A RocketLab falhou o lançamento da sua 13.ª missão devido a um problema registado durante a fase operacional do segundo estágio do foguetão lançador Electron/Curie.
O segundo estágio do Electron é propulsionado por um motor Rutherford optimizado para operar no vácuo. À medida que o motor executa a sua queima, as baterias externas que alimentam as turbinas eléctricas vão-se esgotando, eventualmente sendo totalmente consumidas e assim actuando como excesso de massa no lançador. Nesta altura as baterias externas geralmente são descartadas ao mar e um novo sistema de baterias é utilizado para manter o fornecimento de energia constante às turbinas. Esse processo é conhecido como “battery hot-swapping” e geralmente ocorre aproximadamente 6 minutos e 30 segundos após o lançamento. É nesta altura em que algo correu mal e levou à falha na missão.
Em resultado deste problema os satélites a bordo foram perdidos.
O lançamento teve lugar às 2113 UTC do dia 4 de Julho de 2020 e foi levado a cabo desde a Plataforma A do Complexo de Lançamento LC-1 do Centro de Lançamentos de Máhia, em Onenui – Nova Zelândia.
A missão baptizada “Pics Or It Didn’t Happen”, devido à natureza da sua carga, foi a 13.ª missão do foguetão lançador Electron e a 3.ª no ano de 2020.
Numa demonstração da rápida resposta da RocketLab, a janela de lançamento para o “Pics Or It Didn’t Happen” abriu a apenas 21 dias após do mais recente lançamento “Don’t Stop Me Now”, realizada a 13 de Junho de 2020.
Com um Electron produzido a cada 18 dias, uma divisão de fabrico de satélites e duas plataformas de lançamento operacionais, com uma terceira futuramente a ficar pronta, a RocketLab conseguirá por em orbita pequenos satélites de uma forma mais rápida e fácil.
Texto: Salomé T. Fagundes
A carga “Pics Or It Didn’t Happen”
Os satélites que se encontravam a bordo desta missão eram o CE-SAT 1B, cinco satélites Flock-4e e o satélite Faraday-1.
O CE-SAT 1B (Canon Electric Satellite 1B) era um micro-satélite de observação da Terra com uma massa de cerca de 50 kg desenvolvido pela Canon Electronics Space Technology Laboratory e pela AxelSpace (que forneceu a plataforma na qual foi baseado). O satélite estava equipado com um telescópio Cassegrain com uma distância focal de 3.720 mm e um detector baseado na câmara EOS 5D mk.3.
Os satélites Flock-4e (1) a Flock-4e (5) faziam parte de uma constelação de satélites de observação da Terra construída e operada pela Planet Labs (anteriormente designada Cosmogia Inc.). Estes são CubeSat-3U com uma massa de 5 kg. Grande parte dos satélites contém um sistema de observação RGB standard, mas cinco satélites foram equipados com sistemas experimentais operando em diferentes bandas espectrais ópticas.
Cada satélite transportava um telescópio e uma câmara CCD equipada com um filtro Bayer. O sensor CCD converte os fotões filtrados em electrões, que são então ampliados de forma a produzir um número digital correspondente a cada pixel em cada banda. A Planet Labs lançou três gerações de instrumentos ópticos: Planet Scope 0 (PS0), Planet Scope 1 (PS1) e Planet Scope 2 (PS2). As imagens têm diferentes atributos dependendo da altitude do satélite e do tipo de instrumento.
O PS0 é composto por um Maksutov Cassegrain de dois elementos ópticos com um detector CCD de 11MP. Os elementos ópticos estão montados em relação à estrutura do satélite. O PS1 contém o mesmo sistema óptico do PS0 mas alinhado e montado num telescópio de fibra de carbono e titânio que se encontra isolado. Este telescópio é equipado com um detector CCD de 11MP. O PS2 é composto por um sistema óptico de cinco elementos que fornece imagens com um campo de vida largo e qualidade de imagem superior, sendo equipado com um sensor CCD de 29MP.
O satélite Faraday-1 foi construído pela InSpace e pela GOMSpace (CubeSat-6U) e tinha uma massa de cerca de 6 kg. O satélite seria utilizado para a realização de várias experiências tecnológicas em órbita para diferentes clientes.
Lançamento
O foguetão Electron era colocado na sua posição vertical a T-4h 00m e iniciava-se o processo de abastecimento de querosene. O pessoal de apoio na plataforma de lançamento deixava a área a T-2h 30m e o abastecimento de oxigénio líquido (LOX) iniciava-se a T-2h 00m.
As autoridades de aviação locais eram informadas sobre o lançamento a T-30m para assim poderem avisar os aviadores naquele espaço aéreo. Os preparativos finais para o lançamento iniciam-se a T-18m. A sequência automática de lançamento inicia-se a T-2m, com o computador de bordo do Electron a tomar conta das operações. A ignição dos motores do lançador inicia-se a T-2s.
O foguetão abandona a plataforma de lançamento a T=0s, com uma ascensão lenta nas fases iniciais e ganhando velocidade à medida que ganha altitude. O final da queima do primeiro estágio termina a T+2m 35s e a sua separação ocorre três segundos mais tarde. A ignição do motor do segundo estágio ocorre a T+2m 41s. A separação da carenagem de protecção ocorre a T+3m 14s. A T+6m 27s ocorre a troca de baterias eléctricas que dão o impulso eléctrico necessário a ignição do motor Rutherford Vacuum.
O segundo estágio deveria atingir a órbita terrestre a T+8m 59s e a separação entre o segundo estágio e o estágio Curie ocorreria e T+9m 7s. A missão entraria então numa fase não porpulsionada de cerca de 40 minutos. O estagio Curie entraria em ignição a T+49m 39s. O final da queima do estágio Curie ocorreria a T+52m 6s e a separação dos satélites CE-SAT 1B, Flock-4e (1) a Flock-4e (5) e Faraday-1 ocorreria s T+60m.
Texto: Salomé T. Fagundes
O foguetão Electron
O Electron é um lançador a dois estágios com um comprimento de 17 metros e um diâmetro de 1,2 metros. É capaz de colocar em órbita terrestre baixa uma carga de 225 kg, sendo a sua carga nominal de 150 kg (a 500 km de altitude). Devido ao seu desenho e fabrico, o Electron é elaborado com altos níveis de automatização.
O lançador tira partido de materiais compósitos na sua fuselagem, tendo uma estrutura forte e super leve. Da mesma forma, os tanques de propolente são fabricados em materiais compósitos.
O primeiro estágio está equipado com nove motores Rutherford e tem uma capacidade de 162 kN, com um impulso específico de 303 s. O motor Rutherford consome querosene e oxigénio líquido, utilizando componentes impressos em 3D.
O motor Rutherford é um motor topo de gama que se alimenta de querosene e oxigénio líquido, e que foi especificamente projectado para o foguetão Electron utilizando um ciclo de propulsão inteiramente novo. Uma característica única deste motor são as turbinas eléctricas de alta performance que reduzem a sua massa e que substituem hardware por software. O motor Rutherford é o primeiro motor do seu tipo que utiliza impressão 3D nos seus componentes principais. Estas características são únicas no mundo para um motor de propelentes líquidos de alta performance alimentados por turbobombas eléctricas. O seu desenho orientado para a produção permitem que o Electron seja construído e os satélites lançados com uma frequência sem precedentes.
Lançamento | Missão | Veículo Lançador | Data de Lançamento | Hora
(UTC) |
Carga |
2018-104 | F4 | This One’s For Pickering | 16 / Dez / 2018 | 06:34 | ALBus
CeREs CHOMPTT Da Vinci ISX NMTSat RSat-P Shields-1 STF-1 CubeSail-1 CubeSail-2 TOMSat Eagle Scout TOMSat R3 (AeroCube-11) Goergen (SHFT-1) |
2019-016 | F5 | Two Thumbs Up | 28 / Mar / 2019 | 23:27 | R3D2 |
2019-026 | F6 | That’s A Funny Looking Cactus | 05 / Mai / 2019 | 06:00 | Harbinger (ICEYE-X3)
SPARC-1 Falcon-ODE |
2019-037 | F7 | Make it Rain | 29 / Jun / 2019 | 04:30 | BlackSky Global-3
Prometheus-2 (5) Prometheus-2 (6) ACRUX-1 SpaceBEE-8 SpaceBEE-9 Painani-1 |
2019-054 | F8 | Look Ma, No Hands | 19 / Ago / 2019 | 12:12 | BlackSky Global-4
BRO-1 Pearl White-1 Pearl White-2 |
2019-069 | F9 | As The Crow Flies | 17 / Out / 2019 | 01:22 | PALISADE (Demo-1) |
2019-084 | F10 | Running Out Of Fingers | 6 / Dez / 2019 | 08:18 | ATL-1
FossaSat-1 NOOR-1A NOOR-1B SMOG-P TRSI-Sat ALE-2 |
2020-007 | F11 | Birds of a Feather | 31 / Jan / 20 | 02:56 | NROL-151 |
2020-037 | F12 | Don’t Stop Me Now | 13 / Jun / 20 | 05:13 | ELaNa 32: ANDESITE
ANDESITE Node-1 ANDESITE Node-2 ANDESITE Node-3 ANDESITE Node-4 ANDESITE Node-5 ANDESITE Node-6 ANDESITE Node-7 ANDESITE Node-8 NRO Satellite 1 NRO Satellite 2 NRO Satellite 3 RAAF M2 Pathfinder |
2020-F05 | F13 | Pics Or It Didn’t Happen | 05/Jul/20 | 21:13 | CE-SAT-1B
Flock-4e (1) a Flock-4e (5) Faraday-1 |
O segundo estágio do lançador é propulsionado por um motor derivado do motor Rutherford melhorado para uma excelente performance em condições de vácuo. É capaz de desenvolver 22 kN de força e um impulso específico de 333 s.
O Complexo de Lançamento LC-1 localizado na Península de Máhia entre Napier e Gisborne, na costa Este de Ilha do Norte da Nova Zelândia. Este é o primeiro complexo orbital na Nova Zelândia e o primeiro complexo a nível mundial operado de forma privada. A localização remota do LC-1, e de forma particular o seu baixo volume de tráfego marítimo e aéreo, é um factor chave que permite um acesso sem precedentes ao espaço. A posição geográfica deste local permite que seja possível a uma grande gama de azimutes de lançamento – os satélites lançados desde Máhia podem ser colocados em órbitas com uma grande variedade de inclinações para assim proporcionar serviços em muitas áreas em torno do globo.
Texto de Rui C. Barbosa