O tema tem sido tangencial à sociedade portuguesa nos últimos meses, sendo maioritariamente focado nos círculos de debate científico devido à necessidade de se desmistificar o assunto. No entanto, há medida que nos aproximamos do dia 21 de Dezembro, parece surgir nas conversas um crescendo de ansiedade.
De facto, muitas das pessoas comentam não o fim do mundo tal como teria sido profetizado há uns meses atrás, mas as consequências de um misterioso apagão cósmico que irá cobrir o planeta nesse dia. Esta conversa começa a ser transversal em todas as camadas da sociedade, desde os mais novos aos mais velhos e desde os mais instruídos até àqueles cuja formação académica é básica.
O assunto parece ficar num limbo de mistério alimentado por uma sociedade cuja literacia científica roça o nível do ignorante, desculpando a utilização deste termo forte e considerado ofensivo por muitos. A verdade, é que mesmo uma formação académica superior não nos garante a compreensão deste fenómeno de massas que se aproxima, como que uma histeria mundial alimentada por falsas e elaboradas teorias New Age e outras, bem como pelos habituais charlatães e burlões que pelas manhãs vão alimentando a ignorância da maioria da população portuguesa.
No dia 21 de Dezembro iremos assistir a um fenómeno maravilhoso, porém vulgar e que se repete numa cadência interminável para o nosso ciclo de vida. o fim do Outono e a chegada do Inverno irá trazer-nos os dias frios e cinzentos de uma época do ano em que é reconfortante estar em casa lendo um bom livro e tentando nos afastar do verdadeiro lixo tóxico que é composto por este tipo de informação que utiliza termos científicos para criar um medo global na população. Quem tem seguido este tema com mais ou menos interesse, verá e compreenderá a metamorfose que este anúncio do fim do mundo supostamente profetizado por uma civilização pré-colombiana (e não me refiro ao grande shopping em Lisboa!), tem vindo a sofrer desde que surgiu à luz do dia. Na verdade, este facto não é novo e acontece com todas as profecias apocalípticas e com todos os horrores anunciados para outras datas nas quais a Humanidade estava condenada. Por outro lado, a utilização das habituais teorias da conspiração envolvendo factos ocultados pela NASA ou por outras agências de conhecimento científico juntamente com uma linguagem que utiliza termos científicos aos quais a maioria da população não está habituada, vem dar a todas estas falsas teorias alimentadas por burlões e charlatães, um teor científico ao qual a ignorância da maioria da população se vão vergar assumindo-as como verdadeiras.
Assim, o fim do mundo supostamente «anunciado» pelos Maias, quando de facto nunca nada anunciaram, tem vindo a sofrer de uma situação isquémica pela qual os seus fundamentos têm vindo a ser desmontados peça por peça pelo verdadeiro conhecimento científico e não resiste a uma simples análise pelo método. Isto, como é óbvio, acontece com todas as falsas «ciências» tais como a astrologia e seus apêndices. No entanto, não nos admiremos quando no dia 20 ou no dia 21 vejamos esses burlões televisivos e radiofónicos a explicarem pelas suas falsas ciências que afinal o fim do mundo é na verdade um mundo de vigarice sem fim e que eles foram os salvadores de todas estas almas perdidas por entre melodias ambientalmente melodramáticas.
O verdadeiro «fim do mundo» a 21 de Dezembro de 2012 estará dentro de nós se continuarmos numa atitude masoquista e sádica de querer-nos manter eternamente ignorantes perante as evidências que explicam o mundo que nos rodeia e enquanto nos continuarmos a eternizar numa penitência de joelhos tal como os Romanos faziam aos seus deuses. Uma sociedade ignorante ao nível científico é uma sociedade que irá continuar a ser governada por ignorantes que se aproveitam da iliteracia da sua população para eternizar a sua própria ignorância num ciclo sem fim, que nem os próprios Maias conseguiriam profetizar tamanho horror.
Imagem: Rui C. Barbosa