Nova missão Starlink orbita 21 satélites desde Cabo Canaveral

A Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) colocou em órbita 22 novos satélites Starlink v2.0 Mini com o lançamento da missão Starlink G6-11 que teve lugar às 0130:50UTC do dia 27 de Agosto de 2023, sendo realizado a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Canaveral SFS, Florida, pelo foguetão Falcon 9-250 (B1080.3). O primeiro estágio foi recuperado na plataforma flutuante Just Read The Instructions, a cerca de 640 km no Oceano Atlântico.

Os satélites foram colocados numa órbita com um perigeu a 284 km, apogeu a 293 km e inclinação orbital de 43.º, numa missão que envolveu duas queimas do segundo estágio.

A constelação Starlink

SpaceX projectou a Starlink para conectar utilizadores de Internet com baixa latência, oferecer serviços de distribuição de elevada largura de banda, fornecendo uma cobertura continua em todo o mundo usando uma rede de milhares de satélites na órbita terrestre baixa, especialmente em lugares onde a conectividade é baixa ou inexistente como, por exemplo, em lugares rurais. Os satélites Starlink também darão cobertura em locais onde os serviços existentes são instáveis ou de elevado custo.

Com um desenho de painel plano contendo múltiplas antenas de alto rendimento e um único painel solar, cada satélite Starlink pesa cerca de 260 kg, permitindo à SpaceX uma produção em massa e tirar todo o proveito da capacidade de lançamento do Falcon-9. Para ajustar a posição em órbita, manter a altitude pretendida e posterior remoção orbital, os satélites Starlink possuem propulsores do tipo Hall alimentados a krípton. Sendo injectados a uma altitude de 290 km usarão este mesmo sistema para elevar as suas órbitas assim que sejam concluídas as verificações. Antes de elevar a órbita, os engenheiros da SpaceX irão realizar uma revisão de dados para garantir que todos os satélites Starlink estão a operar como pretendido.

Desenhados e construídos usando a mesma tecnologia que as cápsulas Dragon, cada satélite está equipado com Startracker que permite apontar os satélites com precisão. Nesta iteração a SpaceX incrementou a capacidade de espectro para o utilizador final mediante melhorias, permitindo uma maximização na utilização das bandas Ka e Ku. Os satélites são também capazes de detectar lixo espacial em órbita e evitar a colisão de modo autónomo.

Os satélites Starlink estão na linha da frente na mitigação de detritos em órbita, atingindo ou excedendo todas as leis padronizadas da indústria aeroespacial. No fim do ciclo de vida, os satélites irão usar a própria propulsão que têm a bordo para procederem à remoção orbital no decurso de uns poucos meses. No improvável evento da propulsão falhar, estes satélites irão queimar na atmosfera terrestre no período compreendido entre 1 a 5 anos, tempo significativamente inferior que as centenas ou milhares de anos necessários para grandes altitudes. De notar que todos os componentes estão projectados para uma total desintegração.

A Starlink oferece um serviço de Internet em zonas dos Estados Unidos da América e no Canadá ao fim de seis lançamentos, rapidamente expandindo-se para uma cobertura global nas zonas populacionais após vinte e quatro lançamentos.

Estando ainda na fase inicial de injecção orbital, os painéis solares encontram-se numa posição de baixo atrito e o conjunto dos próprios Starlinks estando ainda muito próximos uns dos outros faz com sejam muito visíveis a olho nu a partir do solo aquando da sua passagem. Quando os satélites atingem a altitude operacional, as suas orientações mudam e os satélites começam a ficar significativamente menos visíveis a partir do solo.

Durante todas as operações de voo, a SpaceX partilha dados de monitorização de alta fidelidade com outras operadoras de satélites através do 18.º esquadrão do controlo espacial da Força Aérea Americana. Adicionalmente, a SpaceX irá disponibilizar aos grupos de astronomia com informação de previsão do tipo TLE’s (two-line elements) antes de qualquer lançamento para que os astrónomos possam coordenar as observações com a passagem dos satélites.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga
2023-098 239 B1062.15 CCSFS, SLC-40 16/Jul/23 03:50:00 Starlink G5-15 (x54) F92 [v1.5 L58]
2023-102 240 B1071.10 VSFB, SLC-4E 20/Jul/23 04:09:30 Starlink G6-15 (x15) F93 [v2.0 Mini L06]
2023-105 241 B1076.6 CCSFS, SLC-40 24/Jul/23 00:50:30 Starlink G6-6 (x22) F94 [v2.0 Mini L07]
2023-107 242 B1062.15 CCSFS, SLC-40 28/Jul/23 04:01:10 Starlink G6-7 (x22) F95 [v2.0 Mini L08]
2023-113 244 B1078.4 CCSFS, SLC-40 07/Ago/23 02:41:10 Starlink G6-8 (x22) F96 [v2.0 Mini L09]
2023-115 245 B1075.5 VSFB, SLC-4E 08/Ago/23 03:37:00 Starlink G6-20 (x15) F97 [v2.0 Mini L10]
2023-119 246 B1069.9 CCSFS, SLC-40 11/Ago/23 05:17:40 Starlink G6-9 (x22) F98 [v2.0 Mini L11]
2023-122 247 B1067.13 CCSFS, SLC-40 17/Ago/23 03:36:50 Starlink G6-10 (x22) F99 [v2.0 Mini L12]
2023-124 248 B1061.15 VSFB, SLC-4E 22/Ago/23 09:37:30 Starlink G7-1 (x21) F100 [v2.0 Mini L13]
2023-129 250 B1080.3 CCSFS, SLC-40 27/Ago/23 01:30:50 Starlink G6-11 (x22) F101 [v2.0 Mini L14]

Os satélites Starlink v2.0 Mini

A missão Starlink G6-1 foi a primeira missão a transportar os satélites Starlink da próxima geração, os Starlink v2.0. De notar que a SpaceX iniciou os lançamentos em apoio da segunda geração Starlink (Starlink Gen 2) com o seu último lançamento orbital de 2022 (missões Starlink G5). Porém, estas missões utilizaram satélites Starlink v1.5 em vez dos satélites Starlink v2.0.

A SpaceX tem feito várias alterações ao desenho dos satélites de segunda geração. Os satélites lançados a 27 de Fevereiro de 2023, são uma versão reduzida dos satélites Starlink v2.0 – denominado ‘Starlink v2.0 Mini’. Na missão Starlink G6-1 foram lançados 21 satélites, isto é, menos de metade dos satélites que a SpaceX tem colocado em órbita com os satélites Starlink v1.5. Assim, a massa dos Starlink v2.0 estará entre os 750 kg e os 800 kg, que é mais do dobro da massa dos satélites Starlink v1.5 e mais de metade da massa dos satélites Starlink v2.0 que serão lançados na Starship.

Os novos satélites podem fornecer quatro vezes a capacidade dos satélites anteriores, o que apesar de haver menos satélites por lançamento, fornecem uma maior capacidade do sistema.

Os satélites Starlink v2 Mini também introduzem um novo propelente para os seus motores eléctricos, alterando a utilização de krípton para árgon.

Lançamento da missão Starlink G6-11

O rebocador contratado Signet Titan e a plataforma flutuante Just Read The Instructions deixaram o Porto de Cabo Canaveral a 20 de Agosto, com a embarcação de apoio Doug a deixar o porto de abrigo no dia seguinte.

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 12s, sendo nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.

O final da queima do primeiro estágio (MECO – Main Engine Cut-Off) ocorre a T+2m 30s, dando-se três segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio, com este a entrar em ignição a T+2m 40s (SES-1 Stage Engine Start 1).

A ejecção das duas metades da carenagem de protecção ocorre a T+3m 7s. A queima de reentrada do primeiro estágio ocorre entre T+6m 13s e T+6m 33s. A queima de aterragem ocorre entre T+8m 5s e T+8m 28s, sendo recuperado com sucesso.

O final da primeira queima do segundo estágio – (SECO-1 Second Engine Cut Off 1)  – ocorre a T+8m 44s. O segundo estágio executa uma nova queima entre T+54m 6s e T+54m 7s, com a separação dos satélites Starlink a ocorrer a T+1h 5m 15s.