alguma mobilidade. O conjunto constituído pela PLSS, OPS, sistemas de aumento do capacete, luvas extraveículares e protecções das botas, o conjunto era designado (na linguagem da NASA) como a unidade de mobilidade extraveícular. Aldrin utilizou um relógio sobre a sua luva direita, mas Armstrong decidiu deixar o seu relógio no interior como substituto de emergência ao temporizador do veículo. Uma lista das actividades a levar a cabo no exterior havia sido colocada na Guntlet de cada luva esquerda, enumerando as tarefas específicas de cada um. Tendo em conta a incerteza metabólica de um astronauta a trabalhar na superfície lunar, e tendo em conta o facto de que ninguém saber ao certo quanto duraria a água de arrefecimento, a duração do passeio lunar fora estabelecido de forma conservadora. Porém, o ‘relógio’ no sistema de suporte de vida começara a contar quando as PLSS foram activadas para pressurizar os fatos antes da despressurização da cabina.

Agora começa a ginástica,” observava Armstrong.

Aldrin baixou-se cautelosamente e abriu a válvula na escotilha frontal, e depois começaram a monitorizar a pressão no interior que inicialmente se encontrava a 4,8 psi. A despressurização deu-se lentamente devido ao filtro bacteriano incorporado na válvula para proteger o ambiente lunar de possíveis bactérias terrestres, no caso destas serem recolhidas no solo, trazidas para a Terra e aí mal interpretadas como uma evidência de vida lunar. À medida que a pressão baixava, a taxa de diminuição descia pois demorava mais tempo às restantes moléculas de gás percorrerem o caminho pela válvula. “Demora muito tempo a baixar a pressão, não demora?” brincava Aldrin. Quando a pressão chegou abaixo de 0,2 psi, Aldrin tentou abrir a escotilha mas esta não cedeu.

Neil, aqui Houston. Qual é o estado da abertura da escotilha?” perguntava McCandless a 10 minutos no processo.

Tudo está a correr aqui. Estamos só à espera que a cabine baixe a pressão para a abrir a escotilha. É de cerca de um décimo no nosso leitor,” respondeu Armstrong. Quinze segundos mais tarde, ele anunciou, “Vamos tentar abrir.” Mas mesmo a 0,1 psi a escotilha com uma área de 0,8m2 não abria. Aldrin sugeriu que abrissem também a válvula superior, mas decidiram esperar. Nos testes levados a cabo nas câmaras de altitude verificou-se que a despressurização da cabine era mais rápida, mas como a câmara nunca forma um vácuo perfeito não se tinha obtido uma leitura precisa do tempo necessário para tal. Como a escotilha era só uma fina cobertura de metal de fraca rigidez, Aldrin deslocou cuidadosamente um dos seus cantos para romper a sua selagem. Formaram-se então cristais de gelo à medida que o ar residual se deslocava para fora. Então, Aldrin prontamente levantou a escotilha em direcção aos seus pés. “A escotilha está a abrir-se,” anunciou Armstrong.

A válvula está em Auto,” confirmou Aldrin à medida que colocava a válvula para permitir que fosse operada desde o exterior.

A tarefa final foi a instalação do condutor do equipamento lunar (LEC). Isto era composto por um longo cabo de nylon com um gancho em cada extremidade para permitir que fosse ligado num circuito e colocado em torno e um fixador localizado na cabina. Tinha ganchos adicionais para permitir a fixação de equipamento pata ser transferido para ou da superfície. Para a saída de Armstrong, o cabo foi fixado numa presilha no anel do seu pescoço como uma medida de segurança. Com a escotilha totalmente aberta. Armstrong virou-se de costas e com uma mão sobre a cobertura do motor de ascensão, baixou-se cuidadosamente até ficar de joelhos no chão e com os seus pés na escotilha. Então Aldrin deu-lhe dicas para o ajudar a deslocar-se de costas para o exterior. Com a volumosa PLSS nas suas costas, a passagem era difícil e estreita, mas a escotilha era já do tamanho máximo possível com a configuração do módulo lunar. Rusty Schweickart disse aos que estavam na casa de Collins que a escotilha estava finalmente aberta. Ouvindo Aldrin dando assistência para a saída de Armstrong, Schweickart referiu “Não vás contra nada! Encontra a escada, Neil!” Quando o pivot da CBS, Walter Cronkite, questionou porque Armstrong estava a demorar tanto tempo, Schweickart comentou que era por causa “de não ter olhos no seu traseiro.” Armstrong percorreu o patamar mais ou menos apoiado no seu estômago até que as suas botas se encontraram na extremidade, então agarrou os corrimões laterais e levantou-se nos seus joelhos. Aldrin empurrou um saco de instrumentos através da escotilha, e Armstrong colocou-o de lado. Nesta altura, já tinham usado os recursos das suas unidades PLSS durante 25 minutos.

Houston, estou no patamar,” anunciou Armstrong.

Quinze segundos mais tarde, Aldrin ligou a câmara Maurer de 16 mm que havia previamente instalado num apoio no canto superior direito da sua janela. Como não tinha uma mira, ele ajustou a câmara o melhor que pôde para registar a sombra do Eagle com um pouco da superfície iluminada em cada lado. Armstrong entrou no campo de visão da câmara 30 segundos após ter sido ligada.

Fica onde estás um minutos, Neil,” disse Aldrin. Ao se preparar para a sua própria saída, Aldrin fechou parcialmente a escotilha para permitir que atravessasse o lado esquerdo da cabine, e não querendo que Armstrong prendesse o cabo na escotilha.

Podes abrir a porta um pouco mais?”, disse Armstrong, quando disse que podia continuar.

Muito bem,” disse Aldrin, e abriu completamente a escotilha para o espaço onde previamente havia estado.

À medida que Armstrong se preparava para descer a escada, o Columbia passava para lá da zona de comunicação e sem a sua ligação a vontade de Collins em escutar o que Armstrong iria dizer quando desse o primeiro passo na superfície lunar, foi frustrada.

No caso de Armstrong se ter esquecido de abrir o MESA, Aldrin perguntou, “Tiraste a MESA para o exterior?

Vou tirá-la agora,” respondeu Armstrong. Ele localizou o anel D ao seu lado e usando a sua mão esquerda, puxou-o. A paleta no quadrante dianteiro direito do estágio de descida deslocou-se até quase á horizontal. “Houston, a MESA deslocou-se sem problema.”

Roger,” respondeu McCandless. “E aguardamos a vossa TV.”

O fusível da televisão está instalado,” relatou Aldrin. A transmissão seria feita pela antena de alto ganho.

(Continua)