A estação espacial Salyut-7 (III)

O primeiro passeio espacial por uma cosmonauta

Pioneira nas viagens espaciais tripuladas, a União Soviética habituou o mundo aos seus feitos espectaculares no espaço. Na sua maioria motivadas por razões políticas, o segundo voo espacial de Savitskaya antecipou mais uma vez o que por certo seria um feito para os Estados Unidos ao realizarem o passeio espacial por uma astronauta.

A tripulação principal da missão Soyuz T-12. Da esquerda para a direita: Igor Petrovich Volk, Svetlana Yevgenievna Savitskaya e Vladimir Alexandrovih Dzhanibekov. Imagem: Arquivo fotográfico do autor

A segunda visita aos tripulantes da terceira expedição permanente bordo da Salyut-7 inicia-se com o lançamento a 17 de Julho da cápsula 7K-ST n.º 18L que recebe a designação de Soyuz T-12 (15119 1984-073A) ao entrar em órbita terrestre. O lançamento é levado a cabo às 1740:53,945UTC por um foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 a partir da Plataforma PU-6 do Complexo de Lançamento LC31 (17P32-6) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A Soyuz T-11 é colocada numa órbita inicial com um apogeu a 225 km de altitude e um perigeu a 198 km de altitude. A acoplagem com a Salyut-7 tem lugar às 1916:35UTC do dia 18 de Julho quando os dois veículos se encontravam numa órbita com um apogeu a 354 km de altitude e um perigeu a 334 km de altitude. A acoplagem com a salyut-7 é levada a cabo numa órbita mais elevada do que é usual para uma tripulação de três cosmonautas devido à utilização do novo lançador 11A511U2 Soyuz-U2. Este lançador utilizava um propolente sintético denominado ‘sintin’ que possuía um impulso específico mais elevado do que o querosene. Infelizmente, o programa espacial não fui capaz de suportar os custos da utilização deste propolente e em meados dos anos 90 voltou a ser utilizado o lançador 11A511U Soyuz-U.

A bordo da Soyuz T-12 seguem o cosmonauta Vladimir Alexandrovich Dzhanibekov (86URSS43; 2URSS24-41; 3URSS11-18; 4URSS2-6), a cosmonauta Svetlana Yevgenievna Savitskaya (110URSS52; 2URSS33-57) e o cosmonauta Igor Petrovich Volk (143URSS58). A Soyuz T-12 utiliza a designação ‘Pamir’ como nome de código. A tripulação suplente é composta por Vladimir Vladimirovich Vasyutin; Viktor Petrovich Savinykh e Yekaterina Alexandrovna Ivanova.

Durante a curta missão da Soyuz T-12, Dzhanibekov e Savitskaya tiveram como função instruir os membros da tripulação permanente nas técnicas desenvolvidas para reparação e manutenção da Salyut-7 desde o seu lançamento. Outras tarefas levadas a cabo centraram-se nos testes na ferramenta de multiusos URI com a qual procederam ao corte, soldagem e cobertura de amostras metálicas. Foram também recolhidas amostras do ar da estação que foram posteriormente trazidas de volta para a Terra. A missão do voo de Igor Volk teve como objectivo proporcionar-lhe experiência de voo espacial em preparação para o primeiro voo tripulado do vaivém espacial soviético Buran então em desenvolvimento.

O ponto alto da missão Soyuz T-12 teve início às 1455UTC do dia 25 de Julho quando Vladimir Dzhanibekov (Orlan-D n.º 47) e Svetlana Savitskaya (Orlan-D nº 45) saem para o exterior da Salyut-7. Savitskaya abandonou a Salyut-7 em primeiro lugar enquanto que Szhanibekov permanecia na escotilha de acesso ao exterior. Após colocar o sistema de fixação dos pés, a cosmonauta utilizou o dispositivo de soldagem URI para cortar e soldar placas de titânio e aço inoxidável com uma espessura de 0,5 mm, utilizando solda de estanho e chumbo. O dispositivo URI evoluiu a partir dos dispositivos Ispratiel e Ispratiel-M, sendo testado durante voos parabólicos para simular a ausência de peso. O dispositivo é constituído por uma unidade com uma área de 0,5 m2 e com um peso de 30 kg. Esta unidade pode ser transportada por um cosmonauta ou então estar fixada sobre carris. Está ligada por um cabo a uma pistola de soldagem com um peso de 1,5 kg. Esta pistola pode ser utilizada para corte e soldagem, além de poder ser utilizada para a deposição de uma camada de metal (filme) sobre outro metal. A temperatura dos objectos era monitorizada por um termómetro de infravermelhos.

A segunda mulher a viajar no espaço tornar-se-ia na primeira mulher a realizar uma actividade extraveícular quando a 25 de Julho de 1984 realizou uma saída para o exterior da estação espacial Salyut-7 juntamente com o cosmonauta Vladimir Dzhanibekov. Imagem: Arquivo fotográfico do autor (retirada da publicação Space Flight News).

Após Savitskaya terminar o seu trabalho trocou de lugar com Dzhanibekov que por sua vez experimentou o dispositivo URI. Antes de regressarem ao interior da Salyut-7, os dois cosmonautas removeram a experiência Ekspozitsiya que se encontrava no dispositivo Medusa localizado na fuselagem da estação. A saída para o espaço terminou às 1829UTC e teve uma duração de 3 horas e 34 minutos.

Posteriormente foi revelado que os dois cosmonautas deveriam ter finalizado as reparações na unidade de propulsão da Salyut-7, dando a Savitskaya o crédito de ter salvado a estação durante a primeira actividade extraveícular feminina. Porém, a tripulação permanente exigiu que fosse ela a finalizar as reparações que havia começado.

A separação entre a Soyuz T-12 e a Salyut-7 tem lugar às 0938UTC do dia 29 de Julho transportado a bordo a sua tripulação original. A aterragem ocorre às 1255:30UTC a 140 km a Sudeste de Dzhezkazgan e após um voo com uma duração de 11 dias 19 horas 14 minutos 36 segundos.

Kizim, V. Solovyev e Atkov permanecem na Salyut-7 e a primeira semana do mês de Agosto é dedicada à preparação de mais uma actividade extraveícular que tem lugar no dia 8. Pelas 0846UTC, Kizim e V. Solovyev iniciam a sua última saída para o espaço destinada a finalizar os trabalhos de reparação no sistema de propulsão da Salyut-7. Esta saída para o espaço tem uma duração de 5 horas e termina às 1346UTC.

O cosmonauta Leonid Kizim no interior da estação espacial Salyut-7. Imagem: Arquivo fotográfico do autor

O seguinte lançamento orbital em direcção à Salyut-7 ocorre às 0628:15UTC do dia 14 de Agosto de 1984. O cargueiro Progress 7K-TG nº 124, que receberia a designação Progress-23 (15193 1984-086A) após entrar em órbita terrestre, tem com um peso de 7.020 kg e é colocado numa órbita inicial com um apogeu de 250 km de altitude e um perigeu de 186 km de altitude. O lançamento é levado a cabo pelo foguetão 11A511U Soyuz-U (711) a partir da Plataforma PU-5 do Complexo de Lançamentos LC1 (17P32-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. Este é o primeiro lançamento a partir desta plataforma desde a explosão de um foguetão 11A511U Soyuz-U a 27 de Setembro de 1983 (Soyuz T-10A). A acoplagem do cargueiro Progress-23 com a Salyut-7 (porto posterior) tem lugar às 0811UTC do dia 16 de Agosto quando os dois veículos se encontram numa órbita com um apogeu de 369 km de altitude e um perigeu de 341 km de altitude. Tal como nas missões anteriores, o Progress-23 transporta mantimentos e carga variada para os três cosmonautas tais como água, ar, oxigénio, propolente, alimentos, roupa, experiências, etc. O Progress-23 permanece acoplado à Salyut-7 até às 1613UTC do dia 26 de Agosto (num total de 10 dias 7 horas 55 minutos e 12 sesgunbdos) altura em que se dá a separação. O veículo permaneceria em órbita até às 0128UTC do dia 28 de Agosto (totalizando 3 dias 11 horas 2 minutos e 24 segundos de voo livre), altura em que são activados os seus motores e é iniciada a reentrada atmosférica que tem lugar às 0215UTC.

A missão de Kizim, V. Solovyev e Atkov a bordo da Salyut-7 ainda se prolonga por várias semanas e termina no dia 2 de Outubro quando às 0738UTC a cápsula Soyuz T-11 se separa da estação. A separação dos três módulos do veículo ocorre às 1025UTC e a aterragem dá-se às 1056:30UTC a 145 km a Sudeste de Dzhezkazgan. O voo de Kizim, V. Solovyev e Atkov teve uma duração de 236 dias 22 horas 49 minutos e 4 segundos, estabelecendo-se assim um novo recorde de permanência em órbita terrestre.

O princípio do fim da Salyut-7, 1985 – 1986

A União Soviética encontrava-se já a preparar a sua estação espacial da terceira geração quando os três cosmonautas da missão Soyuz T-10 aterraram nas estepes do Cazaquistão. A utilização da Salyut-7 aproximava-se do seu fim, mas o plano de voo para os anos de 1985 e 1986 era ambicioso. As futuras tripulações para a Salyut-7 são designadas a 1 de Setembro de 1984 e nomeadas pouco tempo depois. A nomeação de uma tripulação totalmente feminina tem lugar a Dezembro de 1984.

Data Veículo Tripulação Observações
Abril de 1985 TKS-4 Este veículo foi posteriormente lançado como Cosmos 1686.
15 de Maio de 1985 Soyuz T-13 (7K-ST n.º 19L)

EO-4

Vasyutin, Savinykh, Volkov Esta missão teria uma duração de aproximadamente 6 meses.
Novembro de 1985 Soyuz T-14 (7K-ST n.º 20L) Savitskaya, Ivanova, Dobrokvashina Missão de visita de duas semanas que deveria coincidir com o aniversário da Revolução de Outubro e que seria lançada após a separação do veículo TKS-4 e antes do regresso da tripulação da Soyuz T-13.
1986 Soyuz T-15 (7K-ST n.º 21L)

EO-5

Viktorenko, Alexandrov, Salei Última missão a visitar a Salyut-7.
 

 

Tripulação EO de reserva A.Solovyov, Serebrov, Moskalenko Tripulação de reserva de longa duração.

No início de 1985 a Salyut-7 encontrava-se em bom estado com os seus sistemas a funcionarem normalmente de forma autónoma. Nesta fase os programas espaciais das duas potências espaciais pareciam apontar para caminhos distintos. Os Estados Unidos viam-se abraços com o programa do vaivém espacial que quatro anos após o seu início ainda se encontrava longe da meta que fora prometida pela NASA. Apesar de 1985 vir a ser o ano que registaria o maior número de voos dos vaivéns espaciais, a pressão sobre o sistema iria atingir o seu ponto de ruptura em Janeiro de 1986 com o sacrifício de sete vidas e a perda de um veículo. O programa espacial soviético apontava, pelo menos de forma aparente, para Marte com a permanência cada vez mais longa dos cosmonautas soviéticos nas suas estações espaciais. No entanto, o cenário de normalidade iria mudar de uma forma que ninguém esperava e 1985 iria assistir a uma das missões mais empolgantes de sempre.

Ao lado: O cosmonauta Vladimir A. Dzhanibekov (à esquerda) e o cosmonauta Viktor P. Savinykh tripularam uma das missões espaciais mais empolgantes de sempre. Imagem: Arquivo fotográfico do autor

O registo telemétrico proveniente da Salyut-7 era perdido a 11 de Fevereiro de 1985. A Salyut-7 encontrava-se à deriva em órbita e o controlo terrestre não conseguia controlar o veículo. Da mesma forma com o sistema Igla incapaz de detectar o sinal de um veículo a se aproximar da estação, era impossível proceder a uma acoplagem com a Salyut-7 de forma a proporcionar um sistema independente de estabilização da estação para permitir que uma tripulação pudesse entrar na estação e proceder à sua reparação. A Salyut-7 parecia próxima do seu fim e assim indicavam os comunicados emitidos pelos soviéticos no princípio do mês de Março de 1985. No entanto, e após o esforço que havia sido despendido anteriormente em reparar a estação, foi decidido não abandonar a Salyut-7 e foi programada mais uma missão de reparação da estação. Esta seria a derradeira tentativa de salvar a Salyut-7 e evitar que tivesse uma reentrada atmosférica completamente descontrolada como havia acontecido com a estação espacial americana Skylab a 11 de Julho de 1979.

A tarefa de acoplar com a Salyut-7 teria de ser levada a cabo por uma tripulação única no programa espacial soviético. A selecção do Engenheiro de Voo foi relativamente simples com a nomeação do cosmonauta Viktor P. Savinykh. A nomeação do Comandante seria algo de mais complicado pois era necessário um cosmonauta com experiência a nível da acoplagem manual. Existiam três candidatos para o lugar: Yuri Vasilievich Malyshev, Vladimir Alexandrovich Dzhanibekov e Leonid Denisovich Kizim. Kizim encontrava-se na fase de reabilitação após a sua missão de longa duração e não se encontrava em condições de suportar outra missão do mesmo tipo e que se previa muito cansativa. O cosmonauta Yuri Malyshev não havia recebido treino para missões de longa duração e não havia tempo para que pudesse receber esse treino. Finalmente Dzhanibekov enfrentava as objecções dos médicos que afirmavam não estar apto fisicamente para um voo de longa duração, estando no entanto sujeito a inspecção médica. A 21de Fevereiro tem início o treino de uma tripulação constituída pelos cosmonautas Anatoli Nikolaievich Berezovoi e Viktor Petrovich Savinykh, no entanto dois dias após o início do treino os médicos notaram que Berezovoi não estava apto para uma missão de longa duração e foi decidido nomear uma nova tripulação que seria constituída por Vladimir Afanasyevich Lyakhov e Viktor P. Savinykh. Porém, esta tripulação sofreu do mesmo mal que a tripulação anterior, sendo mais uma vez decidido nomear como novo Comandante Leonid Ivanovich Popov.

A 18 de Março de 1985 Vladimir Dzhanibekov é autorizado pelos médicos a levar a cabo uma missão não superior a 100 dias e é então decidido substituir Leonid Popov por este cosmonauta que realizaria a primeira parte da missão de longa duração EO-4. Após a criação da nova tripulação foi decidido alterar os planos de voo para a Salyut-7. A missão EP-5 (totalmente feminina) permanece no plano de voo, mas a missão EO-5 é cancelada devido ao facto de não existirem disponíveis veículos Soyuz T para a sua realização. Com a nomeação de uma nova tripulação, Georgi Grechko ficou com a função de viajar até à Salyut-7 para inspeccionar os trabalhos que seriam entretanto realizados na sua reparação. No final desta missão dar-se-ia a primeira troca parcial de tripulações com Grechko a regressar à Terra juntamente com Dzhanibekov.

Assim, as novas tripulações seriam constituídas pelos cosmonautas Vladimir Vladimirovich Vasyutin e Alexander Alexandrovich Volkov (segunda fase da ocupação EO-4), tendo como tripulação suplente Alexander Stepanovich Viktorenko e Yevgeni Vladimirovich Salei.

Às 0639:52UTC do dia 6 de Junho é colocada em órbita a cápsula 7K-ST n.º 19L que recebe a designação de Soyuz T-13 (15804 1985-043A). O lançamento é levado a cabo pelo foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 (002) a partir da Plataforma PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 (17P32-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A Soyuz T-13 é colocada numa órbita inicial com um apogeu a 222 km de altitude e um perigeu a 198 km de altitude.

O voo de aproximação até à Salyut-7 tem uma duração de dois dias para se conseguir uma maior poupança a nível de combustível que seria necessário para as manobras de acoplagem. A aproximação final é levada a cabo sem o auxílio do sistema Igla, mas a missão Soyuz T-8 já havia provado que era possível se proceder a uma aproximação à estação de forma manual. Com a poupança de combustível foi possível ao controlo terrestre programar com maior precisão os parâmetros orbitais de aproximação da Soyuz T-13 e por outro lado, uma grande parte do treino da tripulação foi dedicado a esta manobra importante.

A bordo da Soyuz T-13 seguiam os cosmonautas Vladimir Alexandrovich Dzhanibekov (86URSS43; 2URSS24-41; 3URSS11-18; 4URSS2-6; 5URSS1-2) e Viktor Petrovich Savinykh (100URSS50; 2URSS34-68). A tripulação escolhe o nome de código ‘Pamir’ e tem como tripulação suplente os cosmonautas Leonid Ivanovich Popov e Alexander Pavlovich Alexandrov.

Acoplagem e entrada na Salyut-7

A Soyuz T-13 estava equipada com instrumentação adicional para facilitar a aproximação e acoplagem com a Salyut-7. Os cosmonautas tiveram o primeiro vislumbre da estação a uma distância de quase 10.000 metros. Dzhanibekov encontrava-se aos comandos da Soyuz T-13 e à medida que a estação ia crescendo em tamanho, observava cuidadosamente o seu exterior.

A estação encontrava-se com uma ligeira rotação de 0.3º/s, que felizmente era perfeitamente possível igualar com o sistema de orientação da Soyuz T-13. Este sistema de orientação havia sido modificado para incluir comandos que permitissem uma aproximação mais cuidadosa e manobra de estabilização em relação à estação. Os dois homens relatavam que a estação não era um corpo errante em órbita mas que os seus painéis solares já não seguiam o movimento do Sol, encontrando-se desfasados em 75º. Isto indicava uma falha no abastecimento de energia (o que eliminava a hipótese de ter havido uma falha nas comunicações com a estação). A estação não respondia aos sinais enviados pela Soyuz T-13, confirmando assim a falha energética.

A tripulação da Soyuz T-13 – Viktor P. Savinykh e Vladimir Dzhanibekov

A aproximação final foi levada a cabo com o auxílio de um intensificador de baixa luminosidade que permitiu aos cosmonautas distinguir o perfil da estação contra o fundo terrestre. Tendo uma ideia da orientação e posição da Salyut-7, os dois homens utilizaram também um dispositivo laser para determinar a distância e a velocidade de aproximação entre os dois veículos. Enquanto que Dzhanibekov controlava o alinhamento e a velocidade de aproximação entre a Soyuz T-13 e a Salyut-7, Savinykh referia as distâncias entre ambos e introduzia os dados no computador de bordo da Soyuz. Os dois veículos aproximaram-se a uma distância de 200 metros mantendo-se assim por alguns minutos para permitir aos cosmonautas e ao controlo da missão rever os dados antes da acoplagem. Após receber permissão do controlo da missão, a Soyuz T-13 manobrou em torno da Salyut-7 e alinhou-se com o porto de acoplagem frontal. A Soyuz T-13 entrava então numa ligeira rotação igual à da Salyut-7 e a acoplagem dava-se às 0850UTC do dia 8 de Junho quando os dois veículos se encontravam numa órbita com um apogeu a 359 km de altitude e um perigeu a 356 km de altitude.

Após se verificar a integridade da ligação entre os dois veículos os dois cosmonautas tiveram de se certificar da existência de ar no interior da estação e verificar a sua qualidade. Sem energia eléctrica não havia outra maneira de verificar senão abrir uma válvula de ligação entre os dois veículos e equalizar as pressões. Os cosmonautas verificaram assim que existia ar na Salyut-7, no entanto para testar a sua qualidade teriam de abrir a escotilha de acesso à estação e recolher uma amostra. Felizmente para ambos não foram registados quaisquer elementos tóxicos.

O ar no interior da Salyut-7 encontrava-se gelado (-10ºC) e partículas de gelo cresciam nas paredes da estação. Os dois homens envergaram roupas quentes nos primeiros dias de reparação da estação e dormiam no interior da Soyuz T-13. Uma das primeiras tarefas para os dois cosmonautas foi restabelecerem a energia eléctrica. Todas as oito baterias da Salyut-7 estavam sem energia e duas estavam mesmo inutilizáveis. Posteriormente Dzhanibekov determinou que a falha num sensor no sistema de orientação dos painéis solares levara a que fosse impossível recarregar as baterias. Este problema não foi detectado pelo controlo da missão devido a uma problema no sistema de telemetria. A incapacidade de recarregar as baterias levou a que a estação fosse consumindo a energia armazenada, desligando todos os seus sistemas e o contacto com a Terra.

A Soyuz T-13 foi utilizada para orientar os painéis solares da estação e a 10 de Junho os aquecedores do ar foram activados. O sistema de regeneração de ar da Soyuz T-13 foi utilizado para regenerar a atmosfera da estação até à altura em que o sistema da Salyut-7 foi activado. A 13 de Junho era reactivado o sistema de controlo de atitude. O sistema de aquecimento das paredes da estação só foi activado quando toda condensação se evaporou para evitar que a água pudesse entrar na instrumentação da Salyut-7. Em finais de Julho a humidade atmosférica da estação era normal.

Com o sistema de orientação de atitude já funcional era possível enviar um cargueiro para a Salyut-7. Assim, às 0039:41UTC do dia 21 de Junho de 1985 dá-se o lançamento do cargueiro Progress 7K-TG nº 125, que receberia a designação Progress-24 (15838 1985-051A) após entrar em órbita terrestre, tem com um peso de 7.020 kg e é colocado numa órbita inicial com um apogeu de 240 km de altitude e um perigeu de 190 km de altitude. O lançamento é levado a cabo por um foguetão 11A511U Soyuz-U (417) a partir da Plataforma PU-5 do Complexo de Lançamentos LC1 (17P32-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A acoplagem do cargueiro Progress-24 com a Salyut-7 (porto posterior) tem lugar às 0254UTC do dia 23 de Junho quando os dois veículos se encontram numa órbita com um apogeu de 360 km de altitude e um perigeu de 354 km de altitude. Tal como nas missões anteriores, o Progress-24 transporta mantimentos e carga variada para os três cosmonautas tais como água, ar, oxigénio, propolente, alimentos, roupa, experiências, etc. O cargueiro permanece acoplado à Salyut-7 até às 1228UTC do dia 15 de Julho altura em que se dá a separação (após permanecer acoplado durante 22 dias 9 horas 36 minutos e realizando um total de 2 dias 12 horas 14 minutos e 24 segundos). A manobra de reentrada é iniciada às 2234UTC e a reentrada atmosférica acontece às 2310UTC.

O seguinte lançamento orbital em direcção à Salyut-7 ocorre às 1305:08UTC do dia 19 de Julho. O cargueiro Progress 7K-TG nº 126 tem com um peso de 7.020 kg e é colocado numa órbita inicial com um apogeu de 246 km de altitude e um perigeu de 188 km de altitude. O lançamento é levado a cabo por um foguetão 11A511U Soyuz-U (446) a partir da Plataforma PU-5 do Complexo de Lançamentos LC1 (17P32-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur.

De cima para baixo: Vasyutin, Grechko e Volkov, sobem as escadas que dão acesso ao foguetão lançador 11A511U2 Soyuz-U2 que colocaria a Soyuz T-14 em órbita. Imagem: Arquivo fotográfico do autor

Ao contrário do que seria de esperar, a este cargueiro não foi atribuída a designação na série Progress devido a um problema que originou a perda de controlo do veículo no início da missão, sendo-lha atribuída a designação Cosmos 1669 (15918 1985-062A). A acoplagem do Cosmos 1669 com a Salyut-7 (porto posterior) tem lugar às 1503UTC do dia 21 de Julho quando os dois veículos se encontram numa órbita com um apogeu de 358 km de altitude e um perigeu de 354 km de altitude. Este veículo será o último cargueiro que tem por destino a estação Salyut-7 e está já equipado com algumas alterações para o programa de voos à estação espacial Mir.

A 2 de Agosto (0846UTC) os dois cosmonautas realizaram uma saída para o exterior da estação para adicionarem o terceiro e último par de painéis solares. Os dois cosmonautas envergaram novos fatos extraveículares semi-rígidos que haviam sido transportados para a estação pelo cargueiro Progress-24. No total Dzhanibekov e Savinykh passaram 5 horas no exterior da Salyut-7 regressando ao seu interior às 1346UTC.

Às 2151UTC do dia 28 de Agosto o Cosmos 1669 separava-se pela segunda vez da Salyut-7 (uma primeira separação havia já acontecido minutos antes para testar a fiabilidade do sistema de acoplagem) e iniciava um voo independente até às 0120UTC do dia 30 de Agosto, altura em que activa os seus motores para dar início à manobra de reentrada atmosférica que acontece às 0205UTC. No total o Cosmos 1669 permaneceu acoplado à Salyut-7 durante 38 dias 6 horas 43 minutos e 12 segundos, levando a cabo um total de 3 dias 5 horas 31 minutos e 12 segundos de voo livre.

Com a estação totalmente reactivada e com energia suficiente para poder levar a cabo as experiências militares programadas, estava na altura de se proceder a mais um lançamento tripulado para a estação. Entretanto dão-se mais alterações nos planos tripulados soviéticos com o cancelamento da tripulação constituída pelos cosmonautas Anatoli Yakovlevich Solovyov, Alexander Alexandrovich Serebrov e Nikolai Tikhonovich Moskalenko, que são transferidos para o programa de voo da nova estação espacial. A tripulação suplente da missão EP-5 é alterada para Alexander Stepanovich Viktorenko, Alexander Pavlovich Alexandrov e Vladimir Alexeievich Solovyov.

Soyuz T-14

O lançamento do veículo 7K-ST n.º 20L tem lugar às 1238:52UTC do dia 17 de Setembro de 1985. O veículo 7K-ST nº 20L é colocado numa órbita inicial com um apogeu a 223 km de altitude e um perigeu a 196 km de altitude e recebe a designação de Soyuz T-14 (16051 1985-081A). O lançamento é levado a cabo pelo foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 (007) a partir da Plataforma PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 (17P32-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur.

Ao lado: A tripulação da Soyuz T-14 – Georgi M. Grechko, Alexander A. Volkov e Vladimir V. Vasyutin. Imagem: Arquivo fotográfico do autor 

A tripulação da Soyuz T-14 é composta pelos cosmonautas Vladimir Vladimirovich Vasyutin (182URSS59) Georgi Mikhailovich Grechko (74URSS33; 2URSS18-35; 3URSS14-24) e Alexander Alexandrovich Volkov (182URSS59). A tripulação escolhe o nome de código ‘Cheget’ e tem como tripulação suplente os cosmonautas Alexander Stepanovich Viktorenko; Gennady Mikhailovich Strekalov e Yevgeni Vladimirovich Salei.

A acoplagem com a Salyut-7 ocorre às 1415UTC do dia 18 de Setembro quando os dois veículos se encontram numa órbita com um apogeu a 353 km de altitude e um perigeu a 338 km de altitude. A Soyuz T-14 transporta dois elementos da tripulação TKS-3 composta pelos cosmonautas Viktor P. Savinykh, Vladimir V. Vasyutin e Alexander A. Volkov. A missão de Georgi Grechko destina-se a inspeccionar o estado da estação e as reparações nela levadas a cabo por Dzhanibekov e Savinykh.

O regresso à Terra da Soyuz T-13 (transportando Vladimir Dzhanibekov e Georgi Grechko) inicia-se com a separação dos dois veículos às 0358UTC do dia 25 de Setembro. Antes de iniciar o regresso à Terra propriamente dito, a Soyuz T-13 leva a cabo algumas experiências de aproximação à estação sem no entanto haver acoplagem. A aterragem da Soyuz T-13 tem lugar às 0951:58UTC do dia 26 de Setembro a 220 km nordeste de Dzhezkazgan. O voo de Dzhanibekov teve uma duração de 112 dias 3 horas 7 minutos 12 segundos, enquanto que o voo de Grechko teve uma duração de 8 dias 21 horas 7 minutos 12 segundos.

Com a partida da Soyuz T-13 permanecem na estação Vasyutin, Volkov e Savinykh com o objectivo de levarem a cabo experiências militares com o módulo Cosmos 1686 / TKS-M nº 16501 (16095 1985-086A) que é colocado em órbita pelo foguetão 8K82K Proton-K (331-01). O lançamento tem lugar às 0841:42UTC a partir da plataforma PU-39 do complexo de lançamentos LC200 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. O Cosmos 1686 é colocado numa órbita inicial com um apogeu a 301 km de altitude e um perigeu a 172 km de altitude. A acoplagem entre a Salyut-7 e o Cosmos 1686 tem lugar às 1016UTC do dia 2 de Outubro quando os dois veículos se encontram numa órbita com um apogeu a 353 km de altitude e um perigeu a 336 km de altitude.

O Cosmos 1686 é um veículo TKS alterado com um conjunto de experiências militares (vários sensores ópticos, telescópio de infravermelhos e espectrómetro Ozon) colocadas na cápsula de regresso VA modificada da qual foram removidos todos os sistemas. A tripulação residente da Salyut-7 teria como função levar a cabo as experiências militares e realizar algumas saídas para o exterior da estação nas quais levariam a cabo actividades que teriam aplicação na futura estação espacial Mir. O Cosmos 1686 transportou também mais de 4.500 kg de carga incluindo o aparelho Kristallizator para proceder ao processamento de materiais em órbita.

No entanto a missão Soyuz T-14 não iria conseguir atingir os seus objectivos. A missão dos três cosmonautas deveria terminar a 16 de Março de 1986, porém em Novembro de 1985 o Comandante Vasyutin começou a mostrar sinais de doença e debilidade. Apesar de Savinykh e Volkov quererem continuar em órbita, o controlo da missão não atendeu aos seus pedidos para continuar a missão. Vasyutin e Volkov deveriam levar a cabo uma actividade extraveícular para colocarem uma estrutura na fuselagem da Salyut-7 e uma outra actividade extraveícular deveria colocar um novo painel solar na estação. Savinykh parece ter assumido o comando da estação durante o restante período de permanência em órbita antes do regresso à Terra.

A separação entre a Soyuz T-14 e a Salyut-7 teve lugar às 0716UTC do dia 21 de Novembro e a aterragem ocorre às 1031:00UTC a 180 km sudeste de Dzhezkazgan. As primeiras observações feitas a Vasyutin no local de aterragem indicaram que necessitaria de internamento hospitalar, chegando a correr rumores de algum tipo de inflamação interna.

O voo de Vasyutin e de A. Volkov teve uma duração de 64 dias 21 horas 50 minutos 24 segundos, enquanto que o voo de Savinykh teve uma duração de 168 dias 3 horas 50 minutos 24 segundos.

Seis meses após o regresso à Terra foram publicados extractos do diário de Savinykh nos quais o cosmonauta relata o esgotamento de Vasyutin e o final da missão: “Tudo começou quando observamos uma ligeira alteração no comportamento de Volodya Vasyutin. Havia uma perda de sono e apetite. Pensamos que tinha tudo a ver com o seu estado de espírito – acontece a todos nós. Tentamos animá-lo dizendo piadas e dando conselhos. Mas ele adoeceu. Volodya queria superar tudo, mas cada vez se tornava mais difícil para ele.” Pela descrição dada por Savinykh torna-se evidente que Vasyutin sofreu um esgotamento psicológico devido a um problema relacionado com uma infecção que lhe provocava intensas dores e febres a 40ºC. Posteriormente foi revelado que Vasyutin já se encontrava doente antes do lançamento mas que escondera a sua situação dos médicos.

Com a Salyut-7 agora sem qualquer tripulação regressam os problemas que fazem com que a missão EP-5 totalmente tripulada por cosmonauta femininas seja cancelada. Era urgente colocar em órbita a nova estação espacial, antecipando assim um programa cujos alguns elementos ainda não se encontravam completos. Com a existência de trabalhos por finalizar na Salyut-7 foi decidido organizar uma expedição não prevista que visitasse a velha estação naquele que é até hoje o único voo espacial entre duas estações espaciais.

Uma nova era

A 25 de Novembro de 1985 são nomeadas duas novas tripulações que teriam como função activar a nova estação espacial e finalizar os trabalhos na estação Salyut-7. A tripulação principal é constituída pelos cosmonautas Leonid Denisovich Kizim e Vladimir Alexeievich Solovyov, enquanto que a tripulação suplente é composta pelos cosmonautas Alexander Stepanovich Viktorenko e Alexander Pavlovich Alexandrov. O cosmonauta Anatoli Yakovlevich Solovyov faz parte de uma tripulação de reserva.

A data de Setembro de 1984 é indicada como a possível data de formação do grupo de cosmonautas para a primeira missão à nova estação espacial Mir. Este grupo é constituído por Alexander Alexandrovich Serebrov, Yuri Vasilievich Malyshev e Musa Khiramanovich Manarov. Em Setembro de 1985 são nomeadas as seguintes tripulaçõespara a primeira missão de longa duração (EO-1) à estação espacial Mir: Vladimir Georgievich Titov e Alexander Alexandrovich Serebrov (tripulação principal), Yuri Viktorovich Romanenko e Alexander Ivanovich Laveikhin (tripulação suplente). Devido à necessidade de se proceder a uma expedição suplementar à Salyut-7, estas tripulações são transferidas para a missão EO-2 à estação espacial Mir, sendo então nomeadas novas tripulações a 25 de Novembro de 1985.

O lançamento da estação espacial Mir (DOS 17KS-12701) teve lugar às 2129UTC do dia 19 de Fevereiro de 1986. Um foguetão 8K82K Proton-K (337-01) foi lançado desde a Plataforma PU-39 do Complexo LC200 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur, tendo colocado a Mir numa órbita inicial com um apogeu a 301 km de altitude e um perigeu a 172 km de altitude. Posteriormente a estação alcançou uma órbita operacional a 6 de Março com um apogeu a 395 km de altitude, um perigeu a 387 km de altitude e uma inclinação orbital de 51,6.º em relação ao equador terrestre.

A primeira tripulação a visitar a Mir foi lançada às 1233:09UTC do dia 13 de Março. A cápsula Soyuz 7K-ST nº 21L foi colocada numa órbita inicial com um apogeu a 238 km de altitude e um perigeu a 193 km de altitude. O lançamento foi levado a cabo pelo foguetão 11A511U2 Soyuz U-2 (012) a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5). Após entrar em órbita terrestre o veículo recebeu a designação Soyuz T-15 (16643 1986-022A). A bordo seguiam os cosmonautas Leonid Denisovich Kizim (98URSS48; 2URSS31-35; 3URSS15-28) e Vladimir Alexeievich Solovyov (136URSS56; 2URSS35-83) que tinham como nome de código “Mayak”. A tripulação suplente era composta pelos cosmonautas Alexander Stepanovich Viktorenko; Alexander Pavlovich Alexandrov.

A Soyuz T-15 acoplou com o porto frontal da Mir às 1338UTC do dia 15 de Março quando os dois veículos se encontravam numa órbita com um apogeu a 339 km de altitude e um perigeu a 332 km de altitude. Os dois homens permaneceram na estação por várias semanas realizando estudos e experiências científicas e tecnológicas. A 17 de Abril a Mir levava a cabo uma manobra para se aproximar da Salyut-7 que na altura se encontrava a mais de 4.000 km de distância. Uma manobra semelhante seria realizada a 4 de Maio. Às 1212UTC do dia 5 de Maio a Soyuz T-15 separava-se da Mir (que se encontrava numa órbita com um apogeu a 345 km de altitude e um perigeu a 310 km de altitude) e iniciava a primeira viagem entre duas estações espaciais, acoplando com a Salyut-7 às 1657UTC do dia 6 de Maio quando os dois veículos se encontravam numa órbita com um apogeu a 343 km de altitude e um perigeu a 335 km de altitude.

Após a acoplagem os dois homens começaram por reactivar os sistemas da Salyut-7, verificando também o seu estado geral. Umas das tarefas principais que Kizim e V. Solovyov teriam de levar a cabo na Salyut-7 seriam a realização de duas actividades extraveículares para finalizar o programa de experiências da tripulação anterior. A primeira destas actividades extraveículares teve início às 0443UTC do dia 28 de Maio. Kizim (envergando o fato extraveícular Orlan-D n.º 10) e V. Solovyov (envergando o fato extraveícular Orlan-D n.º 8) removeram e armazenaram no interior do compartimento de transferência da estação dispositivos utilizados para expor os materiais às condições espaciais e o colector fanco-soviético de micrometeoritos que havia sido colocado no exterior da Salyut-7 em Agosto de 1985. Os dispositivos de exposição incluíam o dispositivo Spiral, para o estudo dos efeitos das condições espaciais sobre os cabos eléctricos; o dispositivo Istok, que procurou estudar as alterações nos sistemas de conexão por rosca (porcas e parafusos) provocadas pela exposição espacial; o dispositivo Resurs, que estudou os efeitos espaciais em diversos materiais; e o dispositivo Meduza, que estudou os efeitos espaciais nos biopolímeros.

Os dois cosmonautas montaram o cilindro URS com um peso de 150 kg na fuselagem da estação e junto à escotilha de acesso ao exterior. Sobre este cilindro foi montada uma estrutura metálica com um peso de 20 kg e um comprimento de 12 metros a 15 metros utilizando dobradiças e molas. O URS foi desenhado e construído pelo Instituto Paton de Soldagem Eléctrica localizado em Kiev, que já anteriormente havia desenvolvido o dispositivo de soldagem URI utilizado por Svetlana Savitskaya na sua actividade extraveícular. Ao contrário da estrutura EASE e ACCESS montada pelos astronautas americanos na missão STS-61B pelo vaivém espacial OV-104 Atlantis, o URI era uma estrutura desdobrável. O comprimento do URS poderia ser aumentado até mais de 1.000 metros ao se adicionar mais componentes. O cosmonauta Kizim operou o sistema de comandos que fez desdobrar a estrutura e posteriormente percorreu metade do seu comprimento achando-a resistente e com oscilações de alguns centímetros.

O cosmonauta Leonid Kizim ajusta a viseira solar do seu capacete durante a segunda saída para o espaço levada a cabo desde a Salyut-7 na missão Soyuz T-15. Imagem: Arquivo fotográfico do autor

No topo do URS estava colocado o dispositivo Fon fabricado pelo Instituto Politécnico de Leningrado. Este dispositivo, com um peso de 3 kg, teve como função analisar o ambiente espacial em torno da Salyut-7.

Os cosmonautas procederam também à montagem do sistema de comunicações utilizando luz visível BOSS, durante um trabalho que foi televisionado para a televisão soviética. Esta actividade extraveícular terminou às 0833UTC após permanecerem 3 horas 50 minutos no exterior.

A segunda actividade extraveícular teve início às 0457UTC do dia 31 de Maio. Os dois cosmonautas começaram por estender a estrutura URS e posteriormente utilizaram o sistema BOSS para transmitirem dados sobre a estabilidade da estrutura a partir de instrumentos colocados no topo do URS. Estes instrumentos incluíam um pequeno sismógrafo construído pelo Instituto de Pesquisa Científica e Geofísica para detectar vibrações de baixa frequência no qual uma câmara detectava vibrações de alta-frequência ao filmar os movimentos de uma pequena luz cor de laranja colocada no URS. Posteriormente Kizim e V. Solovyov fizeram com que a estrutura se torna-se mais rígida ao soldarem algumas partes desta com o dispositivo URI. Após desmantelaram a estrutura, os dois cosmonautas estudaram as reacções de uma liga de alumínio e magnésio às cargas estruturais num ambiente espacial. No final da actividade extraveícular, os dois cosmonautas recolheram uma amostra de células solares que havia sido deixada no exterior da Salyut-7 pelos cosmonautas Savinyhk e Dzhanibekov em Agosto de 1985.

Os dois homens regressaram ao interior da Salyut-7 às 0937UTC após uma actividade extraveícular com uma duração de 4 horas e 40 minutos.

Nos restantes dias da sua permanência na Salyut-7 os dois homens removeram 20 instrumentos com uma massa total de 400 kg e colocaram-nos a bordo da Soyuz T-15. Às 1458UTC do dia 25 de Junho a Soyuz T-15 separa-se da Salyut-7 e inicia a viagem de regresso à Mir com a qual acopla às 1946UTC do dia 26 de Junho.

A 17 de Agosto os controladores soviéticos iniciam uma série de manobras utilizando os motores do Cosmos 1686 para elevar a órbita da Salyut-7. Encontrando-se numa órbita com um apogeu a 333 km de altitude e um perigeu a 331 km de altitude, a estação fica colocada numa órbita circular a 475 km de altitude. Nesta fase existiam planos para uma posterior visita à Salyut-7 mas tal nunca vem a acontecer devido à situação deteriorante económica da União Soviética. Os efeitos da atmosfera rarefeita sobre a órbita da estação vão aumentando com o passar dos anos e a sua altitude orbital vai diminuindo. Finalmente às 0325UTC do dia 7 de Fevereiro de 1991 a estação reentra na atmosfera terrestre. Tanto a Salyut-7 como o Cosmos 1686 são destruídos pela fricção atmosférica mas alguns destroços atingem a superfície terrestre caindo na Argentina e no Chile.

 

Bibiografia:

– “Soyuz – A Universal Spacecraft”; Rex D. Hall, David J. Shayler – Springer-Praxis, 2003

– “Almanac of Soviet Manned Space Flight”; Dennis Newkirk – Gulf Publishing Company, 1990

– “Disasters and Accidentes in Manned Space Flight”; David J. Shayler – Springer-Praxis, 2000

– “The Soviet Cosmonaut Team”; Gordon R. Cooper – GBH Publications, 1986 / 1990

Fontes na Internet:

Encyclopedia Astronauticawww.astronautix.com

Zaryawww.zarya.info/index.htm

rka-statisticswww.rka-statistics.com

Russian Space Webhttp://www.russianspaceweb.com