Novos satélites para a constelação Starlink

A SpaceX levou a cabo com sucesso o lançamento de mais 60 satélites da constelação Starlink na versão 1.0. O lançamento teve lugar às 12:25:57,439UTC do dia 18 de Outubro de 2020 a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Merritt Island, na Florida.

Nesta missão a SpaceX utilizou o primeiro estagio Falcon 9 v1.2 Block V (B1051.6), usado também na missões DM-1, Radarsat e Starlink voos 3, 6 e 9, sendo recuperado às 1233:24UTC na plataforma flutuante Of Course I Still Love You no Oceano Atlântico situada a 633 km a Noroeste do Cabo Canaveral.

Nesta missão foi tentada a recuperação de ambas as metades das carenagens de protecção de carga pelas embarcações “Go Ms. Tree” e “Go Ms Chief” que possuem redes para esse efeito, cerca de 45 minutos após o lançamento. De notar que as próprias carenagens possuem um pára-quedas para que a velocidade seja drasticamente reduzida fazendo com que a sua recuperação seja feita de forma mais fácil e suave.

O teste estático para esta missão foi realizado a 17 de Outubro de 2020.

A equipa da SpaceX recentemente instalou receptores de sinal da constelação Starlink no Centro Administrativo e em 20 casas privadas na Reserva Hoh Tribe, localizada numa remota área a oeste do estado de Washington onde a o acesso a internet é limitada ou completamente indisponivel.

Os satélites Starlink

SpaceX projectou a Starlink para conectar utilizadores de Internet com baixa latência, oferecer serviços de distribuição de elevada largura de banda fornecendo uma cobertura continua em todo o mundo usando uma rede de milhares de satélites na orbita baixa da terra especialmente em lugares onde a conectividade é baixa ou inexistente como por exemplo em lugares rurais. Os Starlink também darão cobertura em locais onde os serviços existentes são instáveis ou de elevado custo.

Com um desenho de painel plano contendo múltiplas antenas de alto rendimento e um único painel solar, cada satélite Starlink pesa aproximadamente 260 kg, permitindo à SpaceX uma produção em massa e tirar todo o proveito da capacidade de lançamento do Falcon-9. Para ajustar a posição em orbita, manter a altitude pretendida e posterior remoção orbital, os satélites Starlink possuem propulsores do tipo Hall alimentados a krypton. Sendo injectados a uma altitude de 290 km usarão este mesmo sistema para elevar as suas orbitas assim que sejam concluídas as verificações.(Antes de elevar a orbita, os engenheiros da SpaceX irão realizar uma revisão de dados para garantir que todos os satélites Starlink estão a operar como pretendido).

Desenhados e construídos usando a mesma tecnologia que as Dragon, cada satélite está equipado com Startracker que permite apontar os satélites com precisão. Nesta iteração a SpaceX incrementou a capacidade de espectro para o utilizador final através de melhorias permitindo uma maximização na utilização das bandas Ka e Ku. Os satélites são também capazes de detectar lixo espacial em orbita e evitar a colisão de modo autónomo.

Os satélites Starlink estão na linha da frente na mitigação de detritos em orbita, atingindo ou excedendo todas as leis padronizadas da industria aeroespacial. No fim do ciclo de vida, os satélites irão usar a própria propulsão que têm a bordo para procederem à remoção orbital no decurso de uns poucos meses. No improvável evento da propulsão falhar, estes satélites irão queimar na atmosfera terrestre no período compreendido entre 1 a 5 anos, tempo significativamente inferior que as centenas ou milhares de anos necessários para grandes altitudes. De notar que todos os componentes estão projectados para uma total desintegração.

A Starlink irá oferecer um serviço de Internet em zonas do Estados Unidos da América e no Canadá ao fim de seis lançamentos, rapidamente expandindo para uma cobertura global nas zonas populacionais após vinte e quatro lançamentos.

Estando ainda na fase inicial de injecção orbital os painéis solares encontram-se numa posição de baixo atrito e o conjunto dos próprios Starlinks estando ainda muito próximos uns dos outros faz com sejam muito visíveis a olho nu a partir do solo aquando da sua passagem. Uma vez que os satélites atinjam a altitude operacional de 550 km as suas orientações mudam e os satélites começam a ficar significativamente menos visíveis a partir do solo.

Durante todas as operações de voo, a SpaceX irá partilhar dados de monitorização de alta fidelidade com outras operadoras de satélites através do 18.º esquadrão do controlo espacial da Força Aérea Americana. Adicionalmente a SpaceX irá disponibilizar aos grupos de astronomia com informação de previsão do tipo TLE’s (two-line elements) antes de qualquer lançamento de forma a que os astrónomos possam coordenar as observações com a passagem dos satélites

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga
2020-012 081 B1056.4 CCAFS SLC-40 16/Fev/20 15:05:55 Starlink v1.0-L4 (60)
2020-019 083 B1048.5 KSC LC-39A 18/Mar/20 12:16:36,428 Starlink v1.0-L5 (60)
2020-025 084 B1051.4 KSC LC-39A 22/Abr/20 19:30 Starlink v1.0-L6 (60)
2020-035 086 B1049.5 CCAFS SLC-40 04/Jun/20 01:25:33 Starlink v1.0-L7 (60)
2020-038 087 B1059.3 CCAFS SLC-40 13/Jun/20 09:21:18 Starlink v1.0-L8 (58)
2020-055 090 B1051.5 KSC LC-39A 7/Ago/20 05:12:05 Starlink v1.0-L9 (57)
2020-057 091 B1049.6 CCAFS SLC-40 18/Ago/20 14:31:16,555 Starlink v1.0-L10 (58)
2020-062 093 B1060.2 KSC LC-39A 3/Set/20 12:46:14,489 Starlink v1.0-L11 (60)
2020-070 094 B1058.3 KSC LC-39A 17/Set/20 11:29:34,541 Starlink v1.0-L12 (60)
2020-073 095 B1051.6 KSC LC-39A 18/Out/20 12:25:57,439 Starlink v1.0-L12 (60)

Texto: Salomé T. Fagundes

Tabela: Rui C. Barbosa

Lançamento

O foguetão Falcon-9 é activado a T-10h 00m. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o lançamento. O processo de abastecimento inicia-se a T-35m no primeiro estagio,seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) ao mesmo tempo e no segundo estagio a T – 16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica por água é activado na plataforma de lançamento. Por esta altura os tanques de propolente também são pressurizados A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para o lançamento. Na mesma altura, é verificado que o espaço aéreo está pronto para o voo. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 12s. O final da queima do primeiro estágio ocorre a T+2m 32s, dando-se quatro segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio. O segundo estágio entra em ignição a T+2m 43s. A ejecção da carenagem de protecção ocorre a T+3m 22s. O primeiro estagio reentra a T+6m 40s e aterra na plataforma flutuante Of Course I Still Love You a T+8m 24s sendo recuperado com sucesso.

O final da primeira queima do segundo estágio ocorre a T+8m 48s. O segundo estágio inicia uma fase não propulsionada de cerca de 30 minutos, com a segunda queima a ter inicio a T+44m 04s e terminando a T+44m 06s. A separação do satélites Starlink tem lugar a T+1h 03m 02s.

Texto: Salomé T. Fagundes

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 era um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço e num acordo com a NASA, a SpaceX está activamente a trabalhar para atingir esse objectivo.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador vai diminuindo com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propolente é alimentado através de uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

SES-9Falcon 6

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2020-035 086 B1049.5 CCAFS SLC-40 04/Jun/20 01:25:33 Starlink v1.0 (x60) L7 JRTI (Oc. Atlântico)
2020-038 087 B1059.3 CCAFS SLC-40 13/Jun/20 09:21 Starlink v1.0 (x58) L8 SkySat-16 SkySat-17 SkySat-18 OCISLY (Oc. Atlântico) 
2020-041 088 B1060.1 CCAFS SLC-40 30/Jun/20 21:10:46,615 GPS-III SV03 “Columbus” (USA-304) JRTI (Oc. Atlântico)
2020-048 089 B1058.2 CCAFS SLC-40 20/Jul/20 21:30 ANASIS-II JRTI (Oc. Atlântico) 
2020-055 090 B1051.5 KSC LC-39A 7/Jul/20 16:15 Starlink v1.0 (x57) L9 BlackSky Global-7 BlackSky Global-8 OCISLY (Oc. Atlântico)
2020-057 091 B1049.6 CCAFS SLC-40 18/Ago/20 14:31:16 Starlink v1.0 (x58) L10 SkySat-19 SkySat-20 SkySat-21 OCISLY (Oc. Atlântico)
2020-059 092 B1059.4 CCAFS SLC-40 30/Ago/20 23:18:56.462 SAOCOM-1B GNOMES-1 Tyvak-0172 Cabo Canaveral LZ-1
2020-062 093 B1060.2 KSC LC-39A 03/Set/20 12:46:14.489 Starlink v1.0 (x60) L11 OCISLY (Oc. Atlântico)
2020-070 094 B1058.3 KSC LC-39A 17/Set/20 11:29:34.541 Starlink v1.0 (x60) L12 JRTI (Oc. Atlântico)
2020-073 095 B1051.6 KSC LC-39A 18/Out/20 12:25:57,439 Starlink v1.0 (x60) L13 OCISLY (Oc. Atlântico)

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento de cerca de uma hora tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pelo satélite. Se a janela de lançamento de uma hora é perdida, a missão é então adiada para o dia seguinte.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Texto e tabela: Rui C. Barbosa  

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 5988

– Lançamento orbital EUA: 1707 (28,51%)

– Lançamento orbital desde CE Kennedy: 178 (2,97% – 10,43%)

O quadro seguinte mostra os lançamentos previstos e realizados em 2020 por polígono de lançamento.

Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):

5989 – 21 Out (1636:??) – Falcon 9-096 (B1060.3) – Cabo Canaveral AFS, SLC-40 – Starlink-15 (v1.0 L14)

5990 – 21 Out (2114:??) – Electron/Curie (F15 “In Focus”) – Onenui (Máhia), LC1 – CE-SAT-IIB, Flock-4e (1), Flock-4e (2), Flock-4e (3), Flock-4e (4), Flock-4e (5), Flock-4e (6), Flock-4e (7), Flock-4e (8), Flock-4e (9)

5991 – 25 Out (????:??) – 14A14-1B Soyuz-2.1b/Fregat – GIK-1 Plesetsk, LC43/3 – 14F143 Uragan-K n.º15L

5992 – 26 Out (????:??) – CZ-3B Chang Zheng-3B/G3 – Xichang, LC3 – Tiantong-1 (2)