Em termos mediáticos, obviamente que a alunagem e o primeiro passo foram os pontos altos da Apollo-11. No entanto, a presença de dois homens na superfície lunar foi utilizada para uma criteriosa recolha de amostras da superfície da Lua e para a colocação de vários instrumentos que iriam ajudar a compreender melhor a história do nosso satélite natural e da Terra. Eventualmente, estes instrumentos iriam levantar mais dúvidas do que aquelas que ajudariam a responder, mas esta é, na verdade, a essência da descoberta e da Ciência.
A épica viagem da Apollo-11 (VIII)
Recolha de amostras
Tendo retirado a pá especial para a recolha de amostras da MESA, Armstrong dedicou-se à recolher o grosso das amostras na vizinhança da SWC, no solo que havia sido documentado como parte da experiência. O cabo da televisão era branco, mas quando ficava coberto com a poeira lunar era difícil de ser visto, e como retinha uma memória de ter estado enrolado recusava-se a permanecer assente no solo. Ao ver que os pés de Armstrong estavam a ficar emaranhados com o cabo, Aldrin disse “Cuidado, Neil! Neil, estás no cabo.” Armstrong tentou afastar-se do cabo, mas o visor do seu capacete limitava a sua visão inferior e a espessura do fato impedia-o de sentir a sua presença. Aldrin foi em sua ajuda. “Estás livre agora.” Como Armstrong teria de fazer muitas viagens até à MESA para recolher uma amostra de cada vez, ele usou a sua pá para levantar o cabo do chão, Aldrin agarrou-o, arrastou-o para o lado, juntou o excesso de cabo e atirou-o para debaixo do veículo.
Deixando Armstrong a recolher as amostras, Aldrin iniciou a sua primeira tarefa fotográfica, que era destinada a documentar a marca da sua bota na superfície. Após agarrar a Hasselblad na MESA, deslocou-se para uma zona no solo que ainda não tinha sido pisada e, utilizando a câmara na mão, obteve uma fotografia da área. Depois fez uma pegada com o seu pé direito, deslocou-se para trás e fotografou o resultado. Deslocando-se mais para a frente colocou a sua bota no solo novamente, e desta vez tirou uma fotografia quando elevava o seu pé, ao fazer isto notou que havia tanto material negro a cobrir a bota que fazia com que a sua cor ligeiramente azulada já não fosse visível. Passando para a próxima tarefa, Aldrin obteve uma imagem panorâmica a partir de uma posição a Sul da ponta da sombra do Eagle, cobrindo 360º em onze imagens, uma dos quais capturou Armstrong na MESA. Depois deslocou-se para o lado Sul do Eagle e obteve várias imagens para permitir que mais tarde os engenheiros da Grumman pudessem verificar o estado do veículo, no processo obtendo mais uma imagem de Armstrong na MESA através dos suportes do trem de descida dianteiro. Como a próxima tarefa na sua lista era a obtenção de imagens da zona de recolha das amostras de Armstrong, após terem sido recolhidas, ele perguntou, “Que tal está a correr a recolha das amostras, Neil?”
“Está a ser selada,” respondeu Armstrong. A recolha das amostras veio a verificar-se ser mais difícil do que durante as sessões de treino devido ao facto de que, na fraca gravidade lunar, o material rapidamente caia da pá de recolha à medida que era transportado para a MESA, resultando na perda de cada carga. O que permanecia de cada recolha, era colocado no interior no saco que Aldrin havia preparado. O objectivo do exercício era o de trazer de volta material suficiente para satisfazer os pedidos das muitas equipas de cientistas. Em cerca de 15 minutos Armstrong fez 23 recolhas. Dado que não queria confiar no facto de puder ter mais tempo na fase final do passeio lunar para obter amostras documentadas, ele fez um esforço para recolher a maior variedade possível de pequenas rochas para esta amostra. Quando terminou, colocou o saco na primeira caixa de rochas. A tampa da caixa proporcionava um fecho preciso e incluía um bordo fino para preservar o conteúdo em vácuo quando a caixa fosse transportada para uma atmosfera. Como não havia qualquer lubrificante na dobra da tampa, a sua selagem demorou mais tempo do que era previsto em parte devido ao facto de que na fraca gravidade lunar ela não tinha a mesma força como no treino.
Reflectindo no assunto, Aldrin perguntou a Armstrong se ele não quereria tirar as fotografias após a recolha, pois ele sabia precisamente onde as tinha feito. “Queres tirar alguma fotografia em particular da área de recolha, Neil?”
“Ok,” respondeu Armstrong. Quando Armstrong se juntou a Aldrin, agora na sombra do Eagle, Aldrin passou a câmara a Armstrong que a colocou no suporte do peito mesmo sabendo que iria tirar poucas fotografias. Num impulso, ele fotografou a placa no apoio frontal do módulo lunar, e como estava na sombra ele tirou várias fotografias com diferentes exposições. Depois prosseguiu para documentar a área da qual obteve as amostras. Aldrin seguiu. Tendo terminado a sua documentação, Armstrong tirou uma fotografia extemporânea de Aldrin , e depois voltou a colocar a câmara na MESA.
“Buzz,” Chamou McCandless. “Já removeste a câmara de detalhe da MESA?”
“Negativo,” respondeu Aldrin.
A Apollo Lunar Surface Close-up Camera (ALSCC) deveria proporcionar imagens estereoscópicas extremamente detalhadas do ‘solo’ lunar. Era muitas vezes designada como a ‘Câmara de Ouro’ porque havia sido desenhada por Thomas Gold, um astrónomo da Universidade de Cornell. Como foi um artigo que foi tardiamente adicionado ao programa de voo, os astronautas não tiveram muito tempo para treinar com a câmara. O plano previa que Aldrin a remove-se da MESA, mas Armstrong disse que ele o iria fazer. Assim, Aldrin resumiu os seus trabalhos de fotografia. Pegando na Hasselblad, ele obteve um panorama a partir de uma posição a Nordeste do Eagle, de novo cobrindo 360º em onze imagens, e depois concluiu a sua documentação do veículo.
“Houston, como está a decorrer o nosso tempo?” inquiriu Aldrin.
“Parecem estar cerca de meia hora mais lentos,” respondeu McCandless.
Armstrong começou a trabalhar com a ALSCC. Para obter uma fotografia (de facto, um par estéreo) ele tinha de a colocar no chão com o Sol a iluminar uma janela na sua base, e depois premir um gatilho para fazer a exposição e avançar o filme . No entanto, foi difícil operar a câmara e, apesar de ter sido desenhada para se manter a ela própria, tinha a tendência de cair quando deixava de ser apoiada pelo astronauta, o que se tornou frustrante.
“Neil e Buzz, aqui Houston,” Chamou McCandless, “Os vossos consumíveis estão em boa forma nesta altura.”
Colocando os instrumentos
Ao terminar a sua inspecção do Eagle, Aldrin está agora pronto para retirar da zona de armazenamento de equipamento científico SEQ (Scientific Equipment) o Early Apollo Surface Experiments Package (EASEP), uma actividade que Armstrong deveria documentar. “Neil, se segurares a câmara, eu irei trabalhar na SEQ.”
“Ok,” concordou Armstrong que pegava na Hasselblad das mãos de Aldrin.
O compartimento do quadrante posterior esquerdo do estágio de descida, oposto à MESA, tinha duas portas – uma porta mais pequena na esquerda que Aldrin simplesmente abriu, e uma porta maior que foi aberta horizontalmente ao longo do seu bordo superior e que deveria ser aberta utilizado um mecanismo de tracção. Apesar de o mecanismo de fixação da porta elevada não ter ficado devidamente seguro, esta permaneceu no seu lugar. A base do armário onde se encontrava o equipamento estava á altura do peito. O sismómetro PSE (Passive Seismic Experiment) estava armazenado num compartimento à esquerda e o reflector LRRR (Lunar Ranging Retro Reflector) estava à direita. Para cada um deles Aldrin tinha a opção de utilizar o sistema de guindaste para fazer baixar os instrumentos para a superfície, mas escolheu separar os ganchos e extraí-los de forma manual, concluindo que esta tarefa era mais fácil do que nos treinos. Tendo retirado o PSE ele deslocou-se cerca de 3 metros e colocou-o no chão, tendo então regressado para tirar o LRRR. Entretanto, tendo obtido as imagens do trabalho de Aldrin, Armstrong colocou o ALSCC e deslocou-se para um ponto a cerca de 18 metros a Sudeste do Eagle para obter um panorama de 360º em onze imagens. Aldrin fechou as portas do SEQ para impedir que a luz solar sobreaquecesse o estágio de descida. Perguntou então a Armstrong, “Já encontraste uma boa área?”
Apesar do terreno estar marcado por crateras, existia um lugar razoavelmente plano a Sudeste do Eagle. “Eu penso que aquela elevação é provavelmente tão boa como outro local qualquer.”
Segurando o PSE na sua mão esquerda e o LRRR na sua mão direita, Aldrin elevou a sua carga – que na totalidade pesava cerca de 12 kg na gravidade lunar – e dirigiu-se para a área indicada. Após obter várias fotografias de Aldrin a transportar os os instrumentos, Armstrong pegou no ALSCC e seguiu-o.
“Vai ser um pouco difícil encontrar uma zona plana aqui,” avisou Aldrin.
“O topo da próxima pequena colina ali,” indicou Armstrong. “Não seria um bom lugar?”
Aldrin parou a cerca de 12 metros do Eagle, “Será que devo colocar o LRRR aqui mesmo?”
“Pode ser.”
Aldrin depositou o LRRR e deslocou-se 4,5 metros colocando de seguida o PSE
Entretanto, Armstrong havia parado para estudar algumas das rochas maiores, “Estes pedregulhos parecem basalto,” disse, “e têm provavelmente 2 por cento de materiais brancos – cristais brancos. Mas aquelas coisas que havia falado antes como sendo vesículas, eu agora penso que são pequenas crateras; parecem pequenas crateras de impacto.” Ele estava correcto. Estas manchas brilhantes foi onde os micrometeoritos haviam exposto os cristais; seriam mais tarde designadas ‘zap pits’. Armstrong alinhou então o LRRR num eixo Este – Oeste, nivelou-o em relação à vertical local utilizando um nível com uma bolha de ar num fluído que tinha de ser centrada (observando que na fraca gravidade lunar a bolha demorava um surpreendente longe tempo para parar) e depois inclinou a plataforma espelhada virando-a para a Terra. É um erro comum dizer que a Terra, vista desde a superfície lunar, está sempre no zénite. De facto, para uma localização equatorial a 23º Este do meridiano lunar, a Terra esta correspondentemente situada a Oeste do zénite e roda em torno do seu eixo. Colocado na superfície e pronto para funcionar, o LRRR atinge a altura do joelho. A sua face incorporava um conjunto de 100 espelhos de sílica que deveriam reflectir um raio de laser de volta para a sua fonte. Apesar de um laser direccionado por um grande telescópio terrestre começar como um raio colimado com um pequeno diâmetro, por altura da sua chegada à Lua ter-se-ia dispersado e iluminado uma área com um diâmetro de 3,2 km, e como o instrumento seria somente capaz de reflectir uma pequena fracção, o sinal detectado na Terra seria muito fraco. A primeira sondagem com o laser foi levado a cabo pelo Observatório Lock perto de San José na Califórnia várias horas mais tarde, mas como a localização precisa do local de alunagem ainda não estava identificada, a primeira detecção não foi levada a cabo até vários dias mais tarde. Como o sinal reflectido era de difícil discernimento quando o local estava sobre luz solar, a pesquisa com o LRRR foi melhor levada a cabo durante a noite lunar.
A colocação do PSE foi um pouco mais complicada. Após orientar o instrumento em relação ao Sol ao garantir que a sombra projectada por uma referência na parte superior caía numa linha de referência predeterminada, Aldrin começou a nivelar o instrumento. O desenho original havia utilizado a ‘bolha’ de ar (tal como no LRRR) mas acabaria por ser substituída por uma pequena bola numa superfície esférica. Aldrin moveu desordenadamente o instrumento na superfície incaracterística, chegando para os lados o material solto, mas para sua surpresa a bola persistia em se mover em torno da periferia do receptáculo; na Terra teria parado no centro quase de imediato. “Esta BB gosta dos bordos. Não vai para o interior,” comentou Aldrin. Juntando-se a ele, Armstrong especulou que a copa na qual a bola se encontrava poderia ser convexa em vez de concava. “Houston,” chamou Aldrin, consciente de que o tempo estava a passar, “Eu não penso que haja alguma esperança na utilização deste dispositivo de nivelamento para determinar um nível preciso.”
“Prossiga,” respondeu McCandless. “Se considerar nivelado por observação visual, podes prosseguir.”
O instrumento tinha um par de painéis solares com três segmentos colocados nos seus lados e voltados para Este e Oeste. Um dos painéis abriu-se de forma automática, e Aldrin abriu o outro de forma manual. À medida que o mecanismo abria os painéis, os seus cantos inferiores tocaram o solo e ficaram cobertos com poeira. Com a sua antena de rádio em posição, apontando para a Terra, o instrumento elevava-se até à altura do peito. A transmissão inicial a partir do instrumento foi recebida por uma antena de 9 metros de diâmetro em Carnarvon, Austrália. O sismómetro era suficientemente sensível para detectar o caminhar dos astronautas (O sismómetro incluía um detector para medir a acumulação de poeira e os danos por radiação nas células solares, além de um sistema de aquecimento por isótopos para manter os sistemas electrónicos quentes durante a longa noite lunar. Apesar das temperaturas de operação excederem o previsto máximo de 30ºC, o instrumento funcionou normalmente ao longo do aquecimento máximo por volta do meio-dia lunar. Com um fornecimento de energia a partir dos painéis solares a decrescer cerca de 5 horas antes do pôr-do-sol local (a 3 de Agosto de 1969), as transmissões foram suspensas por um comando enviado da Terra. Foi novamente activado no dia lunar seguinte, mas (a 27 de Agosto) perto do meio-dia do seu segundo dia lunar o instrumento deixou de aceitar comandos e a experiência foi finalizada).
Nesta altura McCandless tinha boas notícias, “Neil, estivemos a ver os vossos consumíveis e estão em boa forma. Com a vossa concordância, gostaríamos de prolongar a duração da AEV por 15 minutos para lá do nominal. Ainda damos 10 minutos ao Buzz para regressar. A vossa duração é de 2 mais 12.”
“Muito bem,” respondeu Armstrong. “Parece-me bem.”
“Buzz,” indicou McCandless. “Se ainda está na vizinhança do PSE, será que podes tirar uma fotografia da bola?”
“Farei isso, Buzz,” disse Armstrong, que tinha a Hasselblad e havia se deslocado para trás do EASEP para documentar os instrumentos com o Eagle em segundo plano para contexto. “Olha!” exclamou ao inspeccionar o PSE. “Querem acreditar que a bola está mesmo no meio, agora?” A gravidade lunar havia finalmente colocado a bola no centro da copa, que claramente mostrava ser côncava.
“Lindo,” respondeu Aldrin. “Tira uma fotografia antes que se mova!”
Terminando as operações
Segundo o plano, haviam sido alocados 30 minutos para documentar as actividades de recolha de amostras que deveria ser uma actividade levada a cabo pelos dois homens. A primeira tarefa previa que Aldrin introduzisse um tudo de recolha de amostras na superfície. Armstrong deveria obter fotografias antes da recolha da amostra, com o tudo no solo, e após a sua extracção. Eles deveriam então recolher um determinado número de rochas, cada uma das quais deveria ser fotografada no seu lugar, recolhida cuidadosamente, e inserida num saco de amostras individual. Apesar do material lunar dever ser colocado no interior de uma caixa de rochas selada em vácuo, algum material deveria ser colocado numa caixa metálica que, quando selada, deveria reter e volatilizar de imediato os constituintes que de outra forma seriam difíceis de preservar quando a caixa de rochas fosse aberta no laboratório. Finalmente, se o tempo permitisse, deveriam recolher uma segunda amostra principal. Mas quando McCandless anunciou que somente estavam disponíveis 10 minutos para esta recolha, foi decidido não se proceder à documentação.
Quando Aldrin preparou um tudo de amostras na MESA, Armstrong desapareceu do campo de visão da televisão. Apesar de estar surpreendido pela descoberta de que, ao olhar para Este, ele não podia ver os pedregulhos que rodeavam a grande cratera para a qual o computador do Eagle os estava a levar, Armstrong era capaz de observar a cratera mais pequena sobre a qual tinha passado mesmo antes da alunagem. Como esta estava a somente 61 metros de distância, ele decidiu inspeccionar a cratera. Nada dizendo das suas intenções, ele dirigiu-se para lá, transportando o ALSCC. Ao chegar ao bordo Sudoeste da cratera, ele tirou uma sequência de 8 fotografias ao longo do seu fundo em direcção ao Sol, em torno do horizonte a Norte e afastando-se do Sol em direcção ao Eagle. A cratera tinha um bordo elevado e um interior coberto de rochas. Ele tentou entrar no seu interior para recolher uma rocha como um presente para os cientistas, mas o fundo era de 21 a 24 metros de diâmetro e com uma profundidade de 4,5 a 6 metros e, em qualquer dos casos, ele tinha de se apressar a regressar. No total, a sua excursão havia durado pouco mais de 3 minutos. Não teve dificuldade em manter um passo cadenciado que com o tempo que demorou o fez a 3,2 km/h.
“Buzz,” chamou McCandless enquanto Aldrin ainda estava na MESA fixando a extensão ao tubo de amostras, “Tens cerca de 10 minutos antes de iniciar as actividades de finalização da AEV.”
“Compreendo,” respondeu Aldrin, um minuto mais tarde pegou no tubo e dirigiu-se para recolher uma amostra num local já documentado perto do SWC. Este estudo da ‘mecânica do solo’ destinava-se a determinar a densidade do solo, força e compressibilidade em função da profundidade, iria também revelar as camadas, tanto em termos de composição química do material ou as suas características físicas, tais como o tamanho dos grãos de areia. O plano previa que o tubo oco fosse inserido até uma profundidade de 45 cm. As varas da bandeira e da SWV indicaram que o material que compunha a superfície era consolidado a uma profundidade de vários centímetros, mas Aldrin esperava que ao martelar o tubo ele fosse capaz de penetrar mais na superfície.
O punho de extensão do tubo de amostras chegava á altura do peito. Ao princípio Aldrin elevou o martelo até ao nível do seu peito, mas depois aumentou esta altura até ao nível da sua cabeça para gerar a força adicional necessária. O facto de o tubo ter pouco suporte a partir do material no qual penetrava, era uma complicação para esta tarefa e Aldrin tinha de o manter em posição com uma mão. À medida que se tornava mais determinado, ele observou que o martelo estava a danificar o topo do punho de fixação. “Espero que estejam a observar a forma como tenho de bater com força nisto para que entre no solo cerca de 2 cm, Houston,” disse. De facto, Aldrin só conseguiu introduzir o tudo 2 cm no solo para lá da profundidade que o havia inserido à mão. Desistindo, ele retirou o tubo do solo. O pó fino cobriu a secção que havia penetrado no solo, “Quase que parece húmido,” fez notar. Para seu alívio, o material não se desfez e deslizou pela parte aberta do tudo. No seu regresso, Armstrong tirou algumas fotografias de Aldrin a trabalhar, e depois acompanhou-o até à MESA para o ajudar a fechar o tubo. Uma investigação após a missão concluiu que o desenho da abertura do tubo teria impedido a sua penetração. Na expectativa de que o material da superfície estaria solto até uma determinada profundidade, o tubo havia sido desenhado com um bisel interno para compactar o material que ia entrando no tubo à medida que ia sendo introduzido no solo, mas como o material lunar a uma profundidade de poucos centímetros estava perto da sua densidade máxima, dificultava a penetração. Esta descoberta tornou ainda mais ridícula a ideia de que a superfície lunar era uma armadilha de poeira que iria engolir qualquer veículo espacial!
“Neil e Buzz,” chamou McCandless. “Gostaríamos que obtivessem duas amostras e o Vento Solar.” Por sugestão de Aldrin, Armstrong finalizou o encerramento da primeira amostra e Aldrin recolheu a segunda amostra 4,5 metros atrás do local onde havia recolhido a primeira. “Buzz,” chamou McCandless enquanto Aldrin martelava o segundo tubo, “em aproximadamente 3 minutos deverás iniciar as tuas actividades de finalização de AEV.” Ao compreender que não obtinha mais penetração em relação à primeira amostra, Aldrin recolheu o tudo e regressou à MESA para o fechar.
“Neil, após teres os tubos com as amostras e o Vento Solar, tudo o que puderes colocar na caixa de rochas será aceitável,” disse McCandless.
“Se quiseres recolher algum material,” disse Aldrin para Armstrong, “eu posso recolher o Vento Solar.” Aldrin separou a folha recoletora da sua vara de suporte, enrolou-a e colocou-a num saco, descartando a vara de suporte. Depositou o SWC no MESA junto dos tubos de amostras, pronto para Armstrong armazenar a segunda caixa de rochas.
Entretanto, Armstrong havia utilizado um par de longas pinças para recolher rochas representativas de uma determinada localização, incluindo rochas típicas e mais exóticas. Isto era essencialmente como planeado, mas sem a documentação e com as rochas a serem colocadas num grande saco em vez de sacos individuais.
“Buzz,” chamou McCandless. ”É altura de iniciares o fecho da tua AEV.”
“Estou a fazê-lo,” respondeu Aldrin.
À medida que os astronautas resumiam as suas operações em silêncio, o Columbia mais uma vez passava o horizonte lunar e ficava fora de comunicações.
“Gostaríamos de vos lembrar do filme da câmara de detalhe antes de subirem a escada, Buzz,” disse McCandless.
“Tens isso contigo, Neil?” perguntava Aldrin.
Armstrong havia se separado da ALSCC para proceder à recolha das amostras. “Não, a câmara está debaixo da MESA.” Tendo feito um relatório anterior do que pareciam ser vesículas em rochas e depois voltado atrás nas suas declarações, Armstrong havia localizado alguns exemplares genuínos, “Estou a recolher várias peças de verdadeiras rochas vesiculares, agora.”
“Não obtiveste nenhuma amostra ambiental, pois não?” perguntou Aldrin, referindo-se ao material que deveriam ter selado em caixas.
“Ainda não,” respondeu Armstrong.
“Bom, penso que não vamos ter tempo.”
“Neil e Buzz,” chamava McCandless. “Vamos prosseguir na recolha do filme da câmara de detalhe e encerrar os contentores com as amostras.”
Aldrin prosseguiu para a MESA e, apoiando-se a si próprio numa mão, inclinou-se para recolher a ALSCC. Após remover o filme, pediu a Armstrong para o ajudar a inserir o filme no seu estreito bolso. “Algo mais antes de subir, Bruce?”
“Negativo. Dirige-te para a escada, Buzz.”
“Lembra-te do filme disso,” relembrou Aldrin a Armstrong, referindo-se à Hasselblad.
“Eu lembro-me,” respondeu Armstrong.
“Vou subir e preparar o LEC para a primeira caixa de rochas,” disse Aldrin. À medida que ascendia a escada ele notou que a poeira que cobria as suas botas fazia com que os degraus fossem mais escorregadios. Armstrong deveria ter tentado limpar a poeira, mas não havia tempo.
Armstrong transportou a maior caixa de rochas da MESA para a frente do Eagle e pendurou-a no LEC, então adicionou o filme da Hasselblad no mesmo gancho. “Que tal está a correr, Buzz?”
“Estou bem,” respondeu Aldrin, que estava agora no interior da cabina. “Estás pronto para enviar o LEC para cima?”
O método para elevar a caixa para a escotilha requeria que Armstrong puxasse um cabo. Ao observar, Joan Aldrin riu-se, “Deus abençoe a caixa de rochas. Sinto-me como tivesse vivido com aquela caixa de rochas durante os últimos seis meses.” À medida que a acção se desenrolava, ela estava espantada, “Isto é um desenho animado do Walt Disney, ou mesmo um programa de televisão – é demasiado para acreditar ou compreender.” À medida que o cabo abanava na fraca gravidade lunar, o filme separou-se do gancho e caiu no chão junto do apoio dianteiro. Com o bordo da caixa a bater no bordo superior da escotilha, Aldrin pediu a Armstrong para afrouxar a tensão no cabo para baixar a caixa suficientemente permitindo assim que entrasse. Enquanto Aldrin armazenava a caixa, Armstrong recolheu o filme da Hasselblad. Como havia caído ao lado da base de apoio, decidiu não recolher as pinças da MESA e em vez disso agarrou a escada com uma mão e, dobrando-se sobre o peito, baixou-se para apanhar o filme que, como tudo o resto que havia entrado em contacto com a superfície lunar, estava coberto com uma fina camada de poeira negra.
“Uma já está dentro. Sem problema,” anunciou Aldrin, tendo arrumado a primeira caixa no seu receptáculo na cabina.
Nesta altura McCandless pediu a Armstrong que fizesse uma ‘verificação da MEU’. Apesar de ser um pedido normal a leitura dos sistemas da PLSS, o cirurgião de voo estava preocupado que o manuseamento da caixa de rochas e o trabalho com o LEC, o seu nível cardíaco havia subido para 160 batidas por minuto, e a verificação da MEU serviria para aconselhar a um descanso.
Um minuto mais tarde Aldrin perguntava, “Que tal está a correr, Neil?”
Tendo colocado um saco de rochas, tubos de amostras e o SWC numa segunda caixa e depois tendo-a selado, Armstrong pendurou a caixa no gancho e juntou-lhe o filme que havia caído ao solo. “Rapaz,” observou, “aquela porcaria do LEC está a cair sobre mim enquanto faço isto.”
“Toda essa fuligem, huh?”
Para proporcionar um descanso a Armstrong, Aldrin sugeriu que revissem o procedimento para a recolha da caixa, “Se puderes somente segurá-la. Eu acho que a posso puxar.”
“Espera um minuto, Deixa-me chegar para trás,” disse Armstrong. Ele chegou-se para trás para fazer tensão no LEC. Uma vez em caixa em cima, Aldrin separou o LEC do gancho e atirou o cabo através da escotilha. O transporte das caixas demorou mais tempo do que no treino, e o trabalho repetitivo contra o sistema de segurança inserido nas juntas dos ombros dos fatos lunares foi a provar ser o maior esforço do passeio lunar.
“E esse pacote da tua manga, tiraste isso?” inquiriu Armstrong.
Esta foi uma referência a um pequeno saco de lona contendo lembranças que Aldrin havia transportado no seu bolso do ombro com a intenção de ser deixado na superfície antes do seu regresso ao módulo lunar; ele tinha-se esquecido. Armstrong propões que Aldrin o passasse o saco uma vez que ele ainda se encontrava no patamar, mas Aldrin atirou o saco através da escotilha e acabou por cair nos pés de Armstrong. Continha um medalhão de ouro com a representação do ‘ramo de oliveira’ – um dos quatro que Aldrin tinha no seu conjunto pessoal, sendo os outros destinados para as esposas dos astronautas. Existia também um emblema da missão da Apollo-1 em memória de Gus Grissom, Ed White e Roger Chaffee, que haviam falecido quando a sua cápsula se incendiou na plataforma a 27 de Janeiro de 1967. Ao regressar da sua visita da União Soviética, Frank Borman entregou duas medalhas que os seus anfitriões haviam pedido para ser deixadas na Lua. Estas honravam Yuri Gagarin, o primeiro homem a orbitar a Terra, que havia falecido num acidente de aviação a 27 de Março de 1968, e Vladimir Komarov, que havia falecido a 24 de Abril de 1967 quando o pára-quedas da Soyuz-1 não se abriu. Algo mais formal, foram os textos dos Presidente Eisenhower, Kennedy, Johsnon e Nixon, uma mensagem do Papa, e mensagens de boa vontade dos líderes dos países das Nações Unidas. Algumas mensagens foram escritas à mão, outras dactilografadas, numa variedade de línguas. Estava também incluída uma lista dos líderes do Congresso em 1969, uma lista dos membros dos comités do Senado responsáveis pela legislação da NASA, e os nomes dos directores da NASA. Foi fotografado e reduzido por um factor de 200, transferido para um vidro para ser usado como uma máscara que seria gravado por luz ultravioleta num disco de silício com um diâmetro de 3,8 cm – a mesma tecnologia que era utilizada para gravar os circuitos integrados. O disco tinha a inscrição ‘Mensagens de Boa Vontade de todo o mundo trazido para a Lua pelos astronautas da Apollo-11’. Ao longo do bordo estava escrito ‘Do Planeta Terra’, e ‘Julho 1969’. Apesar do silício ter sido escolhido devido à sua capacidade de aguentar os extremos de temperatura na superfície lunar, estava encerrado num contentor de alumínio para proteger o delicado cristal dos choques. Se houve a intenção de assinalar a colocação deste item, o momento havia sido perdido.
Entretanto, Houston, desconhecendo o que se passava, estava ansioso por confirmar que tudo que estava para ser colocado no interior do módulo lunar, estava de facto a bordo. “Neil, apanhaste o filme da Hasselbled?”
Armstrong havia já pisado a plataforma de apoio do módulo lunar. “Sim, apanhei. E apanhamos cerca de, diria, 9 kg de amostras cuidadosamente seleccionadas e documentadas.”
“Bem feito.”
Agarrando a escada com ambas as mãos para ter estabilidade, Armstrong dobrou os seus joelhos e depois saltou, com ambos os pés a atingirem o terceiro degrau! Era uma pena, reflectiria mais tarde, que não tivessem sido capazes de permanecer no exterior por mais tempo. Ele esperava inspeccionar os pedregulhos a Norte, que, enquanto a sua distância era difícil de julgar, pereciam ter vários metros de largura.
(Continua)