A United Launch Alliance (ULA) levou a cabo o lançamento de dois satélites na missão USSF-8. O lançamento dos satélites GSSAP-5 e GSSAP-6 teve lugar às 1900UTC do dia 21 de Janeiro de 2022 e foi levado a cabo pelo foguetão Atlas-V/511 (AV-084) a partir do Complexo de Lançamento SLC-41 do Cabo Canaveral SFS, Florida.
Em dezenas de lançamentos já realizados pelo Atlas-V, esta foi a primeira utilização da versão 511 com a configuração característica de apenas apresentar um propulsor lateral de combustível sólido (à semelhança da versão 411).
Este foi o 75.º lançamento de um foguetão Atlas-V e o 373.º lançamento de um foguetão Atlas a partir do Cabo Canaveral, sendo o 673.º Atlas a ser laçado desde 1957. Para o programa do Atlas-V este foi o seu 91.º lançamento.
A bordo da missão USSF-8 (U.S. Space Force 8) encontravam-se dois satélites GSSAP. Os satélites GSSAP são uma série de veículos de vigilância espacial desenvolvidos para as Forças Espaciais dos Estados Unidos pela Orbital Sciences para fornecer uma capacidade operacional de vigilância numa órbita quase geossíncrona para apoiar as actividades de vigilância do U.S. Strategic Command. Os satélites são baseados na plataforma GeoStar-1 da Orbital ATK.
Os satélites GSSAP
Os dois satélites GSSAP (Geosynchronous Space Situational Awareness Program) apoiam as operações de vigilância espacial do Comando Estratégico dos Estados Unidos como sensores SSN (Space Surveillance Network). Os GSSAP também apoiam as tarefas do Joint Functional Component Command for Space (JFCC SPACE) na obtenção de dados da situação espacial, permitindo assim um seguimento mais preciso e caracterização dos objectos fabricados pelo Homem em órbita terrestre. Os satélites têm um ponto de observação de grande vantagem para observar os objectos espaciais em torno da Terra sem as interferências da situação meteorológica e da atmosfera que pode limitar os sistemas de observação no solo. Os dados provenientes dos GSSAP contribuem de forma única para as previsões orbitais precisas e exactas, aumentando o nosso conhecimento do ambiente na órbita geossíncrona e permitindo um aumento da segurança do voo espacial, incluindo avisos de situações de possíveis colisões entre objectos em órbita.
O GSSAP comunica as suas informações através das estações da rede mundial AFSCN (Air Force Control Network), seguindo para a Base Aérea de Schriever, Colorado, onde as operações de satélite da 50.ª Asa Espacial dirigem as operações diárias de controlo e comando.
Os dois primeiros satélites Hornet (USA-253 GSSAP-1/’Hornet-1′ e USA-254 GSSAP-2/’Hornet-2′) foram colocados em órbita às 2328UTC do dia 28 de Julho de 2014, sendo lançado pelo foguetão Delta-IVM+(4,2) (D368) a partir do Complexo de Lançamento SLC-37B do Cabo Canaveral AFS. Os seguintes satélites (USA-270 GSSAP-3/Hornet-3 e USA-271 GSSAP-4/’Hornet-4′) foram colocados em órbita às 0452UTC do dia 19 de Agosto de 2016, sendo lançado pelo foguetão Delta-IVM+(4,2) (D375) a partir do Complexo de Lançamento SLC-37B do Cabo Canaveral AFS.
Contagem decrescente e lançamento
Os preparativos finais para o lançamento durante a contagem decrescente decorreram sem problemas. Com tudo apostos para o abastecimento do lançador, a luz verde era dada às 1627UTC. Pelas 1630UTC, a contagem decrescente era retomada (a duas horas e trinta minutos do lançamento) e o abastecimento de oxigénio líquido (LOX) ao estágio Centaur era iniciado às 1640UTC. O abastecimento seria feito com mais de 15.700 litros de LOX. O abastecimento de mais de 184.700 litros de LOX ao estágio Atlas iniciava-se às 1654UTC.
Pelas 1704UTC atingia-se 75% da capacidade de armazenamento do tanque de LOX do estágio Centaur. Por esta altura, iniciava-se o acondicionamento térmico das condutas de hidrogénio líquido (LH2) do Complexo de Lançamento SLC-41. O nível de voo do tanque de LOX do estágio Centaur era atingido às 1709UTC. Nessta altura, o tanque de LOX do estágio Atlas atingia 10% da sua capacidade, e o abastecimento passava do modo lento para o modo rápido.
Às 1723UTC, o tanque de LOX do estágio Atlas atingia 50% da sua capacidade. O LOX seria consumido juntamente com a querosene RP-1 pelo motor RD-180 do primeiro estágio durante os quatro minutos iniciais do voo. Os mais de 94.600 litros de RP-1 foram abastecidos no estágio Atlas no dia 20 de Janeiro, após o transporte do lançador para a plataforma de lançamento.
Antes de se iniciar o abastecimento de LH2 ao estágio Centaur, este teve de ser termicamente acondicionado com a utilização de azoto líquido, preparando assim os seus motores para o voo. Este procedimento teve lugar às 1726UTC. Pelas 1732UTC era dada luz verde para o início do abastecimento de LH2 ao estágio Centaur que receberia mais de 46.500 litros de LH2. pelas 1736UTC procedia-se ao abastecimento dos depósitos de hélio líquido do sistema pneumático do primeiro estágio e pelas 1744UTC o tanque de LOX do estágio Atlas atingia o nível de voo.
Pelas 1750UTC eram realizados os preparativos finais do controlo de voo. Este é o padrão de teste de direcção executado nos escapes do motor do lançador para garantir o balanceamento adequado durante a subida.
Às 1811UTC era finalizado o abastecimento do tanque de LH2 do estágio superior da Centaur. O modo de abasteciemnto final daria um lançador com uma massa de 389.234 kg para o lançamento. Os propelentes criogénicos seriam reabastecidos durante a contagem decrescente até aos minutos finais antes do lançamento para substituir o LOX e o LH2 perdidos por evaporação natural.
A sequência de abastecimento de combustível era iniciada às 1814UTC. Este procedimento introduziu o combustível querosene RP-1 no motor principal do RD-180 em preparação para a ignição. Esta sequência era finalizada às 1824UTC.
Às 1826UTC a contagem decrescente entrava numa pausa já programada a T-4m e com uma duração de 30 minutos. Esta paragem serviu para dar um pouco de margem aos controladores para lidarem com qualquer problema que pudesse ter surgido no decorrer da contagem decrescente. Também durante esta paragem, foram realizadas as revisões finais por parte da equipa de lançamento e membros da gestão.
Pelas 1837UTC procedia-se ao carregamento do ficheiro ADDJUST (Automatic Determination and Dissemination of Just Updated Steering Terms) no computador de bordo INCA (Inertial Navigation and Control Assembly) do lançador por parte do operador de controlo de voo localizado no Centro de Controlo de Lançamento. Estes são os parâmetros de orientação para serem utilizados pelo INCA tendo por base os dados sobre as condições dos ventos em altitude.
Uma série de balões meteorológicos foram lançados ao longo da contagem decrescente a partir das estações meteorológicas no Cabo Canaveral para recolher medições da velocidade do vento e direcção para determinar se as condições ao longo da trajectrória do lançador violavam ou não a controlabilidade ou cargas estruturais do foguetão durante a ascensão. Os dados foram transmitidos aos engenheiros da ULA em Denver para seleccionarem um perfil de orientação que viesse a minimizar as respostas do veículo.
Às 1845UTC os dois datélites GSSAP eram transferidos para o seu lançamento interno de energia, verificando-se que se encontravam configurados para o lançamento a T-2m.
A Fase Terminal da contagem decrescente iniciava-se às 1856UTC após a verificação de que todos os parâmetros estavam correctos para o lançamento. A T-1m 55s foi enviado o comando de início de missão para o sequenciador de lançamento que faria as verificações independentes dos sistemas durante o resto da contagem decrescente, controlar a separação dos cabos umbilicais e a libertação do veículo da plataforma de lançamento. Nesta altura, os tanques de RP-1 e de LOX estavam na pressão ideal para o lançamento, com ambos os estágios a iniciaram o fornecimento interno de energia.
A T-1m 20s, o controlador de ordenança do lançador e o sistema de segurança do veículo foram armados, com o software do Atlas-V/511 a ser activado nesta altura. A cadeia de ignição era armada a T-55s, com o propulsor lateral de combustível sólido a estar pronto para a ignição.
O lançamento decorreu sem problemas com os motores do primeiro estágio do foguetão Atlas-V/551 a entrarem em ignição a T-2,7s e com o lançador a abandonar a plataforma de lançamento a T+1,0s. A manobra de arfagem, colocando o veículo na trajectória ideal para a missão, teve lugar a T+6,9s. O Atlas-V/551 atingia a velocidade do som a T+57,8s e a zona de máxima pressão dinâmica a T+1m 7,4s.
A separação do propulsor lateral ocorre a T+2m 0,5s e a separação das duas metades da carenagem de protecção tem lugar a T+3m 30,0s.
O final da queima do estágio Atlas (Booster Engine CutOff – BECO) ocorre a T+4m 21,2s e a separação entre o estágio Atlas e o estágio Centaur deu-se a T+4m 27,2s, com a primeira ignição do estágio Centaur (Main Engine Start – MES) a ocorrer a T+4m 37,1s. Esta primeira queima termina (Main Engine Cutoff – MECO-1) a T+13m 7,8s.
Atingindo uma órbita de parqueamento com um apogeu a 176 km, apogeu a 319 km e inclinação orbital de 28,0.º, a segunda queima (MES-2) do estágio Centaur vai ocorrer entre T+1h 9m 30,4s e T+1h 13m 37,0s. A terceira queima do estágio Centaur ocorre entre T+6h 31m 12,0s e T+ 6h 32m 59,3s.
A separação do GSSAP-5 ocorre a T+6h 35m 29,3s, enquanto que a separação do GSSAP-6 ocorre a T+6h 45m 20,3s.
A missão é dada como oficialmente terminada a T+7h 46m 40,3s.
O foguetão Atlas-V
A 2 de Maio de 2005 a Boeing Company e a Lockheed Martin Corporation anunciaram a intenção de formar uma empresa conjunta denominada United Launch Alliance (ULA) que juntava assim duas das mais experientes e bem sucedidas companhias que suportaram a presença americana no espaço por 50 anos. Em conjunto os lançadores Atlas (Lockheed Martin) e Delta (Boeing) transportaram mais de 850 cargas para a órbita terrestre e não só, desde satélite meteorológicos, de telecomunicações, veículos militares, satélites científicos e sondas interplanetárias que alargaram o nosso conhecimento do Universo.
Actualmente, a ULA proporciona um veículo capazes de proporcionar um acesso seguro, económico, fiável e eficiente ao espaço para as missões governamentais americanas, continuando assim uma tradição de apoio às iniciativas espaciais estratégicas norte-americanas com soluções de lançamento avançadas e robustas.
A equipa da ULA engloba milhares de funcionários que trabalham em locais espalhados pelos Estados Unidos. A sede da empresa está situada em Denver, Colorado, com a maior parte das actividades de engenharia e administrativas consolidadas nas instalações da Lockheed Martin Space Systems Company. As operações de integração e montagem estão localizadas nas instalações de fabrico e montagem da Boeing em Decatur, Alabama. As estruturas mecânicas do Atlas-V, fabrico da ogiva de protecção, do sistema de adaptação e montagem são levadas a cabo em Harlingen, Texas.
As instalações de lançamento utilizadas pela ULA são o SLC-37 (foguetão Delta-4) e o SLC-41 (Atlas) no Cabo Canaveral SFS, e SLC-6 (Delta-4) e o SLC-3E (Atlas-V) na Base das Forças Espaciais de Vandenberg.
O míssil balístico Atlas teve a sua origem requisição feita pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) em Outubro de 1945, que conduziu ao desenvolvimento durante a década de 50 dos mísseis Atlas, Navaho, Snark, Matador e Mace. Em 10 de Janeiro de 1946 foram submetidas duas propostas para a construção de mísseis com um alcance de 11.100 km, sendo uma das proposta a de um míssil alado e propulsionado a jacto e a outra proposta e de um míssil supersónico, de trajectória balística e propulsionado por foguetão. A proposta do míssil balístico incluía o aparecimento de novas tecnologias, tal como o desenho de uma estrutura de peso reduzido através do uso de tanques de combustível de parede única e incluídos numa única estrutura monocoque que seria mantida rígida através da pressão interna. A performance deste míssil era quase do tipo “single-stage-to-orbit” ao se dar a separação dos motores de ignição inicial durante a ascensão.
A 19 de Abril de 1946 a Consolidated Vultee Aircraft Corporation (Convair) foi incumbida de construir e testar dez mísseis MX-774 Hiroc de forma a verificar e validar as propostas do novo míssil. Os testes do MX-774 iniciaram-se em San Diego em 1947, mas em Junho desse ano a Convair, empresa que propusera as duas propostas iniciais à USAF era informada que havia perdido o concurso para o novo míssil, sendo os contratos atribuídos às empresas Northrop e Martin que deveriam desenvolver a tecnologia dos mísseis alados e sub-sónicos.
Os cortes no orçamento para a defesa dos Estados Unidos forçaram a USAF a terminar o contrato com a Convair em Julho de 1947, e isto a apenas três meses da data prevista para o primeiro voo. Porém, os fundos ainda disponíveis permitiram a realização de três testes do MX-774 no White Sands Proving Ground entre Julho e Dezembro de 1947. Posteriormente, a Convair prosseguiu estudos auto-financiados do projecto.
Porém, o início da Guerra da Coreia e o surgimento da Guerra Fria fizeram com que se desse um aumento nos fundos para a defesa e a Convair recebeu um novo contrato em Setembro de 1951 para desenvolver o MX-1593, por forma a iniciar o desenho de um míssil balístico incorporando as características já validadas pelo MX-774. Em 1953 a General Dynamics, uma nova divisão da Convair, apresenta à USAF um programa acelerado de desenvolvimento do novo míssil. O anúncio público do desenvolvimento do Atlas só surge a 16 de Dezembro de 1954.
Nos primeiros anos da década de 50 um problema que atrasava o desenvolvimento da tecnologia era a baixa fiabilidade dos motores de combustível líquido. Este problema conduziu posteriormente ao conceito de «um estágio e meio» no qual todos os motores entram em ignição antes de deixar a plataforma de lançamento e os motores principais são separados numa determinada fase do voo, sendo este mantido por motores de sustentação. Este método permitia a verificação do bom funcionamento de todos os motores antes do veículo deixar a plataforma de lançamento.
A ordem para o desenvolvimento em grande escala do Atlas surge em Janeiro de 1955, sendo designado WS107A-L (Weapons System 107A-L). Na Convair o projecto era designado Modelo-7, curiosamente o mesmo número que, na União Soviética, Korolev dava ao seu míssil. Em Setembro de 1955 o projecto de desenvolvimento do Atlas recebe a classificação de prioridade nacional quando os relatórios dos serviços secretos indicam que a União Soviética está adiantada no desenvolvimento da tecnologia dos mísseis balísticos intercontinentais. O projecto torna-se num dos programas mais complexos de desenvolvimento, produção e teste jamais levados a cabo nos Estados Unidos e em certa parte comparável ao Projecto Manhatan.
O primeiro teste do sistema de propulsão tem lugar a 21 Junho de 1956 na Base Aérea de Edwards e resulta num fracasso. Um novo teste realizado no dia seguinte, no qual o motor teve uma ignição de 4s, é coroado de sucesso. Os primeiros veículos de teste são terminados no final desse ano. O primeiro voo do Atlas-A (Atlas-A 4A) tem lugar a 11 de Junho de 1957 e o veículo é destruído devido a uma falha no sistema de abastecimento de combustível. Um segundo teste (Atlas-A 6A) tem lugar a 25 de Setembro de 1957 e o veículo é novamente destruído, desta vez aos três minutos de voo devido novamente a uma falha no sistema de abastecimento de combustível. O primeiro voo com sucesso do Atlas-A (Atlas-A 12A) ocorre a 17 de Dezembro de 1957 com o míssil a atingir o alvo localizado a 965 km.
Lançamento | Data e hora de lançamento | Tipo
Missão |
Local de lançamento | Carga |
2020-010 | 10/Fev/20
04:03:00,155 |
411
AV-087 |
Cabo Canaveral AFS
SLC-41 |
Solar Orbiter |
2020-022 | 26/Mar/20
20:18:00,148 |
551
AV-086 |
Cabo Canaveral AFS
SLC-41 |
AEHF-6
TDO-1 |
2020-029 | 17/Mai/20
13:14:00,241 |
501
AV-081 |
Cabo Canaveral AFS
SLC-41 |
USSF-7 (X-37B OTV-6)
FalconSat-8 |
2020-052 | 30/Jul/20
11:50:00,233 |
541
AV-088 |
Cabo Canaveral AFS
SLC-41 |
Mars 2020 |
2020-078 | 03/Nov/20
22:58 |
531
AV-090 |
Cabo Canaveral AFS
SLC-41 |
NROL-101 |
2021-042 | 18/Mai/21
17:31 |
421
AV-091 |
Cabo Canaveral SFS
SLC-41 |
SBIRS-GEO 5
TDO-3 TDO-4 |
2021-088 | 27/Set/21
18:12:00,153 |
401
AV-092 |
Vandenberg SFB
SLC-3E |
Landsat-9
ELaNa 34: CUTE CuPID Cesium-M1A Cesium-M1B |
2021-093 | 16/Out/21
09:34:00,192 |
401
AV-096 |
Cabo Canaveral SFS
SLC-41 |
Lucy |
2021-118 | 01/Dez/21
10:19:00 |
551
AV-093 |
Cabo Canaveral SFS
SLC-41 |
STPSat-6
LDPE-1 |
2022-006 | 21/Jan/22
19:00:00 |
511
AV-084 |
Cabo Canaveral SFS
SLC-41 |
GSSAP-5 (Hornet-5)
GSSAP-6 (Hornet-6) |
O primeiro míssil operacional, o Atlas-D, constituiu a base do lançador das cápsulas tripuladas do Programa Mercury. Utilizando os estágios superiores Agena e Centaur, o Atlas tornou-se no lançador médio por excelência dos Estados Unidos sendo utilizado para lançar veículos para a órbita geossíncrona e sondas planetárias.
A família de lançadores Atlas-V oferece diferentes versões do mesmo veículo que podem ser utilizadas para colocar em órbita todo o tipo de cargas. O Atlas-V foi desenvolvido de forma a satisfazer as necessidades da USAF ao abrigo do programa EELV (Evolved Expendable Lauch Vehicle) e da demanda internacional por parte da ILS (International Launch Services) para satisfazer os seus clientes comerciais e governamentais.
Tendo como base o denominado CCB (Common Core Booster), o Atlas-V divide-se em duas versões: o Atlas-V 400 e o Atlas-V 500. Estas versões podem ser facilmente distinguidas pela utilização da ogiva normal utilizada em anteriores Atlas e este será a versão 400. Por seu lado a versão 500 utiliza uma ogiva muito maior e com um diâmetro de 5,0 metros, sendo baseada na ogiva utilizada pelo lançador europeu Ariane-5. A versão Atlas-V 500 pode ainda incorporar até cinco propulsores laterais de combustível sólido, aumentado assim a sua capacidade de carga útil.
Tanto a versão 400 como a versão 500 utilizam como segundo estágio uma versão alongada do estágio Centaur (CIII). O CIII pode ser utilizado com somente um motor (Single-Engine Centaur) ou então com dois motores (Dual- Engine Centaur).
O Atlas-V pode ser lançado a partir do SLC-41 (Space Launch Complex-41) do Cape Canaveral Air Force Station ou então do SLC-3W (Space Launch Complex-3W) da Vandenberg Air Force Base.
De forma geral o Atlas-V é um lançador a dois estágios podendo ser auxiliado por um máximo de cinco propulsores sólidos acoplados ao primeiro estágio. Pode colocar 12.500 kg numa órbita terrestre baixa a 185 km de altitude ou então 5000 kg numa órbita de transferência para a órbita geossíncrona. Durante o lançamento é capaz de desenvolver 875.000 kgf, tendo um peso de 546.700 kg. O seu comprimento total é de 58,3 metros e o seu diâmetro base atinge os 5,4 metros.
O primeiro estágio do Atlas-V, o CCB, tem um comprimento de 32,5 metros e um diâmetro de 3,8 metros, tendo um peso bruto de 306.914 kg e um peso sem combustível de 22.461 kg. No lançamento desenvolve uma força de 423.286 kgf, tendo um Ies de 338 s e um Ies-nm de 311 s, o seu Tq é de 253 s. O CCB está equipado com um motor RD-180 de fabrico russo que consome oxigénio líquido (LOX) e querosene. O RD-180 tem duas câmaras de combustão, tendo um comprimento de 3,6 metros e um diâmetro de 3,0 metros, tendo um peso de 5.393 kg. No lançamento desenvolve uma força de 423.050 kgf, tendo um Ies de 338 s e um Ies-nm de 311 s, o seu Tq é de 150 s.
O RD-180 é o único motor que tem a capacidade de aumentar e diminuir a sua potência durante o voo e que é utilizado em lançadores americanos (não tendo em conta o SSME utilizado nos vaivéns espaciais). Durante o primeiro voo do Atlas-3 (no qual o RD-180 também foi utilizado), o motor utilizou somente 74% do máximo de 423.286 kgf que pode desenvolver na fase inicial do lançamento e nos três minutos seguintes aumentou a potência até 92% do total, voltou a diminuir para 65% e a aumentar para 87%. Assim, a capacidade de aumentar e diminuir a potência do motor significa uma viagem mais suave tanto para o foguetão como para a carga que transporta, permitindo também uma utilização mais eficiente do combustível. O RD-150 foi certificado para a utilização no Atlas-V através de uma série intensiva de testes levados a cabo pela NPO Energomash, Khimky, e sob a direcção da Lockheed Martin.
Podendo usar até cinco propulsores laterais de combustível sólido, pesando cada um 40.824 kg e tendo um comprimento de 17,7 metros e um diâmetro de 1,6 metros. Desenvolvidos pela Aerojet, cada propulsor desenvolve no lançamento uma força de 130.000 lgf, tendo um Ies de 275 s e um Ies-nm de 245 s e um Tq de 94 s.
Na missão NROL-101 foram pela primeira vez utilizados os propulsores GEM-63 Graphite Epoxy Motor 63 (GEM-63). O novo propulsor tem um diâmetro de 1,6 metros e o seu desenho capitaliza projetos existentes, de materiais comuns e de processos de fabrico de baixo custo desenvolvidos nos motores GEM, Orion e CASTOR anteriores da Northrop Grumman. Com 20 metros de comprimento, o GEM 63 é o motor de foguete sólido de fuselagem única mais longo que a Northrop Grumman já construiu.
Tais como os propulsores anteriores, os GEM-63 entram em ignição na plataforma de lançamento e o seu tempo de queima é de 94 segundos, cada um consumindo 47.990 kg de propelente para produzir 2.025,72 kN de impulso máximo para aumentar o impulso produzido pelo motor principal RD-180.
A utilização dos GEM-63 serve como ganho de experiência para os GEM-63XL que serão utilizados no foguetão Vulcan.
O segundo estágio do Atlas-V, Centaur V1, tem um comprimento de 12,7 metros e um diâmetro de 3,1 metros, tendo um peso bruto de 22825 kg e um peso sem combustível de 2.026 kg. Desenvolve uma força de 10.115 kgf, tendo um Ies de 451 s e um Tq de 894 s. O Centaur V1 está equipado com um motor RL-10A-4-2 fabricado pela Pratt & Whitney, consumindo LOX e LH2. O RL-10A-4-2 tem uma câmara de combustão, tendo um peso de 167 kg. No lançamento desenvolve uma força de 10.110 lgf, tendo um Ies de 451 s e um Tq de 740 s.
A designação que é dada a cada versão do lançador é composta por uma numeração em três dígitos. O primeiro dígito indica o diâmetro da ogiva utilizada pelo lançador (em metros). Assim, por exemplo quando temo um veículo Atlas-V/400, significa que estamos na presença de uma ogiva com 4 metros de diâmetro. O segundo dígito indica o número de propulsores sólidos utilizados no lançador e pode variar entre 0 (zero) e 5 (de salientar que a versão Atlas-V/400 não usa propulsores laterais de combustível sólido e por isso só veremos este número na versão Atlas-V/500). Finalmente, o terceiro dígito indica o número de motores presentes no estágio Centaur e que pode variar entre 1 ou 2 motores.
A construção do SLC-41 foi iniciada em Abril de 1965 e terminada nesse mesmo ano. Foram necessários mais de 6,5 milhões de metros cúbicos de terra provenientes do Rio Banana, para se fazerem as fundações do complexo, composto por uma torre de serviço móvel MST (Mobile Service Tower) e por uma torre umbilical UT (Umbilical Tower) que faziam parte das instalações de lançamento dos foguetões Titan. A MST tinha uma altura de 80,7 metros e pesava mais de 2.268 t. Por seu lado a UT atingia os 53,3 metros de altura e pesava 907,2 t.
A USAF aceitou o complexo a 12 de Dezembro de 1965 e utilizou-o pela primeira vez no dia 21 de Dezembro de 1965 para lançar um foguetão Titan-IIIC . Nos anos seguintes o complexo e a plataforma foram utilizados como ponto de partida para várias missões históricas como a Voyager-1, Voyager-2, Viking-1 e a Mars Pathfinder.
Em 1986 o complexo sofreu uma renovação para albergar o lançamento dos foguetões Titan-IV. O primeiro lançamento desta nova versão do Titan deu-se a 14 de Junho de 1989 e o último a 9 de Abril de 1999 .
De forma a compreender a natureza do SLC-41 ajudará visualizando o tamanho do foguetão Titan-IV. Atingindo mais de 34 metros de altura, 10 metros de diâmetro, pesando mais de 861,8 t e gerando mais de 635 t de força no lançamento, o Titan-IV equipado com um estágio superior Centaur era capaz de colocar uma carga de 5,4 t numa órbita geossíncrona. Cargas ainda mais pesadas poderiam ser colocadas em órbitas mais baixas ou em órbitas polares.
A evolução da tecnologia levou a que o Titan-IV fosse considerado obsoleto, tendo a USAF contratado a Lockheed Martin para desenvolver um novo sistema de lançamento que é agora o Atlas-V. Os engenheiros da Lockheed foram encarregues de desenvolver não só o novo lançador, mas também as instalações de lançamento do novo veículo. Assim, o SLC-41 teve de sofrer uma transformação para albergar o seu novo vector de lançamento. A primeira fase da transformação do complexo passou pela remoção das velhas torres para que as novas torres pudessem ser construídas. A empresa Olshan Demolishing Management foi contratada par desmantelar e demolir o velho complexo. O plano inicial previa que as torres fossem desmontadas peça por peça, porém devido ao facto que o calendário dos trabalhos foi progressivamente atrasado devido às investigações relacionadas com acidentes com o Titan-IV, a Olshan optou por contratar a empresa Dykon, Inc., para demolir as torres utilizando explosivos. Nesta fase colocava-se o receio das explosões danificarem de qualquer de uma maneira ou de outra o Complexo de Lançamento 39 utilizado pelos vaivéns espaciais, pois estas estruturas localizam-se muito perto do SLC-41.
Depois de serem asseguradas todas as medidas de segurança, a USAF deu luz verde para a demolição das torres que veio a acontecer a 14 de Outubro de 1999. Depois das torres serem abatidas, a Olshan iniciou um processo de reciclagem. Durou mais de oito semanas para cortar a torre em pedaços que pudessem ser manejáveis e posteriormente transportados para um edifício situado em Port Canaveral, onde foram recicladas.
Actualmente o SLC-41 é um dos mais sofisticados existentes no planeta e representa a maior alteração na filosofia da indústria de foguetões dos Estados Unidos nos últimos anos. O SLC-41 foi transformado na primeira “clean pad” a ser utilizada pelos americanos. Este conceito passa por montar o foguetão num edifício de montagem em vez de se montar o lançador por estágios na própria plataforma de lançamento como se fazia desde os primórdios do programa espacial americano. Sendo montado no edifício de montagem, o lançador é posteriormente transportado para a plataforma de lançamento algumas horas antes da ignição. A “clean pad” significa também que a utilização de grandes torres de serviço na plataforma de lançamento deixam de ser necessárias. Da mesma forma, o espaço de tempo gasto na preparação dos lançadores fica mais reduzido e deixam de existir problemas relacionados com as convencionais plataformas de lançamento que podem atrasar o início de uma missão por vários meses.
O centro nevrálgico do SLC-41 é o denominado Atlas-V Spaceflight Operations Center (ASOC), combinando num só lugar o que anteriormente estava espalhado por diversos locais. O edifício onde está localizado o ASOC era anteriormente utilizado para processar os propulsores laterais de combustível sólido utilizados pelo Titan-IV, sendo completamente reformulado e expandido pela Lockheed. Situado a 6,6 km da plataforma de lançamento, é neste edifício multiusos para onde o estágio Atlas-V e o estágio superior Centaur são transportados logo após a chagada ao Cabo Canaveral e vindos das oficinas em Denver, Colorado. Aí, os técnicos da Lockheed podem realizar vários testes nos estágios e depois armazená-los temporariamente até ser altura de serem transportados para o edifício de montagem para serem preparados para o lançamento. No interior do ASOC também está situado o centro de controlo de lançamento que alberga os técnicos oficiais da missão, as equipas de engenheiros da Lockheed, clientes e os técnicos que controlam a contagem decrescente.
O centro de controlo possui doze consolas de controlo no primeiro andar destinadas à equipa que dirige o lançamento. Entre estas consolas encontra-se a posição do Director de Lançamento, do Assistente do Director do Lançamento, as posições de controlo e monitorização dos propelentes do Atlas e do Centaur, a posição do controlo de voo e de sistemas eléctricos do lançador, a posição de controlo do software no solo, a posição de controlo das instalações eléctricas, posição de controlo ambiental, de segurança e do monitor que controla os limites de emergência que podem ser atingidos. Ainda no primeiro andar do edifício existem duas salas, situadas à direita da equipa que controla o lançamento, onde está localizada a rede de informática do computador principal e uma estação de controlo operacional por satélite.
No segundo andar do edifício existem três salas que albergam a equipa de engenheiros responsáveis pelo lançador, a equipa que controla a carga transportada e a equipa principal de directores do lançamento. É nesta sala que se toma a decisão final de lançar ou não lançar o Atlas-V. Ainda neste piso existem duas salas com lugares sentados e pontos de observação para engenheiros e clientes observarem o decorrer da contagem decrescente e do lançamento.
A parede frontal da sala do centro de controlo está equipada com vários relógios, mostradores da contagem regressiva, emblemas e um ecrã de vídeo que mostra várias imagens da plataforma de lançamento recolhidas de diferentes ângulos, além de vários gráficos de diferentes dados.
Sendo controlados a partir do ASOC, o Atlas-V é montado no interior do VIF (Vertical Integration Facility). Este edifício, que começou a ser construído em Janeiro de 1999, tem uma altura máxima de 90 metros e está localizado a 550 metros da plataforma de lançamento. No seu interior está situado um guindaste de 60 t com uma capacidade de levantar os diferentes segmentos do Atlas-V e colocá-los na plataforma móvel de lançamento. Após a verificação dos diferentes estágios no ASOC, estes são transportados na horizontal para o VIF. O CCB segue em primeiro lugar, seguido pela secção cilíndrica que compõe o inter-estágio e do estágio Centaur. A última peça deste lego é a secção “boat-tail”. As missões futuras serão também aqui colocados os propulsores laterais de combustível sólido.
Após a montagem, o lançador passa por mais uma série de testes antes da carga a transportar ser entregue no VIF para montagem. O satélite é processado e abastecido do seu combustível de manobra num local separado do VIF e que tanto pode ser as instalações comerciais da Astrotech localizadas em Titusville, a 35 km de distância, ou então num edifício governamental caso se tratem de cargas militares ou da NASA. Após o processamento o satélite é colocado no interior de um contentor de segurança e protecção antes de deixar o e edifício de processamento e de iniciar a sua viagem até ao SLC-41. No SLC-41 é levantado até ao nível superior do estágio Centaur e colocado no seu topo. Segue-se um teste IST (Integration Systems Test) entre o foguetão lançador e a sua carga para confirmar uma boa ligação entre os dois e que ambos estão prontos para o lançamento. Segue-se o transporte até à plataforma de lançamento.
O VIF foi construído de forma a suportar ventos de furacão até uma velocidade de 225 km/h. Possui várias plataformas móveis que possibilitam o acesso às diferentes zonas do foguetão e está equipado com uma porta reforçada com uma largura de 12,5 metros e uma altura de 84 metros que se recolhe na vertical, permitindo o transporte dos vários estágios do Atlas-V para o interior do edifício e a posterior saída do lançador para a plataforma de lançamento. Na construção do VIF foram utilizados 200 camiões de cimento (que equivaleram a 1.376 m3 de cimento) para a construção das suas fundações e 3.250 t de aço para a construção das suas paredes.
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Bibliografia:
- Geosynchronous Space Situational Awareness Program, Consultado a 19 de Janeiro de 2022, em https://www.afspc.af.mil/About-Us/Fact-Sheets/Article/730802/geosynchronous-space-situational-awareness-program-gssap/